Topo

Carlos Alberto explica por que disse no Altas Horas temer volta da ditadura

Mauricio Stycer

30/05/2019 11h09

O presidente Jair Bolsonaro recebeu Carlos Alberto de Nóbrega em Brasília. Foto: Carolina Antunes/PR

Os fãs de Carlos Alberto de Nóbrega ficaram divididos depois do encontro do comediante com o presidente Jair Bolsonaro, na terça-feira (28), e com a homenagem que recebeu, um dia depois (29), na Câmara de Deputados. A internet, claro, produziu os mais variados memes sobre os dois eventos.

Muita gente se lembrou da participação de Carlos Alberto no "Altas Horas", em 6 de abril, há menos de dois meses. Na ocasião, o comandante da "Praça É Nossa" reviu o seu próprio depoimento no filme "Tá Rindo de Quê?", que trata de humor durante a ditadura militar.

Na sequência, diante do auditório, disse a Serginho Groisman: "Eu tenho muito medo que, aos 83 anos, isso (a ditadura) volte. Muito medo".

E prosseguiu: "Porque eu tenho netos, dois filhos jovens. Tenho muito medo que essa juventude passe o que nós passamos. Estou até tremendo. Só de falar fico nervoso."

Muito aplaudido, Carlos Alberto ainda falou: "Viva a liberdade! Viva a liberdade!" Serginho não comentou nada, mas sinalizou que gostou. O comediante mandou um beijo para o apresentador.

Este depoimento ao "Altas Horas" voltou a circular por causa do encontro de Carlos Alberto com Bolsonaro, em Brasília, onde ele disse: "Esse homem vai tirar a gente desse buraco, tenho certeza absoluta".

Também disse: "Nunca em minha vida imaginei um dia ser recebido por um presidente da República da forma em que fui acolhido. O capitão é incrivelmente simpático, alegre e carismático. Um dia para não esquecer".

Contradição? Carlos Alberto fala, desde o ano passado, que votou em Bolsonaro. Em 22 de dezembro, no "Programa Raul Gil", ele "tirou o chapéu" para o então presidente eleito. "Esse homem, ainda, não tomou posse e já está mudando o Brasil", disse.

E mais: "Você veja o dinheiro que os estrangeiros já estão querendo colocar no Brasil. O medo que as pessoas já estão da criminalidade, os bandidos, eles estão assustados."

Procurado pelo blog, Carlos Alberto esclareceu o depoimento dado ao "Altas Horas (veja abaixo): "O que eu tenho medo é que haja um impeachment do Bolsonaro e tenha uma ditadura no Brasil".

Carlos Alberto diz que se surpreendeu com a reação nas redes sociais, acusando-o de ter um comportamento contraditório. "Em momento algum (no 'Altas Horas') eu falo do Bolsonaro. As pessoas estão cegas".

Sobre o depoimento no "Programa Raul Gil", Carlos Alberto acrescenta algo que não revelou na ocasião. "Meu voto era no (Geraldo) Alckmin. Votei no Bolsonaro para votar contra o PT".

Muito feliz por ter sido recebido por Bolsonaro ("É muito simpático"), o comediante reagiu com bom humor à reportagem exibida pelo "Jornal Nacional" na noite de quarta sobre a homenagem que recebeu na Câmara: "Só achava que fosse aparecer no 'Jornal Nacional' quando morresse", disse.

Siga o blog no Facebook e no Twitter.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.