Topo

“Joia Rara” tem sido a novela que o seu título anuncia

Mauricio Stycer

25/09/2013 03h06

A novela encheu os olhos com um conjunto de qualidades que parecia esquecido: elenco bem escalado, ótimo texto, direção de verdade e padrão de cinema. Escrevi essas palavras ao final do segundo capítulo de "Cordel Encantado", em 2011, mas elas servem também para "Joia Rara", uma novela, em todos os aspectos, especial.

A nova história das 18h, não por acaso, é de autoria da mesma dupla, Duca Rachid e Thelma Guedes, tem a mesma diretora, Amora Mautner, e conta com boa parte do ótimo elenco (Bianca Bin, Bruno Gagliasso, Carmo Dalla Vecchia, Domingos Montagner, Nathalia Dill, Marcos Caruso) de "Cordel Encantado".

Algumas novidades merecem destaque. Em primeiro lugar, a história. No lugar da mistura de literatura de cordel, misticismo religioso, cultura popular e tradição europeia, que resultou no "Cordel Encantado", agora é a vez de uma história de amor impossível ambientada em um dos momentos políticos mais ricos e conturbados da história do Brasil, os anos 30 e 40, sob Getúlio Vargas e a Segunda Guerra Mundial.

Depois de sete capítulos, "Joia Rara" já deixou claro que o pano de fundo político é mais que um elemento decorativo (ou mesmo alegórico, como foi em "Cordel Encantado") da trama. Posso estar enganado, mas o conflito entre comunistas e integralistas, operários e patrões, o governo Vargas e parte da elite econômica, é algo que caminha junto e dá liga à dolorosa história de amor entre o filho do joalheiro e a irmã do líder sindical.

O budismo entra como um elemento complementar, aparentemente, na história. Até o momento, as autoras têm tratado do assunto com didatismo, mas em chave de curiosidade, não de propaganda ou como algo que oriente o caminho dos personagens.

Outro aspecto na novela que está me chamando a atenção é a intensidade com que a história vem sendo contada. Alguém que tenha perdido um bloco de um capítulo nestes primeiros dias pode ficar sem entender algum desdobramento. Interessante, mas não natural, este ritmo de "Joia Rara" me parece destinado a capturar o espectador que andava sem paciência para novelas do horário.

Os papéis mais difíceis e, acho, ainda em processo de composição, são os dos dois vilões, vividos por José de Abreu (Ernest Hauser) e Carmo Dalla Vecchia (o filho bastardo Manfred, ao lado), e o do herói, encarnado por Domingos Montagner (o líder sindical Mundo, acima). Bruno Gagliasso, como o milionário Franz Hauser, e Bianca Bin, no papel de Amélia, a operária ingênua, encontraram mais rápido o tom que a combinação de tema e horário da novela exigem.

"Joia Rara" tem sido, até o momento, exatamente o que o seu título diz. Espero que os números iniciais de audiência, abaixo da expectativa, não levem a uma mudança de rota muito radical.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.