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"Cine Holliúdy" propõe uma divertida "peia" entre o cinema e a televisão

Nilson Xavier

07/05/2019 23h00

Letícia Colin e Edmilson Filho (foto: Marcos Rocha/TV Globo)

A Globo estreou nesta terça-feira (07/05) a série "Cine Holliúdy", baseada no filme de Halder Gomes, lançado em 2012 – que já teve uma continuação e é oriundo de um curta-metragem (de 2004). O espírito dos filmes continua na televisão, porém, sem legendas para as frases, palavras e expressões em "cearensês". Na TV, está tudo palatável e compreensível para o grande público. Halder continua na direção, desta vez com o suporte de Patrícia Pedrosa. A redação final da série é de Cláudio Paiva e Márcio Wilson.

A comicidade de "Cine Holliúdy" se apoia no texto afiado, no elenco supimpa e nos tipos caricatos (o prefeito é uma clara releitura de Odorico Paraguaçu), o que funciona para todos os gostos e públicos. A estética kitsh (em cenários e figurinos) e a trilha sonora brega (Márcio Greick e Jane & Herondy embalam o amor sofrido do protagonista décadas antes do advento da sofrência) são referências aos anos 1970, quando se passa a trama. Também há um quê circense – em estética e ritmo – já visto na TV, em obras como "O Auto da Compadecida" e "Lisbela e o Prisioneiro".

A trama de "Cine Holliúdy" homenageia a Sétima Arte e, também, a televisão. O protagonista Francisgleydisson (vivido pelo incrível Edmilson Filho) quer salvar o seu negócio, um cinema, a única diversão de uma cidadezinha até a chegada da televisão, instalada em praça pública para o deleite da população local, que se reúne todas as noites para assistir telenovelas. Para barrar a concorrência, Francis tem então a ideia de produzir seus próprios filmes, com parcos recursos, mas muita criatividade e jogo de cintura.

Heloísa Périssé, Matheus Nachtergaele e Letícia Colin (foto: Marcos Rocha/TV Globo)

Ao longo de 10 episódios, Francis passeia pelos mais diferentes estilos, do bangue-bangue à ficção científica, do romance à pancadaria. Em meio às gravações, desenrola-se o dia a dia em Pitombas, onde o prefeito Olegário (Matheus Nachtergaele), corrupto, populista e verborrágico, está sempre metido em encrenca, por causa de sua falta de lisura, dos opositores políticos, ou da esposa "importada de São Paulo", Maria do Socorro (Heloísa Périssé), que chegou à cidade com a filha a tiracolo, a bela Marylin (Letícia Colin), por quem Francis se apaixona. Ela se tornará a mocinha dos filmes de Francisgleydisson.

O elenco de "Cine Holliúdy" é um show à parte. Além de Letícia Colin, Matheus Nachtergaele e Heloísa Períssé (conhecidos do grande público), há atores também já vistos em novelas, como Frank Menezes, o delegado Nervoso, engraçadíssimo de peruca; Cacá Carvalho (o Jamanta, lembra?), vivendo o padre; e Gustavo Falcão, como Seu Jujuba, o assessor do prefeito. O elenco se completa com atores poucos conhecidos por aqui, mas reconhecidos no Nordeste: Edmilson Filho, como Francisgleydisson, também protagonista nos filmes que originaram a série; Haroldo Guimarães, como Munízio, o braço direito de Francis; Carri Costa e Solange Teixeira, como o hilário casal Lindoso e Solange.

A série também traz participações especiais, entre outros, Miguel Falabella, Chico Diaz, Bruno Garcia, Ingrid Guimarães e Ney Latorraca – como o vampiro Vlad (qualquer referência à novela "Vamp" não terá sido mera coincidência).

Edmilson Filho, Solange Teixeira e Carri Costa (foto: Marcos Rocha/TV Globo)

Televisão e cinema se colocam em lados opostos na trama de "Cine Holliúdy". Quem vence essa "peia"? Na verdade, a série reverencia os dois opositores. Em uma época em que achava-se que a televisão derrubaria o cinema, o tempo provou que não. Ainda hoje, mesmo com as facilidades do streaming – que tem feito as pessoas preferirem filmes em casa -, a Sétima Arte prova continuar firme e forte, haja vista toda a empolgação recente com o novo filme dos Vingadores ("Ultimato"). Quarenta anos depois da ação de "Cine Holliúdy", Francisgleydisson se sentiria orgulhoso.

PS: O suprassumo é o cantor Falcão, como o narrador da história – um cego que "tudo sabe e tudo vê". As cenas dele assistindo aos filmes no Cine Holliúdy (quase imperceptíveis) são a cereja desse delicioso bolo.

Leia também: Ator de "Cine Holliúdy" vive nos EUA há 20 anos sem perder "nordestinidade".

O site Teledramaturgia traz tudo sobre "Cine Holliúdy": elenco, personagens, trama e curiosidades.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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