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Estreia na TV aberta "Assédio", uma das melhores produções da TV brasileira

Nilson Xavier

03/05/2019 09h32

Antônio Calloni e Adriana Esteves (foto: Ramon Vasconcelos/TV Globo)

A Globo estreia nesta sexta-feira (03/05), em seu canal aberto, a série (ou minissérie) "Assédio" (após o "Globo Repórter"), uma das melhores produções da TV brasileira dos últimos tempos, livremente inspirada no livro "A Clínica: A Farsa e os Crimes de Roger Abdelmassih", de Vicente Vilardaga, com adaptação de Maria Camargo e direção artística de Amora Mautner. O programa está desde o ano passado disponível na Globoplay, plataforma sob demanda da emissora, e só agora poderá ser visto na TV aberta.

Pela primeira vez, e de forma objetiva, a Globo reproduz na ficção crimes recentes que chocaram a opinião pública, dos quais o acusado está vivo. No caso, a trajetória do hoje ex-médico Roger Abdelmassih, especialista em reprodução humana condenado pelo estupro de várias pacientes, na maioria das vezes quando elas estavam sedadas.

Tudo está ainda muito fresco na memória do público e dos envolvidos: vítimas, médico e sua família, jornalistas, advogados e outros profissionais ligados ao acusado ou às vítimas. Em 10 capítulos, a narrativa transcorre – sem ordem cronológica – 20 anos (entre 1994 e 2014) da carreira de Roger (Antônio Calloni) – com outro sobrenome, Sadala -, da ascensão à derrocada profissional, causada pelo escândalo.

As vítimas (foto: Ramon Vasconcelos/TV Globo)

Não se trata de um documentário. Porém, uma linha tênue separa o ficcional do real. A intenção não é reproduzir fielmente os crimes do médico. De um lado, a dramatização do que aconteceu de fato: as acusações contra ele, sua desmoralização perante a opinião pública, a cobertura nacional, a união das vítimas e os vereditos da Justiça. De outro, o que foi inventado – os perfis das vítimas e seus dramas pessoais -, e o que foi baseado – a persona de Roger Sadala, pintado na série como um homem vaidoso, megalômano, egocêntrico, religioso, "de família" e hipócrita.

A trama, contundente, não poupa o espectador e a Globo exibirá a atração na íntegra. Logo no primeiro episódio (já exibido como "degustação" na "Tela Quente", no ano passado), a crueza das imagens de um estupro é chocante – não apenas pelo ato em si, mas pela situação em que ele acontece. Por ser uma história sobre vítimas que se uniram contra um algoz, a narrativa prioriza as mulheres. Apesar da ação embaralhada – os fatos vão e voltam no tempo -, as personagens-vítimas são apresentadas ordenadamente, a cada episódio. E cada uma delas com perfil diferente, representando a pluralidade feminina.

Elogiada pela crítica especializada, "Assédio" rendeu a Amora Mautner o prêmio de melhor direção de televisão em 2018 pela APCA, a Associação Paulista de Críticos de Arte. 

O clã Sadala (foto: Ramon Vasconcelos/TV Globo)

Antônio Calloni está excelente como o médico. Não mais que Adriana Esteves (Stela, a primeira vítima apresentada), que em nada lembra as vilãs Carminha ou Laureta; Mariana Lima (Glória, a esposa), seu melhor trabalho em televisão; e Hermila Guedes (Maria José, a terceira vítima), atriz que precisa ser mais vista na TV. Também um grande destaque para Jéssica Ellen (Daiane, uma secretária) e Elisa Volpatto (Mira, a jornalista que investiga o caso), e pequenas, mas impactantes participações de Mônica Iozzi e Bárbara Paz.

A roteirista Maria Camargo afirmou no material de divulgação da minissérie: "Vamos falar da força do coletivo. As vítimas tomam uma posição e decidem mudar a história mostrando o poder da coletividade contra o assédio. O médico da trama é um antagonista simbólico desse movimento conjunto de quem rompe o silêncio. O tema é um dos grandes protagonistas. É um assunto muito atual e tem gerado debates no mundo todo".

No ano passado, com "Assédio" no Globoplay, a Globo iniciou a campanha "Quando a violência gritar, grite!", dentro da plataforma "Tudo Começa Pelo Respeito". A ação incentiva a sociedade a não se calar diante de casos de assédio e violência contra a mulher. São filmes curtos com as atrizes Bárbara Paz, Jéssica Ellen e Vera Fisher (do elenco da minissérie), interpretando depoimentos reais de mulheres vítimas de violência, veiculados na programação e compartilhados nas redes da empresa.

O site Teledramaturgia traz tudo sobre "Assédio": trama, elenco, personagens e curiosidades.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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