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Renata Sorrah revive Nazaré Tedesco em “Fina Estampa”

Nilson Xavier

20/01/2012 12h01

Não deve ser fácil para um ator ficar marcado em sua carreira com um papel. Tem o lado bom, claro. Mas tem o outro lado, em que o público faz comparações e exige o tempo todo um papel semelhante, ou à altura daquele que fora sucesso. Acontece atualmente com Renata Sorrah, no ar em Fina Estampa.

A atriz já havia ficado marcada como a alcoólatra Heleninha Roitman de Vale Tudo, em 1988. Dezesseis anos depois voltou a brilhar com uma personagem totalmente diferente e que fez tanto sucesso que ainda povoa o imaginário brasileiro: a vilã Nazaré Tedesco de Senhora do Destino (2004/2005). Depois desta, Renata participou de apenas duas outras novelas, mas com personagens que passaram despercebidas: foi a juíza Tereza, de Páginas da Vida (2006/2007), e a sofrida dona de casa Célia Mara, de Duas Caras (2007/2008).

Atualmente, Renata Sorrah vive a Drª Danielle Frasier, uma médica que, ao longo de Fina Estampa, mostrou não ser muito ética. A personagem está tendo o seu momento de evidência na novela e a atriz está bem no papel. Mas é comum ouvir do público reclamações do tipo "Renata Sorrah merecia papel melhor" ou "Quando teremos uma nova Nazaré Tedesco?". Ainda mais porque o autor Aguinaldo Silva referencia sua vilã de Senhora de Destino vez ou outra dentro de Fina Estampa.

As experiências genéticas de Danielle lembram a trama central de Barriga de Aluguel (1990/1991), como bem frisaram Carla Neves e Mauricio Stycer num texto no UOL – leia a matéria AQUI.  Para além das semelhanças com a trama de Glória Perez (que inclusive é reprisada atualmente no canal Viva), percebe-se, neste momento de Fina Estampa, uma forte ligação entre a Drª Danielle e Nazaré Tedesco.

Nazaré era uma mulher desequilibrada, uma vilã caricata e engraçada – por isso a popularidade. Ela roubou um bebê e o criou como se fosse seu filho. Por outro lado, Danielle Frasier é uma cientista, uma mulher culta e esclarecida. Mas que também demonstra desequilíbrio, em sua obsessão em perpetuar a memória do falecido irmão. Primeiro através do sobrinho, que ela luta contra os avós dele para ter a guarda. E agora, através da filha do falecido irmão que a médica gerou no útero de Esther (Júlia Lemmertz), uma mulher que não pode ter filhos.

A grande semelhança entre as duas personagens está nas tramas. Nazaré roubou uma criança recém-nascida e fugiu com ela. Danielle roubou os óvulos de Beatriz (Monique Alfradique) para que fossem fecundados com os espermatozoides de seu irmão e, assim, ter seu sobrinho gerado na "barriga de aluguel" de Esther. Tudo bem que afirmar que Danielle "roubou" os óvulos de Beatriz é uma força de expressão, pois Beatriz, na verdade, doou seus óvulos para a médica. Mas a doutora foi omissa e antiética quando escondeu de Beatriz que usou seus óvulos em Esther, e que, portanto, a menina que Esther deu a luz é de Beatriz e do irmão da médica.

É claro que Nazaré e Danielle são muito diferentes entre si, e a maior prova disso é a popularidade de uma em comparação com a da outra personagem. Mas assim como Nazaré, a médica de Fina Estampa usa a maternidade frustrada – de Esther e Beatriz, e por que não a sua própria – para se satisfazer, ainda que em nome da ciência. Aliás, essa trama lembra ainda outra novela de Glória Perez, O Clone (2001/2002), em que o cientista Albieri (Juca de Olveira), faz experiências genéticas por meios escusos – assim como a Drª Danielle Frasier.

Tem ainda Os Mutantes de Tiago Santiago. Mas aí já é dar asas à imaginação…

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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