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Por que o público se irrita com spoilers de séries e aceita os de novela

Mauricio Stycer

12/05/2019 05h01

Foto: iStock

A estreia da última temporada de "Game of Thrones" recolocou em pauta aquela palavrinha de sete letras, em inglês, que se tornou sinônimo de estraga prazeres: o "spoiler". Ou, em bom português, a divulgação antecipada de detalhes da trama.

Ai de quem ousa contar algum aspecto da série exibida pela HBO. Mesmo depois que um episódio inédito é apresentado pela primeira vez, todo cuidado é pouco ao escrever a respeito. É preciso colocar "alertas de spoiler" para advertir os mais distraídos. Nas redes sociais, a vigilância sobre quem divulga "spoilers" é intensa e, frequentemente, envolve discussões sérias.

A origem do termo remonta à década de 1970 e está ligado, justamente, a uma revista de humor, a "National Lampoon", que via graça em antecipar informações sobre filmes e livros.

Este tipo de humor foi desenvolvido no Brasil, entre outros, pelo "Pânico", em sua fase inicial, na RedeTV!. Este ano, Emilio Surita, um dos criadores do programa, deu spoilers no rádio sobre o filme "Vingadores: Ultimato" provocando a reação esperada (muita reclamação).

Há quem goste de ler "spoilers". Mas são minoria. A maior parte das pessoas não aprecia ser informada antes sobre detalhes de séries, filmes, livros e peças de teatros. É natural que seja assim. A surpresa é um dos prazeres do consumo de produtos culturais e de entretenimento.

O que sempre me intrigou no Brasil é a despreocupação com spoilers de novelas. O brasileiro adora ler sobre o futuro das tramas que acompanha. Sempre houve divulgação antecipada sobre o que os capítulos das novelas vão exibir. As próprias emissoras divulgam resumos oficiais, adiantando surpresas.

Sempre que as novelas se aproximam do fim, lemos que os autores fazem um esforço adicional para manter mistério sobre os desfechos das tramas. Mas raramente conseguem. "O Sétimo Guardião", que termina na próxima sexta-feira (18), já teve vários spoilers anunciados.

O mais interessante é que spoilers não atrapalham a audiência das novelas. Ao contrário, parecem ajudar na promoção delas. E ninguém reclama da divulgação dos spoilers. Mais do que surpresas, o espectador de novelas parece gostar de ver com os próprios olhos o que ele já sabe que vai acontecer. Isso diz muito sobre a previsibilidade dos folhetins.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.