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Walcyr: a gente escreve, os críticos esperneiam e a gente continua fazendo

Mauricio Stycer

02/09/2019 05h06

A participação de Walcyr Carrasco no "Altas Horas" neste sábado ofereceu a oportunidade para o autor de "A Dona do Pedaço" falar bastante sobre o seu método de trabalho. Em resumo, três diretrizes principais o orientam: seguir a intuição, viver a emoção do que escreve e ignorar a opinião da crítica.

Serginho Groisman destacou o ritmo intenso de Walcyr, que segue escrevendo uma novela atrás da outra há anos: "E ainda tem tempo para livros, musical. O seu nome é trabalho. E prazer. O grande segredo deve ser o prazer em trabalhar", disse o apresentador.

Walcyr aproveitou a deixa para anunciar que em 2020 haverá mais um trabalho dele na Globo: "Eu amo escrever. Então, aliás, eu também já escrevi mais uma peça de teatro. Estou sempre em atividade, fazendo mais alguma coisa. Adoro escrever. E tenho um superprojeto em televisão já para o ano que vem".

Questionado pelo apresentador sobre seu método, revelou: "É tudo intuição. É impossível saber o que vai dar certo em televisão. Na arte, é imprevisível. O que eu sei: a gente tem que ser honesto e viver a emoção daquilo. Se eu escrevo e eu choro quando eu escrevo, vai emocionar o público. Se eu rio, o público vai dar risada. Tem que ser honesto com a minha emoção pra passar emoção para vocês".

Ao falar sobre o sucesso da atual novela das 21h, Walcyr disse que se surpreendeu porque a idealizou muito rapidamente. O autor deu a entender que ela não estava no organograma de Silvio de Abreu, que afirmou recentemente que já sabe quais serão as novelas da Globo até 2023.

"Eu fiquei muito surpreso até com o sucesso de 'A Dona do Pedaço'. Porque foi uma novela que aconteceu de repente. Escrevi a sinopse em duas semanas, com todos os personagens e toda a história. Não planejei tanto assim. E tô escrevendo à medida que vai acontecendo. Me apaixonei pela Vivi (Paolla Oliveira), entre outros personagens. A história vai me chamando. Não foi nada planejado, mas me satisfaz muito".

Serginho insistiu em tentar entender o método de Walcyr, mas o autor não entregou: "Eu crio muito por intuição. Então, dizer como eu fiz… Foi surgindo, foi nascendo, foi aparecendo. Eu tinha ideia inicial, da Maria da Paz (Juliana Paes), e da vilã, a Josiane (Agatha Moreira), que quer ser digital influencer e não consegue, e tinha a freirinha, uma ex-freira que é realmente do mal", explicou.

O autor disse que Fabiana, a personagem de Nathalia Dill, foi inspirada na mulher de um amigo. "As pessoas me perguntam: como que uma pessoa criada num convento faz isso? Olha, eu vou dizer que eu conheço uma pessoa assim. E eu me inspirei um pouco nessa pessoa", revelou.

Serginho compartilhou com o público "um compilado dessa incrível novela" (palavras suas) e depois convidou uma menina do auditório a perguntar algo a Walcyr. Marcielle quis saber como ele reage às críticas sobre o que está escrevendo.

"O que o escritor e qualquer pessoa que queira escrever ou fazer arte tem que aprender é não ouvir a crítica. Porque gente para derrubar não falta. Às vezes é um amigo, às vezes é alguém que tem voz na imprensa. É o que eu digo sempre: a gente escreve e os críticos esperneiam. E a gente continua fazendo", ensinou.

O dicionário Houaiss ensina que o sentido literal de "espernear" é "agitar repetida e violentamente as pernas". Já o sentido figurado é "reclamar, não se sujeitar a algo; tentar reverter (uma situação com a qual não se concorda)."

Por fim, Walcyr aconselhou a plateia: "Então, se você tem um projeto, quer ser escritora ou quer ser atriz, pode ser horrível, continua fazendo. Aposta em você mesmo, que um dia dá certo. E a crítica que foi feita lá atrás, fica lá atrás."

As relações de Walcyr com os críticos de televisão nem sempre são tranquilas. Durante "Amor à Vida", em 2013, ele entendeu como um "problema pessoal" restrições ao andamento da novela. Em 2018, ao final de "O Outro Lado do Paraíso", disse que "os críticos não entenderam" a novela.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.