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Em tempos de redes sociais, popularidade define escolha de ator de novela

Mauricio Stycer

25/08/2019 05h01

Marina Ruy Barbosa e Bruna Marquezine na novela "Deus Salve o Rei"

Longe da TV aberta desde 2016, quando fez um papel pequeno em "Êta Mundo Bom", Maria Zilda deu uma entrevista boa demais ao jornalista Paulo Sampaio. Falou de vários assuntos interessantes e, com verve, mergulhou em temas polêmicos e picantes. Recomento muito a leitura.

Sobre televisão, Maria Zilda lamentou: "Não tem mais avó em novela". E tocou em um ponto sensível. "Um diretor amigo meu me contou outro dia que eles estavam fazendo a escalação de uma novela e ficaram em dúvida entre duas atrizes jovens. Aí, um deles disse: 'Escolhe essa aqui que dá mais clique'. Aí, você pega atrizes como eu, a Renata Sorrah, que eu nem sei se tem Instagram, a Debora Duarte, a Lúcia Alves, ninguém é chamado. A TV Globo acabou."

Maria Zilda não citou exemplos, mas muita gente lembrou, lendo as suas declarações, da escalação das duas protagonistas de "Deus Salve o Rei" (2018), novela das 19h da Globo. Bruna Marquezine e Marina Ruy Barbosa são verdadeiras campeãs em números de seguidores, mas não se mostraram, creio, as melhores escolhas para os papéis.

Maria Zilda não é a primeira a fazer esta reclamação sobre o advento do ator-celebridade. Em 2017, Nathallia Rodrigues publicou em seu perfil no Facebook que perdeu uma oportunidade profissional por não ter um número considerável de seguidores. Ela contou que um produtor, interessado em indicá-la para um trabalho, sugeriu que ela "comprasse" seguidores –um expediente possível, por meio de "robôs" digitais.

E isso ocorre não só no Brasil, claro. A atriz Sophie Turner, a Sansa de "Game of Thrones" reconheceu em uma entrevista: "Muito do que alcancei se deve ao timing e à sorte, mas também, e odeio dizer isso, ao grande número de seguidores nas redes sociais", disse.

No "Vídeo Show", após a saída de Monica Iozzi, foram feitas diferentes experiências com apresentadoras que não tinham nenhuma experiência no ramo, mas eram celebridades no Instagram, como Sophia Abrahão e três ex-participantes do "BBB". Não funcionou.

Além do ator-celebridade, também existe o jornalista-celebridade. Ao anunciar a contratação de Mari Palma e Phelipe Siani, a CNN Brasil destacou o alcance que eles têm nas redes sociais: "A credibilidade de ambos e o estilo informal nas reportagens e apresentações despertaram o interesse de milhões de telespectadores e seguidores e conquistaram a simpatia e reconhecimento do público."

São os novos tempos. É preciso reconhecer o impacto das novas mídias e entender como elas agem e influenciam decisões da velha mídia.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.