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Corajoso, Tá no Ar segue rindo da Globo, dos telepastores e da concorrência

Mauricio Stycer

20/01/2016 05h01

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A estreia da terceira temporada do "Tá no Ar", nesta terça-feira (19), só merece aplausos. Em tempos de intolerância e excesso de sensibilidade, é preciso tirar o chapéu para um programa que segue com a mesma disposição e coragem de colocar o dedo em tantas feridas.

O humorístico de Mauricio Farias, Marcius Melhem e Marcelo Adnet mostrou, mais uma vez, que não vai aliviar para ninguém em 2016. O seu raio de alcance segue aberto e democrático – começando pela própria Globo, que o exibe, passando pelos concorrentes, pelo mercado publicitário e pelos telepastores que ocupam a grade de várias emissoras.

O jornalismo da Globo, cada vez mais informal e descontraído, foi a vítima da primeira piada – o "Montanha Russa News", um telejornal apresentado dentro de um parque de diversões. O canal Viva virou "Viva um Drama", com suas reprises de novela narradas por Galvão Bueno: "Matar vilão de novela é bom, matar Odete Roitman é muito mais gostoso".

O Militante Revoltado – personagem ambíguo, que diz "verdades" sobre a Globo em chave de caricatura – reapareceu para dizer que a emissora "afogou" a TV Tupi e que o "o único protagonista índio" em uma novela da casa foi o "loiro, gaúcho" Claudio Heinrich (em "Uga-Uga").

tanoarquartetofanaticoOs programas de pastores evangélicos foram lembrados em "Quarteto Fanático", um esquete no qual quatro fieis de uma igreja se tornam super-heróis. "Contra qualquer tipo de vício, a favor da família tradicional, pelo fim das seitas do diabo".

João Kleber foi alvo da sátira mais explícita e, no fundo, mais carinhosa – o programa "Te Prendi na TV", apresentado por Adnet, em torno do mistério sobre o que havia dentro de uma caixa (spoiler: uma outra caixa).

tanoarclipeAo final, como já é praxe, uma música conhecida foi recriada e transformada em clipe. No caso, o samba "O que É, o que É", de Gonzaguinha, virou um manifesto demolidor sobre o "jeitinho" do brasileiro que bate panelas contra a corrupção, mas "molha" a mão do guarda que o multou e faz "gato" na TV a cabo.

Qualquer programa que se proponha a rir da televisão sabe que está caminhando em campo minado – no fundo, ele está debochando do próprio espectador. "Tá no Ar – A TV Na TV" não é o primeiro nem, espero, o último a fazer isso, mas o fato de chegar à terceira temporada merece ser festejado.

A abertura lembrou "cinco críticas" que o programa recebe: A saber: "1. Minha avó não entende; 2. É rápido demais; 3. Passa muito tarde; 4. Tem mania de mexer com religião; 5. É só pro povo da internet". Eu acrescentaria uma sexta: É muito curto.

Audiência: "Tá no Ar" marcou 14 pontos no Ibope em São Paulo na estreia (cada ponto equivale a 69,4 mil residências). Foi a mesma audiência alcançada pelo primeiro programa da segunda temporada, em 2015. Já em 2014, ao ser lançado, o humorístico registrou 12.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.