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"O Sétimo Guardião" renderia uma série ou supersérie, nunca uma novela

Nilson Xavier

07/02/2019 10h42

Eduardo Moscovis como Leon (foto: divulgação/TV Globo)

"O Sétimo Guardião" é uma novela de muitas qualidades: ótimas produção e direção (Rogério Gomes e equipe), texto dos personagens com boas falas, e elenco bem escalado, com alguns atores se destacando em papeis interessantes – Isabela Garcia, Letícia Spiller, Elizabeth Savala, Nany People e Theodoro Cochrane, principalmente.

Contudo, chegando à sua metade, a novela desenha um cenário que pode explicar a recepção (e repercussão) até aqui morna por parte do público. A trama central de "O Sétimo Guardião" tem pouco apelo folhetinesco. A história do amor impossível de Gabriel e Luz (Bruno Gagliasso e Marina Ruy Barbosa) seria o ingrediente de folhetim na trama fantástica da irmandade secreta que guarda uma fonte milagrosa.

Bruno Gagliasso, consegue reconhecer? (foto: divulgação/TV Globo)

Todavia, o casal romântico central não empolga. Gabriel e Luz não são carismáticos o suficiente para gerar empatia no público. Difícil torcer por personagens que não sorriem. O romance é insosso. Falta verdade, falta paixão dilacerada. Falta folhetim. Neste momento em que Gabriel e Luz estão separados, sobra a trama dos guardiães, que, convenhamos, nem parece enredo de novela.

Outra crítica muito ouvida é de que "O Sétimo Guardião" é lenta e sombria. A direção usa um filtro que deixa as cenas muito escuras – quase é preciso ajustar o televisor nas sequências na gruta ou quando os guardiães se encontram. Esteticamente, é bonito. Mas é adequado a uma novela em um horário que atinge um público tão heterogêneo?

Leopoldo Pacheco e Ana Beatriz Nogueira, consegue reconhecer? (foto: divulgação/TV Globo)

A lentidão da trama central – enquanto isso, se desenrolam as tramas paralelas – se explica no formato do produto. O autor Aguinaldo Silva dissolve sua história em uma novela, quando temos a impressão de que este enredo dos sete guardiães renderia, no máximo, uma série ou supersérie. Aliada à estética adotada pela direção, "O Sétimo Guardião", sem as histórias paralelas, seria perfeita para a faixa das 23 horas, por exemplo.

Este é um caso semelhante ao da recém-finada "O Tempo Não Para", que nem era para ter sido uma novela. A diferença é que a produção das sete esgotou sua trama central muito rápido, sobrando quase nada para os meses restantes. Aguinaldo Silva é menos afoito: ele tenta diluir a trama principal de "O Sétimo Guardião" ao longo de seis meses. Daí, a impressão de que a história se arrasta.

Nem todo enredo rende uma novela. É um risco escrever uma telenovela pensando em uma série. O produto híbrido até pode funcionar, porém, é preciso manter-se fiel ao formato pretendido.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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