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Repaginado, programa de Adnet busca inspiração no Zorra e no Comédia MTV

Mauricio Stycer

26/10/2017 05h01


Muita gente achou que depois de uma primeira temporada muito infeliz, "Adnight" não teria mais espaço na grade da Globo. E, de certa forma, é o que aconteceu. Assim como se deu com o "Zorra", que não tem nada a ver com o "Zorra Total", o programa que estreia nesta quinta-feira (26) foi muito além da sutil alteração no nome. "Adnight Show" guarda poucas semelhanças com a atração que Marcelo Adnet protagonizou em 2016.

O programa do ano passado era uma espécie de talk show. Tinha bancada, grupo musical e inúmeras brincadeiras roteirizadas com o convidado da semana – quase sempre alguém da própria Globo. Engessado, sem espaço para improviso em meio a uma produção caprichada, Adnet não conseguiu evitar a impressão de que estava apresentando um "Video Show" noturno.

"Adnight Show" abandonou, em primeiro lugar, a ideia de talk show. Acabou a bancada e não sobrou traço da proposta original de "desconstruir positivamente o convidado, buscar uma humanização para além da figura pública". Na estreia, Adnet recebe três convidados ao mesmo tempo – e está pouco interessado em saber qualquer coisa sobre eles.

A cantora Joelma, o ator Renato Góes e a jornalista Fernanda Gentil estão ali para atuar como coadjuvantes do show de Adnet no palco, além de – e esta é a maior novidade – dividir a cena com ele em esquetes gravados previamente em outros ambientes. "O programa entra mais no entretenimento puro e simples, pontuado por números e cenas", explicou ao apresentar o programa.

Nesta espécie de "Zorra do Adnet" ou "Comédia MTV" em versão suave, os esquetes não seguem nenhuma lógica em particular. No primeiro episódio, ao menos, o programa atirou em todas as direções.

Já na abertura, Adnet faz um reconhecimento público do insucesso de 2016. No meio do deserto, no quiosque "Gênios", ele pede ajuda. "Eu queria dar uma repaginada no meu programa. Achar um novo viés na comédia. De repente, ter uma pegada mais jovem, mais web, mas sem perder a relevância."

A melhor piada é dita pelo balconista ao ver Adnet: "Ih, olha lá, mais um da Globo". É ele quem sugere os reforços que o apresentador vai exibir em seguida.

Em um esquete, "Joelma, a heroína brasileira", "os vilões samurais de Kill Bill não têm vez contra a Uma Thurman do Pará", anuncia. Em outro, intitulado "Os dias continuam assim", Adnet e os três convidados vivem personagens que mostram o estágio de conservadorismo de parte da sociedade.

Um dos bons momentos do programa ocorre no palco, quando Adnet e Fernanda Gentil descrevem, como se fossem narradores esportivos, o vídeo da Polícia Federal que mostra Rodrigo Rocha Loures saindo apressado de uma pizzaria em São Paulo com uma mala de dinheiro.

Apesar de engraçado, não deixa de parecer piada velha – o vídeo foi divulgado no início de junho, há quase cinco meses. Esta é a mesma impressão que causa a brincadeira "O Jogo dos Impostos", disputado por Temer (Adnet) e Dilma (Mila Ribeiro, que já havia feito esta ótima imitação da ex-presidente no "Multi Tom"). "Eu não vou sair daqui. Só saio daqui se alguém me tirar", diz o presidente encarnado pelo apresentador.

"Adnight Show" se encerra com um número musical inspirado em questões contemporâneas, um gênero em que Adnet se mostra especialmente à vontade, com bons exemplos desde a MTV e também no "Tá no Ar".

Na estreia do novo programa, a crítica é aos excessos do jornalismo de celebridades: "A minha vida não é pauta pra bafão. Meu Instagram não serve só pra te agradar. Não sou novela pra você me acompanhar. Tudo que eu posto você quer polemizar".

"Adnight Show", enfim, parece uma colagem de coisas já vistas – algumas bem engraçadas, outras menos. Em todo caso, é mais divertido que o programa do ano passado.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.