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Silvio trata Bolsonaro como amigo e faz alarme sobre reforma da Previdência

Mauricio Stycer

06/05/2019 01h19

No programa exibido neste domingo, Silvio recebeu o presidente Jair Bolsonaro. Foto: Lourival Ribeiro/SBT

Não vai ser por falta de esforço de Silvio Santos que o Brasil deixará de aprovar uma reforma da Previdência. Pela segunda vez em 15 meses, o dono do SBT recebeu um presidente da República para falar do assunto e fazer muita propaganda, além de algum alarmismo, no palco do seu programa.

No final de janeiro de 2018, quando visitou Silvio e o presenteou com uma nota de R$ 50, Michel Temer ainda tinha 11 meses de governo, o que não foi suficiente para aprovar a sua proposta de reforma da Previdência. Empossado há quatro meses, Jair Bolsonaro tem perspectivas bem mais positivas.

Isso talvez explique por que Temer teve 15 minutos para vender o seu peixe, enquanto Bolsonaro mereceu o dobro do tempo no palco do programa.

"Quem é aquele moço que está entrando no palco? Quem é? É o Jair cantor? É o Jair jogador de futebol? Então que Jair é ele? É o Jair Bolsonaro!", anunciou Silvio, com o profissionalismo de sempre. Bolsonaro respondeu fazendo o sinal de coração com as duas mãos.

O apresentador começou fazendo piada com a aparição de Bolsonaro num show de Sérgio Mallandro, no qual, a pedido do comediante, o então candidato à Presidência reproduziu três grunhidos famosos: "rá ieié glugluglu". Silvio observou: "Eu falei (para Mallandro): 'Isso não é possível. Se você fez isso com ele, eu também quero chamar ele aqui'."

Entre 22h17 e 22h48, o presidente teve a oportunidade de falar não apenas da Previdência, mas de vários outros planos e projetos, além de conversar com Silvio sobre a sua vida pessoal.

Silvio perguntou a idade do presidente (64 anos) e avançou: "E aquela moça bonita que é a sua esposa tem quantos anos?" Bolsonaro respondeu: "Trinta e poucos. Quase 40. Sempre peço para que nenhum oftalmologista opere as suas cataratas. Porque ela me acha lindo". Foi a deixa para o apresentador fazer um primeiro elogio: "Até que você não é… Você é um presidente simpático. É boa pinta também. Não é porque é presidente, não. É simpático."

Em tom ameno, como se estivesse conversando com um velho amigo, Silvio fez comentários até sobre o signo de Bolsonaro (áries) e sobre a filha mais nova do presidente, Laura, que tem oito anos.

Silvio: A única coisa que não é boa com relação a essa menina é que quando você sai com ela, o pessoal fala: Olha, lá vai o vovô com a neta.
Bolsonaro: Sim. Já falaram isso. De forma bastante brincalhona, eu falo que é uma prova que ainda estou na ativa, sem aditivo.
Silvio: Ah, deixa de conversa fiada. Não vem contar mentira aqui, não.

Com quatro folhas de papel na mão, que consultou algumas vezes, Silvio evitou fazer perguntas e preferiu lançar assuntos para o entrevistado dissertar (Previdência, posse de armas, turismo, multas de trânsito, redução de radares etc.) .

Falando mais do que Bolsonaro, como já ocorreu em outras visitas de autoridades ao seu programa, Silvio explicou por que considera que a saúde é o maior problema do brasileiro.

"Aqui no Brasil, nós, brasileiros, temos uma sorte muito grande. Aqui no Brasil não faz frio. Faz frio, mas é um frio pequeno. Em outros países faz um frio cruel. Então, aqui no Brasil, se a pessoa tá numa pior, ela mora embaixo da ponte, ela faz um barraco de madeira, ela faz um barraco de papelão, ela come todo dia feijão. Não tem problemas. Mas quando chega na saúde, aí esbarra. Aí não tem jeito. O que a gente pode fazer? Em outros países, a pessoa vai no médico, recebe remédio, é tudo de graça. Aqui não tem condições de fazer isso?"

Bolsonaro não fez nenhum comentário específico sobre esta visão de Silvio e aproveitou a deixa para falar da ideia que teve de criar projeto da "Semana da Saúde do Homem".

Foi, então, que Silvio introduziu o tema da Previdência. "Aqui tem essa pergunta, mas vou traduzir. Eu estou com 88 anos. Eu nem sei se estou aposentado, mas, enfim… Se eu tivesse que me aposentar pela lei atual, eu teria que me aposentar com 55 anos?"

Bolsonaro disse que "essa reforma é pra ajudar os pobres". E afirmou que o país gasta "aproximadamente R$ 750 bilhões por ano com aposentadorias". Silvio simplificou a discussão insistindo que, sem uma reforma da Previdência, o país corre o risco de voltar a enfrentar inflação.

"Quando o Brasil não tiver mais dinheiro para pagar as pessoas aposentadas, vai fazer dinheiro. Aí entra a inflação. Começando a inflação… Lembra quando os preços mudavam três vezes por dia. Inflação é muito ruim", disse.

E repetiu: "Se não fizer a previdência, vai ter inflação. Tendo inflação, o que acontece?"

E disse mais uma vez: "A Previdência é importante. Não é porque o presidente está aqui. Não tem saída. Se não reformar a Previdência, vai ter inflação. Estou defendendo, com raciocínio. Se não reforma a Previdência, vão fazer dinheiro, começa a inflação".

No único momento em que pareceu não concordar com Bolsonaro, Silvio questionou o presidente sobre o decreto que facilita a posse de armas.

Silvio: Esse negócio de arma de fogo não pode aprovar. Já imaginou? Vai virar faroeste.
Bolsonaro: Mas, Silvio, você anda pelos Estados Unidos. Lá, a posse e o porte é liberado.
Silvio: Não vamos confundir. Nos Estados Unidos, quando o cara faz um negócio qualquer, ele vai pra cadeia e fica. Aqui, não. Aqui é piada.
Bolsonaro: Tem um projeto nesse sentido, do ministro Sergio Moro, para endurecer as penas e dificultar a progressão de pena.

O presidente esclareceu que a questão da posse já foi regulamentada por decreto. Silvio, então, disse. "Se eu tiver uma arma, na minha casa, e ouvir um ruído, é claro que não vou sair de cueca para encontrar o cara. Vou pegar o revólver". Feliz, Bolsonaro observou: "Estamos começando a nos entender."

Ao final, cansado, Silvio olhou novamente para a lista de assuntos que deveria abordar e disse: "O meu redator colocou uma porção de temas, assuntos. Isso aqui você faz com a Marília Gabriela, com aquele rapaz, o Gentili". Bolsonaro agradeceu. "É ordem sua? Já tô no Gentili". E Silvio encerrou: "Tenho certeza que ele vai te convidar. Aqui o mais importante é Previdência".

Audiência: Dados do Ibope em São Paulo indicam que entre 22h17 e 22h48, o SBT registrou média de 15,4 pontos, ficando em segundo lugar, atrás da Globo (17,7), e à frente de Record (8,4), RedeTV! (7) e Band (1,4). Os números consolidados serão informados nesta segunda-feira (06).

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.