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Com júri previsível, “X Factor” esbanja choro e exibe pouco talento musical

Mauricio Stycer

30/08/2016 00h12

xfactorbrasiljuriLançado na Inglaterra em 2004, com versões em três dezenas de países e já exibido em mais de uma centena de TVs no mundo todo, o "X Factor" chega ao Brasil com uma fórmula bastante conhecida. Quatro jurados, com personalidades diferentes, divertem o público com seus comentários sobre os candidatos que possuem, ou não, o tal "algo a mais", o "fator X".

O produtor Rick Bonadio, já escolado por participações em júris de meia dúzia de shows de talentos, é o "bad cop", o policial mau, do programa lançado pela Band em coprodução com a TNT e a Fremantle. Diz "verdades". "Tá muito desafinado. E não é um. Os quatro estão desafinados", comentou sobre um grupo de jovens cantores.

Os outros três, Alinne Rosa, Di Ferrero e Paulo Miklos, ao menos na estreia, nesta segunda-feira (29), se mostraram mais bonzinhos e compreensivos. E mais propensos e divagar.

"Achei esse lance interessante", disse o cantor do NX Zero sobre uma candidata. "Você nem sabe por que está aqui. A gente também não sabe", observou o ex-Titãs sobre outra. "Chupa, Rick", disse a cantora de axé depois que uma candidata ganhou três "sim" e foi aprovada apesar do "não" do produtor musical.

O "X Factor" começou com uma imagem externa da apresentadora Fernanda Paes Leme em meio a candidatos que participaram da seleção. Ela fez questão de lembrar que o programa teve "mais de 30 mil inscritos", mas não fez nenhuma menção ao show de horror ocorrido na seleção. A enorme desorganização deixou candidatos por mais de 14 horas em filas, em pé, sem acesso a banheiros ou mesmo água, passando frio.

A falta de transparência se repetiu na ausência de explicações sobre os critérios que levaram os pré-selecionados a participar do primeiro programa. Como foi a seleção em meio a 30 mil? Quantos foram escolhidos? Quem os selecionou?

Muito editado, o "X Factor" não esconde que a apresentação dos candidatos é fruto de audições variadas. Os jurados apareceram em cena com pelo menos três figurinos diferentes.

Com uma ou outra exceção, o nível dos candidatos na estreia deixou a desejar. Teve muito choro, excesso de palavras de incentivo da simpática apresentadora e desafinação em quantidades industriais. Faltou talento e, mais importante, surpresa. "X Factor" demorou tanto a ganhar uma edição brasileira que chegou por aqui com cara de velho.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.