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Alegria infantil de Bial e desprezo por crítica marcam entrevista de Galvão

Mauricio Stycer

01/06/2018 12h01

A entrevista de Galvão Bueno a Pedro Bial, exibida já na madrugada desta sexta-feira (01), não trouxe maiores novidades em relação ao que ele contou em sua biografia, "Fala, Galvão!", ou já disse em outras oportunidades (um resumo da conversa por ser lido aqui).

Quatro coisas me chamaram a atenção no encontro. Primeiro, a atitude do apresentador. Bial demonstrou uma empolgação quase infantil de estar ao lado de Galvão. A pauta do programa, sempre muito bem estruturada, ficou em segundo plano diante da tietagem exagerada durante toda a gravação da conversa.

Na realidade, não houve conversa. Como já havia ocorrido em outras participações de Galvão em programas da Globo, ele não consegue mais se colocar na posição de convidado. Reveja suas passagens por "Adnight", "Altas Horas" ou "Encontro com Fátima Bernardes". O narrador, conscientemente ou não, age como se fosse um co-apresentador, o que inibe, claramente, quem está o recebendo. Uma rara situação em que isto não aconteceu foi em uma entrevista que deu a Jô Soares, em 2013 (veja aqui).

Não sei se por exigência do entrevistado ou gentileza do entrevistador, Galvão parecia saber tudo que iria acontecer durante sua conversa com Bial. É uma situação que impede surpresas e não abre espaço para o inesperado, tornando tudo muito previsível e com aparência de encenado.

O quarto ponto a destacar na conversa foi o seguinte diálogo:

Bial: Alguns dizem que quando você está transmitindo jogo do Brasil… a crítica mais fácil que se faz a você é que o patriotismo sobe à cabeça e você resvala no ufanismo.
Galvão: É. Eles falam muito em ufanismo.
Bial: É. Em patriotada. Como você responde a esta crítica?
Galvão: Cada dia grito mais alto.
Bial: Hahahahahahaha.

Bial é um profissional experiente e muito bem formado. Conhece todos os truques da televisão, tanto no jornalismo quanto no entretenimento. Sabe que um dos segredos do sucesso de Galvão é a sua inimitável capacidade de se apresentar diante do público como "um vendedor de emoções". Até aí tudo certo. Mas ufanismo e patriotismo são um outro problema. É manipulação de uma outra ordem. E nem um pouco saudável.

A forma como Bial apresentou a pergunta, desmerecendo a crítica (rindo dela, na verdade), não combina com o que se espera de um sujeito inteligente e bem preparado. É uma pena.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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