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Viva estreia "Terra Nostra", sucesso há 20 anos, mas fracasso na 1ª reprise

Nilson Xavier

28/02/2019 07h00

Thiago Lacerda (Matteo) e Ana Paula Arósio (Giuliana) (foto: Acervo/TV Globo)

O canal Viva estreia, nesta quinta-feira (28/02), a novela "Terra Nostra" (às 14h30 com reprise à 0h45). Escrita por Benedito Ruy Barbosa, com direção-geral de Jayme Monjardim, a produção foi originalmente exibida entre setembro de 1999 e junho de 2000, e reprisada no Vale a Pena Ver de Novo em 2004. Seguem 10 curiosidades sobre a produção.

1. Barriga

A princípio um sucesso, com pompa de superprodução e belas imagens, "Terra Nostra" empolgou a audiência, alcançando picos de 58 pontos no Ibope da Grande São Paulo em seu primeiro mês de apresentação. Entretanto, com o passar do tempo, a trama foi cansando o público. Devido à "barriga" (aquele período em que nada acontece na história, em que parece que o autor está enrolando, empurrando com a barriga), sua média final fechou em 44 pontos.

Débora Duarte (Maria do Socorro) e Antônio Fagundes (Gumercindo) (foto: Acervo/TV Globo)

2. Fracasso no Vale a Pena Ver de Novo

Ao contrário de sua exibição original, "Terra Nostra" foi um dos maiores fracassos do Vale a Pena Ver de Novo. A novela, aparentemente, atendia a todos os critérios de reprise divulgados pela emissora: lembrança do público, audiência na sua primeira exibição e quantidade de pedidos. Porém, a trama derrubou a audiência da faixa, que vinha dos 25 pontos da reexibição de "Corpo Dourado", a novela anterior, para míseros 12 pontos, perdendo constantemente para as reprises de novelas importadas no SBT. A solução encontrada pela emissora foi reduzir a novela para menos da metade: dos 221 capítulos originais para 106 (boa parte desses capítulos mais curtos que os originais, devido às Olimpíadas de Atenas e às eleições municipais). A novela foi tão editada que, no mês de setembro de 2004, pouco mais de 46 capítulos foram comprimidos em 5 de 40 minutos – uma média de pouco mais de 9 capítulos originais por dia.

3. O navio da travessia

"Terra Nostra" exibiu cenas grandiosas da travessia do oceano de centenas de imigrantes italianos, a bordo de um navio rumo ao Brasil, e do desembarque no Porto de Santos, no início do século 20. Participaram mais de 300 figurantes. A procura do navio que trouxe os italianos para o Brasil levou bastante tempo. Depois de inúmeras pesquisas, o navio S.S. Shieldhall, de 1940, foi encontrado no sul da Inglaterra e foi devidamente adaptado para transformar-se no Andrea I da história. Como seria impossível transportar o navio para o Brasil, uma equipe com mais de 50 pessoas, incluindo técnica, produção e elenco, viajou para Southampton onde, durante uma semana, foram realizadas as gravações que apareceram nos dois primeiros capítulos.

4. Elenco de peso

Muitos foram os destaques no elenco: Raul Cortez, Antônio Fagundes, Débora Duarte, Paloma Duarte, Ângela Vieira, Maria Fernanda Cândido, Antônio Calloni, Lu Grimaldi (caracterizada como uma perfeita italiana) e outros. Thiago Lacerda virou astro da noite para o dia. E Ana Paula Arósio defendeu bem a sua Giuliana, uma personagem difícil e de grande carga dramática (Giuliana chorava capítulo sim, outro capítulo também!). Foi a primeira novela na Globo de Ana Paula, que já havia protagonizado a minissérie "Hilda Furacão", no ano anterior.

5. A mulher brasileira mais bonita do século 20

Maria Fernanda Cândido já era conhecida por ter estrelado a abertura da novela "A Indomada" (1997). Porém, "Terra Nostra" foi sua primeira novela na Globo como atriz. Por causa da repercussão, Maria Fernanda foi eleita, por meio de uma votação popular realizada pelo "Fantástico", "a mulher brasileira mais bonita do século 20". Sua personagem, a bela e sensual italiana Paola, era uma cozinheira de mão cheia. O "macarron" de Paola fez tanto sucesso que pratos com a marca da novela invadiram os supermercados do país. A indústria Adria lançou a linha de massas "Terra Nostra". A Arisco, o extrato de tomate e o molho refogado "Terra Nostra". Foi a onda da culinária italiana conquistando as mesas dos telespectadores, as revistas e os programas de culinária na televisão.

Maria Fernanda Cândido (Paola) e Raul Cortez (Francesco) (foto: Acervo/TV Globo)

6. Terra Nostra 2

A novela foi planejada para ter três fases, com a história chegando ao fim no ano 2000 (fim do século 20 e fim do milênio). Porém, apesar do sucesso da novela e da boa aceitação dos personagens principais, Benedito Ruy Barbosa decidiu encerrar a trama no início da Segunda Guerra Mundial. A novela não terminou com um tradicional "Fim". O autor preferiu usar a frase "Essa história não termina aqui", planejando dar uma continuidade à trama. Em 2002, Benedito pensou em escrever a continuação da saga dos descendentes de Matteo e Giuliana. Porém, acabou optando por uma nova trama sobre imigrantes, "Esperança", em outro momento histórico. Ao ser vendida para a Itália, "Esperança" recebeu o título de "Terra Nostra 2", apesar de as histórias serem diferentes.

7. A ideia para a novela

O autor teve a ideia de escrever "Terra Nostra" em 1982, após concluir a novela "Os Imigrantes" (produzida pela TV Bandeirantes), devido a milhares de cartas que recebeu de telespectadores comovidos com a história relatando suas experiências e lembranças. Numa cena dos primeiros capítulos de "Terra Nostra", um casal de imigrantes a bordo do navio na viagem para o Brasil (personagens de Antônio Calloni e Lu Grimaldi) viveu o drama de ter a filha dada como morta pela peste. A criança seria lançada ao mar se a mãe não relutasse em entregá-la. Quando tentaram tirar o bebê dos braços da mãe, ele chorou. Benedito Ruy Barbosa retirou essa sequência da carta de uma telespectadora que contava ter vivido a história: ela era a criança doente.

Antônio Calloni (Bartollo), Ana Paula Arósio (Giuliana) e Lu Grimaldi (Leonora) (foto: Acervo/TV Globo)

8. Sucesso no exterior

"Terra Nostra" desbancou "Escrava Isaura" (1976) do título de novela mais exportada da história da Globo. Em maio de 2004, a emissora totalizou a sua venda para 83 países, contra 79 que já haviam visto a saga da escrava branca. Posteriormente, esse recorde foi superado por outras produções ("O Clone", "Da Cor do Pecado" e "Avenida Brasil").

9. Tormento D´Amore

O tema de abertura da novela, "Tormento D´Amore", composta por Luiz Schiavon e Marcelo Barbosa, filho de Benedito, se transformou num sucesso nas vozes de Agnaldo Rayol e Charlotte Church, cantora inglesa de apenas 13 anos de idade na época. "A gravação aconteceu num estúdio em Londres e, como a menina estava viajando em turnê, colocamos as vozes separadas", disse Rayol a Flávio Ricco e José Armando Vannucci, para o livro "Biografia da Televisão Brasileira". Mais tarde, Charlotte veio ao Brasil e se apresentou com Rayol em programas de televisão para divulgar a música.

Antônio Calloni (Bartollo) e Thiago Lacerda (Matteo) (foto: Acervo/TV Globo)

10. Premiações

"Terra Nostra" foi eleita pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) a melhor novela de 1999. Débora Duarte ganhou o prêmio de melhor atriz, e Lu Grimaldi, a revelação do ano na TV. A novela também foi premiada com todos os Troféus Imprensa que concorreu: melhor novela, ator (Raul Cortez), atriz (Ana Paula Arósio) e revelação do ano na TV (Maria Fernanda Cândido).

O primeiro capítulo da novela está aberto no VIVA Play para não assinantes, a partir de quarta, 28/02, até o dia 06/03/2019. 

AQUI tem tudo sobre "Terra Nostra": trama, elenco completo, personagens, trilha sonora e mais curiosidades.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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