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Globo promove a próxima novela das 18h com erro de português no título

Mauricio Stycer

06/01/2016 19h37

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"Êta Mundo Bom" só estreia no próximo dia 18, mas já está provocando uma discussão. Que motivos levaram a Globo a colocar acento na palavra 'eta', no título da novela? A interjeição é citada sem acento nos dicionários Houaiss e Aurélio bem como no Vocabulário Oficial da Língua Portuguesa.

A professora Edna Perrotti foi quem primeiro me chamou a atenção para o problema. Autora do livro "Superdicas Para Escrever Bem Diferentes Tipos de Texto", ela me escreveu dizendo que nenhuma regra estabelece o uso do acento circunflexo em "eta".

etamundobomchamada1"De fato, nenhum dicionário registra (nem poderia registrar) 'êta'. O VOLP também não acolhe o erro", confirmou Pasquale Cipro Neto, colunista da "Folha", especialista no assunto.

"Não há motivo algum para o acento em 'eta', que não passa de uma paroxítona terminada em 'a', como tantas outras, que, pela mesma razão, não levam acento (cara, bola, xepa, tropa, cera, anta, casa, mesa etc., etc., etc.). Com a terminação 'a' são acentuadas as oxítonas", explicou.

O professor Pasquale foi além, alertando para o risco de o erro se propagar: "As pessoas adoram colocar acentos indevidos, sobretudo em determinadas palavras cuja vogal tônica tem timbre fechado. A veiculação dessa grafia certamente aumentará essa vontade e dará 'legitimidade' a ela."

Questionei o autor da novela, Walcyr Carrasco, que respondeu: "O logo da novela foi criado pelo departamento de publicidade da Globo". Procurada na noite de terça-feira (05), a emissora demorou 24 horas para reconhecer o erro e responder isso: "Foi uma liberdade artística para reforçar o acento caipira, já que o nosso personagem principal é Candinho."

No vídeo abaixo, reproduzido de uma entrevista que Carrasco deu ao UOL Vê TV em outubro, o autor fala sobre a novela, explicando por que trocou o título original, "Candinho", para o atual e detalha alguns aspectos da história, como a homenagem a Mazzaropi (1912-1981).

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.