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Cinco livros de futebol para ler antes ou durante a Copa do Mundo

Mauricio Stycer

02/06/2018 05h01

Porque hoje é sábado, faltam 12 dias para o início da Copa na Rússia e eu gosto muito do assunto, vou falar sobre livros de futebol. Diferentemente do que ocorreu em 2014, quando houve dezenas de lançamentos, o mercado editorial este ano não se animou muito. Registrei a publicação de apenas quatro livros nos últimos 30 dias. Falo deles a seguir.

"Escola Brasileira de Futebol" (Objetiva, 294 págs., R$ 44,90), de Paulo Vinícius Coelho, procura mostrar as mudanças táticas ocorridas dentro de campo, na forma de jogar, entre 1930 e os dias de hoje. O comentarista da Fox Sports e colunista da Folha, como se sabe, é um dos maiores especialistas no assunto hoje em atividade. No livro, PVC destaca, em detalhes, o papel de uma dezena de treinadores que, na sua visão, produziram algum impacto na maneira de jogar futebol no Brasil. Em meio a muitas pranchetas, o jornalista conta boas histórias sobre erros e acertos de diferentes times e seleções brasileiras ao longo de quase um século. É uma boa leitura para quem gosta de futebol. A lamentar apenas que, mais uma vez, PVC dialogue muito pouco com inúmeros outros estudos de autores brasileiros já publicados sobre o mesmo assunto. Dos 18 títulos nas referências bibliográficas, cinco são almanaques de times e três reúnem crônicas ou histórias de João Saldanha. Nenhum estudo de autor brasileiro é citado.

"Fechado por Motivo de Futebol" (L&PM, 232 págs., R$ 39,90), de Eduardo Galeano, é uma espécie de volume dois de "Futebol ao Sol e à Sombra", publicado originalmente em 1995. "O futebol é a única religião sem ateus", costumava dizer o escritor uruguaio, autor de "Veias Abertas da América Latina", que morreu em 2015. Amigos seus reuniram neste novo livro textos de Galeano publicados de forma dispersa antes e depois do lançamento do seu famoso livro sobre futebol. O título faz referência à brincadeira de que, a cada quatro anos, durante a Copa, o escritor se trancava por 30 dias em casa para assistir a todos os jogos. Os textos oscilam entre um viés lírico-poético, por um lado, e a crítica aos rumos que o esporte tomou no mundo moderno. Ele lamenta a exportação de craques para a Europa, o excesso de publicidade nas camisas ("hoje em dia, cada jogador de futebol é um anúncio que joga") e a a corrupção da cúpula dirigente, entre outros temas. Mesmo que às vezes pareça ingênuo, Galeano escreve bem e oferece uma visão original sobre o futebol.

"Transformado para Vencer" (Mundo Cristão, 174 págs., R$ 32,90) é a autobiografia do ex-jogador Paulo Sérgio, atacante do Corinthians e da seleção brasileira campeã do mundo em 1994. Hoje pastor da comunidade Transformados pela Fé, que ele próprio criou, em Barueri, Paulo Sérgio usa o livro mais como ferramenta de evangelização do que como narrativa histórica. O ex-jogador descreve toda a sua trajetória profissional, com passagens que vão do Novorizontino ao Bayern de Munique, incluindo ainda Bayer Leverkusen, Roma, Al-Wahda e Bahia, mas sem descer a detalhes, apenas buscando exemplos para falar de fé (ou falta dela). No capítulo mais alentado, sobre a Copa, na qual atuou no segundo tempo de duas partidas da primeira fase, contra Camarões e Suécia, Paulo Sérgio se ocupa mais da atividade dos Atletas de Cristo. Comandado pelo ex-piloto Alex Dias Ribeiro, que tinha acesso livre à concentração brasileira, o grupo contava com a participação de seis jogadores daquela seleção: Zinho, Mazinho, Jorginho, Muller, Paulo Sérgio e Taffarel. "Aqueles foram alguns dos momentos mais extasiantes de minha vida e carreira", escreve ele.

"Almanaque Desimpedidos" (Panda Books, 104 págs., R$ 35,90), de Ubiratan Leal, é pura diversão para os fãs de um dos canais mais bem-sucedidos no You Tube. Com mais de 5 milhões de inscritos, o canal fez sucesso entre o público adolescente com uma fórmula não muito original, mas bem realizada, de mistura de jornalismo com humor. Sócio do Desimpedidos, o ex-jogador Kaká observa, no prefácio, que o canal trata de futebol "de uma forma leve, solta, bem-humorada, diferente do que estávamos acostumados a ver na televisão". Leal conta um pouco da trajetória dos membros da trupe e busca apresentar a história do canal. Com ótimo projeto gráfico de Daniel Argento, o almanaque é bem-sucedido no esforço de reproduzir nas páginas o clima de "zoeira" dos vídeos da turma de Fred e Bolívia.

Um quinto livro, "Cartão Vermelho", de Ken Bensinger, sobre o escândalo de corrupção na Fifa investigado nos Estados Unidos, está programado para chegar às livrarias na semana da abertura da Copa da Rússia, em 14 de junho. Uma curiosidade sobre este livro é que a edição brasileira está a cargo da Globo Livros, uma divisão do grupo Globo. A empresa, como se sabe, foi citada nas delações do Fifagate. O empresário argentino Alejandro Burzaco afirmou que a emissora pagou propina à Fifa para firmar contratos de transmissões de diferentes torneios. A Globo nega. Repórter do BuzzFeed News, Bensinger cobriu o caso de Nova York, incluindo o julgamento do ex-presidente da CBF José Maria Marín, condenado por corrupção.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.