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Fracassos ensinam que televisão não é ciência

Mauricio Stycer

12/06/2012 12h35

Vejo uma certa arrogância no comportamento tanto de quem faz televisão quanto de quem escreve ou fala a respeito, entre os quais me incluo. Autores, diretores e produtores olham com certo desdém para quem comenta, enquanto são vistos frequentemente como pessoas desorientadas, necessitadas de bons conselhos.

Fracassos retumbantes, como a novela "Máscaras", da Record, e o humorístico "Saturday Night Live", da RedeTV!, talvez ajudem a redimensionar o papel tanto de quem faz quanto o de quem comenta sobre TV.

Não vou discutir aqui sobre as razões do insucesso destes dois programas, que custaram esforço às emissoras, mereceram investimento dos patrocinadores, mas não agradaram ao público. Poderíamos falar horas sobre isso.

Prometo voltar ao assunto. Hoje quero apenas chamar a atenção para um aspecto: o sucesso em televisão não é científico. O imponderável e o imprevisto atuam neste processo tanto quanto as fórmulas de sucesso já testadas.

O fracasso está associado a erros, claro. Mas há muitos sucessos repletos de "erros" também. A novela "Fina Estampa", da Globo, é um exemplo. Desconfio, por isso, de quem afirma, categoricamente, que "o erro foi esse" ou "aquele".

Record e RedeTV! estão às voltas, neste momento, com a tarefa de salvar os seus investimentos em "Máscaras" e no "SNL". Flavio Ricco trata de ambos em sua coluna de hoje. Diz que a novela será encurtada e o humorístico vai apostar num humor mais popular.

As duas soluções vão descaracterizar as propostas originais. Pode ser que funcionem. Ou não.

Atualizado às 21h15: Como alguns leitores observaram, não especulei neste texto sobre as razões dos fracassos dos dois programas. Apenas quis chamar a atenção para o fato de que, apesar do esforço e investimento que um programa pode merecer, nada garante o seu sucesso. Para quem quiser se aprofundar sobre os casos específicos, sugiro duas leituras.  Sobre a novela, um comentário do próprio autor: Lauro Cesar Muniz vê "Máscaras" como "equívoco" e "pesadelo". E minhas primeiras impressões sobre o SNL: "Saturday Night Live" estreia com piadas sobre Xuxa, "Pânico" e a própria RedeTV!

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.