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Ousada, Órfãos da Terra traz debate sobre xenofobia para o centro da trama

Mauricio Stycer

10/06/2019 05h01

Missade (Ana Cecília Costa) chora ao ver o seu quiosque destruído pelo fogo

Já há dois capítulos, a novela das 18h da Globo tem oferecido informações ao espectador sobre um tema de atualidade mundial – a xenofobia. As autoras de "Órfãos da Terra", Duca Rachid e Thelma Guedes, usaram de um artifício engenhoso para colocar o assunto no meio da trama.

Em seu plano de vingança contra Laila (Julia Dalavia), a vilã Dalila (Alice Wegmann) encomendou a um homem que estimulasse ódio contra Missade (Ana Cecília Costa), mãe da mocinha da novela, pelo fato de ela ser estrangeira.

Missade havia acabado de inaugurar, com sucesso, um quiosque dedicado a vender quitutes da culinária árabe. O homem disse para os demais comerciantes do local:

"Por que é que tá todo mundo naquela barraca e as outras tão vazias? Ah, deixa eu adivinhar. São estrangeiros. O tal dos refugiados! Escutem o que eu tô falando! Esse povo é uma praga. Nós somos brasileiros, pagamos impostos, votamos, e não temos a moleza desses aí, não. Eles vêm com essa cara de pobre coitado e vão tomando todos os nossos empregos".

E ainda falou: "Olha só, pessoal, eles estão fazendo que não é nem com eles. Essa gente é muito cínica! Vem lá da terra deles pra roubar nossos empregos! Voltem pra terra de vocês! Não queremos vocês aqui!".

Por fim, o sujeito disse: "Fora! Voltem pra casa de vocês! Vocês estão roubando nossos empregos! Vieram do país de vocês, acabaram com tudo por lá e agora querem tirar o que é nosso".

Em defesa da mãe, Laila respondeu: "Nós só queremos trabalhar em paz! Nós saímos do nosso país por causa de uma guerra. Isso vocês não sabem o que é. Vocês não sabem o que é ter que deixar tudo pra trás. A casa, a família, os amigos, tudo… A única coisa que a gente quer aqui é trabalhar em paz, é viver em paz!".

Num primeiro momento, estimulados pelo agitador, os demais comerciantes vandalizam o quiosque de Missade levando toda a comida. À noite, alguém coloca fogo e destrói o espaço.

A partir daí, vários personagens discutem o que ocorreu. Ninguém sabe que a situação foi armada por Dalila. Pensam que foi um ato de xenofobia espontâneo. Duca Rachid e Thelma Guedes aproveitam para divulgar uma mensagem importante de tolerância e respeito pelo estrangeiro.

O padre Zoran (Angelo Coimbra) lembra que o Brasil é um país de imigrantes. Rania (Eliane Giardini) diz: "Eu não sei como alguém pode ser contra os imigrantes nesse país. Não tem ninguém que seja exatamente daqui. Tem um avô, um ancestral que veio de Portugal, da Itália, da França, da Alemanha, da China, países da África. Não entendo!".

Ao final dos capítulos que trataram deste assunto, a Globo incluiu uma cartela com a mensagem: "Ninguém escolhe se tornar refugiado. Ajude". Bacana.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.