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Um menino na arquibancada do Maracanã, 1950

Mauricio Stycer

19/10/2010 14h50

O nome de José Medeiros (1921-1990) integra qualquer antologia sobre o fotojornalismo brasileiro. Nascido no Piauí, mudou-se para o Rio aos 18 anos. Entre 1946 e 62, na revista "O Cruzeiro", registrou as mais diversas caras do Brasil. São antológicas suas imagens dos índios no Xingu, do Candomblé, do Carnaval, do high society carioca, entre outros temas que abordou.

Medeiros também fotografou o universo do futebol. Uma de suas imagens célebres é a que ilustra este texto. Mostra um menino na arquibancada do Maracanã, em 16 de julho de 1950. Neste dia, Brasil e Uruguai disputaram a final da Copa do Mundo, vencida pelos visitantes por 2 a 1.

Como tudo que diz respeito ao que aconteceu naquele jogo, há controvérsias sobre o público total no estádio. Reza a lenda que foram mais de 200 mil pessoas, o que faz da final de 1950 a recordista do Maracanã. A Fifa registra em seu site o número de 173.850 espectadores, ainda assim suficiente para deixar o estádio como lata de sardinha.

É justamente este fato que sempre me intrigou na foto de Medeiros. Como é possível haver tanto espaço livre ao redor do menino no centro da imagem? Todos os registros existentes sobre a final da Copa de 1950, inclusive outros feitos por Medeiros, mostram um Maracanã apinhado, sem lugar para abrir um braço.

Talvez Medeiros tenha chegado muito cedo e feito esta foto antes do estádio lotar. O menino, assim, estaria olhando para o gramado, vendo alguma coisa que aconteceu bem antes de a partida começar. Ou procurando localizar o pai, que saiu em busca de um sorvete ou refrigerante. Ou acompanhando algum incidente. E quem será este menino? São questões que já pesquisei, mas não encontrei resposta. Será que importa?

A foto pode ser vista atualmente em grande formato na galeria do cinema Unibanco Artplex, no shopping Frei Caneca, em São Paulo. Ela integra uma exposição, com entrada franca, de 22 imagens do acervo do Instituto Moreira Salles sobre o universo do futebol. Há também registros de Thomaz Farkas, Marcel Gautherot, Alice Brill, Hildegard Rosenthal, Juca Martins e Carlos Moskovics.

A foto também está publicada em pelo menos dois livros, o magnífico "Olho da Rua" (Aprazível Edições, 2005), organizado por Leonel Kaz, que reúne o melhor da produção de Medeiros, e "Cinefotorama" (Instituto Moreira Salles, 2009), com seus registros sobre o Rio de Janeiro. O IMS, aliás, adquiriu há alguns anos o acervo de quase 20 mil imagens de Medeiros.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.