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Depois de prólogo vertiginoso, “Avenida Brasil” encara o desafio de, finalmente, começar

Mauricio Stycer

04/04/2012 06h01

Por uma semana, o espectador pensou estar vendo "Avenida Brasil". Na realidade, estava assistindo a uma espécie de prólogo, passado em 1999, preparatório para a novela que começou, de fato, no final do capítulo de segunda-feira.

Nos primeiros seis capítulos e meio, João Emanuel Carneiro promoveu um festival de acontecimentos e exageros poucas vezes visto de forma tão vertiginosa numa novela.

Apresentou uma vilã, Carminha (Adriana Esteves), cujos feitos em uma única semana superam os de qualquer outra bruxa das telenovelas. Com o amante Max (Marcelo Novaes), ela planejou um golpe para roubar as economias do marido, Genésio (Tony Ramos), que morreu em seguida atropelado por um jogador de futebol, Tufão (Murilo Benicio).

Depois, Carminha enganou Ritinha (Mel Maia), filha de Genésio, arrancou o dinheiro das mãos da menina e a internou num lixão. Aí, ajudada por várias peças do destino, deu a volta em Tufão, casou com o craque e ainda o convenceu a adotar a filha que carregava na barriga. Não bastasse, ainda trouxe para dentro de casa, sem explicar como, o próprio filho, Batata (Renato Simões), que vivia no mesmo lixão que Ritinha.

"Eu tô me sacrificando pra tu não passar o resto da vida comendo ovo amarelo em boteco, tá?", diz Carminha a Max. Na maternidade, ao ver que o bebê que acabou de dar à luz é uma menina, a megera faz cara feia e a rejeita. Um fenômeno.

Para não deixar todo o peso nas mãos de Carminha, João Emanuel levou o público às lágrimas com uma série de cenas dramáticas no Reino Encantado do Lixão (veja, que beleza, na foto ao lado). A pequena Ritinha, largada lá pela bruxa e seu parceiro de crimes, passou maus bocados na mão do temível Nilo (José de Abreu), que explorava uma dezena de criancinhas, mas foi salva pela bondosa Lucinda (Vera Holtz) e viveu um conto de fadas com Batata. Teve até casamento no lixão.

Para aliviar esta barra pesadíssima, João Emanuel nos apresentou às estripulias de Cadinho e suas Três Mulheres. O personagem de Alexandre Borges era casado com Verônica (Deborah Bloch) e Noêmia (Camila Morgado), mas conheceu Alexia (Carolina Ferraz) e também se apaixonou por ela. Tem filhos com as três, neste enredo com cara de seriado cômico da própria Globo.

Quase todos os personagens da trama, moradores do fictício bairro do Divino, na zona norte do Rio, se cruzaram neste prólogo. Monalisa (Heloisa Perissé), namorada de Tufão, estava grávida de um filho dele, mas o perdeu num acidente de ônibus. Em compensação, ficou rica, ao abrir, em sociedade com a irmã do jogador, Ivana (Letícia Isnard), um salão especializado em alisamento de cabelos. "Viva o subúrbio! É lá que tá o futuro", disse Cadinho.  Ivana, claro, casou-se com Max sem saber que ele é amante de Carminha.

E no sétimo capítulo, ao chegar a 2012, "Avenida Brasil" finalmente nos apresentou aos protagonistas da trama, Jorginho (Cauã Raymond), ex-Batata, e Nina (Débora Falabella), ex-Ritinha, cujos caminhos certamente vão se cruzar.

Carminha continua uma bruxa de primeira. "Filha, você já não é bonita. Ainda bota um vestido horroroso desses. Você tá querendo o quê? Se acabar de vez? Me envergonhar? Você tá parecendo uma bisnaga de padaria dentro de um saco de papel", diz para a pré-adolescente.

A melhor surpresa de todas, neste mundo exagerado de "Avenida Brasil", foi ouvir "Don´t Think Twice, It´s Allright", belíssima e delicada canção de Bob Dylan, escolhida como música-tema de Nina.

Resta ver se depois deste prólogo de causar vertigem, João Emanuel Carneiro vai conseguir manter "Avenida Brasil" no mesmo ritmo. E se o público vai aguentar tantos sacolejos por mais 170 capítulos.

Leia mais notícias, fotos e spoilers sobre "Avenida Brasil" no site especial do UOL, aqui. Meu texto sobre o primeiro capítulo da novela está aqui.

Fotos: Divulgação/TV Globo

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.