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Lauro Cesar Muniz vê “Máscaras” como “equívoco” e “pesadelo”

Mauricio Stycer

19/05/2012 06h01

A frustração com "Máscaras", novela que a Record estreou em 10 de abril, não é apenas do público e da direção da emissora. O próprio autor, Lauro Cesar Muniz, tem se manifestado criticamente sobre o seu trabalho. De forma corajosa, ele já chama a novela de um "pesadelo".

Enquanto os espectadores se afastam e os executivos da Record quebram a cabeça pensando em como recuperar a audiência perdida no horário, Muniz tem dado algumas pistas sobre as causas do insucesso.

Em duas entrevistas que deu nos últimos 30 dias, uma para o site da própria Record e outra para um blog independente, o autor tratou abertamente dos problemas da novela.

Em 19 de abril, questionado sobre a baixa audiência dos primeiros dias, Muniz deu a seguinte explicação:

É uma novela com temas muito fortes: depressão pós-parto (DPP), um sequestro com bebês envolvidos, uma garota morrendo com câncer, uma festa de descasamento. Não acenei para a alegria e a felicidade. Fui radical e estou pagando por isso.

Provocado a culpar o público pelos baixos números da novela, o autor preferiu responsabilizar as novelas concorrentes:

O público gosta de novidades, mas tantas foram as novelas de fácil comunicação, esquemáticas, simples demais, que os telespectadores tomaram o formato como padrão. Todos parecem querer ver a mesma coisa sempre, mudando um pouco a história mas mantendo sempre o maniqueísmo. Há exceções, claro. Mas não pesam pela avalanche de histórias simples demais. 'Máscaras' está contra a corrente dos mais acomodados,  está mexendo um pouco com o universo dos telespectadores. É bom que isso aconteça, mas nós temos que ter paciência.

Indagado se tinha planos de mudar alguma coisa, ele disse:

Eu já ultrapassei o capítulo 40. Não vou mexer em nada até aí. Seria desorganizar uma história que está bem amarrada. A novela vai reagir. Calculo umas duas semanas ainda.

Quase um mês depois, em 16 de maio, sem que a audiência da novela tenha melhorado, mas sim piorado, Muniz deu outra entrevista e explicações diferentes, ainda mais francas. Frustrado com o próprio trabalho, o autor disse:

Eu acho que me empolguei demais em criar uma trama policial cheia de mistérios e cometi o grave erro de abrir esses mistérios sem fechá-los em pouco tempo. Isso deu a sensação de trama sem clareza. No ar, a maioria das respostas está sendo dada, mas talvez seja tarde. O público tem pressa. Como eu não tinha quando escrevi – a novela ainda não estava no ar – eu perdi essa perspectiva. Foi o erro mais grave que eu cometi.

Fez uma crítica, também, à direção de "Mascaras":

Meus diálogos são simples e realistas. Se dão a alguns a impressão de serem "literários" (no mau sentido) é porque a direção da novela se equivocou no tom, dando aos atores certa solenidade. Por mais que eu alertasse, no início, não obtive a atenção dos diretores, pois estavam envolvidos com uma gravação dificílima em um navio. Ao voltar havia um atraso considerável e as reuniões não sanaram este problema.

No trecho mais forte da entrevista, Lauro Cesar Muniz reconheceu o seu "equívoco" e tratou de "Máscaras" como um pesadelo.

Não me sinto injustiçado, não. Ao contrário me sinto "justiçado" – cometi um erro grave e estou pagando por isso. É uma pena que eu tenha errado em minha última novela. "Máscaras" vai para meu rol de equívocos como "Os Gigantes".  Eu gostaria de acordar desse pesadelo.

Em tempo: A entrevista ao R7 pode ser lida aqui  e ao blog Posso Contar Contigo? está aqui.

Outras sugestões de leitura: A entrevista de Lauro Cesar Muniz ao programa "UOL Vê TV" está aqui. Ricardo Feltrin comenta sobre a perda de audiência de "Máscaras" aqui. E Flavio Ricco fala do risco de a novela ser encurtada aqui.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.