Topo

Por que o samba e o funk não têm noção do valor da live neste momento?

Kevin O Chris e Zeca Pagodinho - Montagem de fotos de reprodução/Instagram
Kevin O Chris e Zeca Pagodinho Imagem: Montagem de fotos de reprodução/Instagram

Colunista do UOL

13/04/2020 10h44

Algumas coisas que você precisa saber sobre os empresários de música sertaneja. Primeiro: eles falam em dinheiro 80% do tempo. Segundo: eles vivem, entre si, uma enorme disputa de quem faz algo maior ou mais relevante. É a tal coisa: amigos, amigos, negócios à parte. Mas o ego deles é infladíssimo. Mas uma coisa, é necessário tirar o chapéu para eles: são muito profissionais. E é por isso que quando surgiu o movimento de transmissões ao vivo na internet, os sertanejos agiram rápido e criaram uma guerra de lives.

O que choca mesmo é a apatia do funk e do samba em relação à transmissão do YouTube. O pagode, então, tem tudo a ver com as lives, que poderiam virar exatamente como acontecem as rodas de samba em centenas de esquinas do Rio. Por isso, a live desse domingo (12) da Turma do Pagode era tão esperada.

No funk, o que se viu até agora foram os DJs Dennis e Pedro Sampaio e alguns MCs sem grande expressão nacional. A desculpa de Anitta para não fazer live, não convenceu. Se existe alguém na música que sabe se relacionar com anunciantes e faturar alto em qualquer ação, esse alguém é ela. Mas ao mesmo tempo, a cantora só entra numa brincadeira se for para deixar seu nome escrito para sempre. Como esse não seria o caso, ela tirou o time de campo. Uma pena. Ludmilla, que quer mesmo escrever a sua própria história, vai unir o pagode com o funk na live que acontece no dia do seu aniversário.

Uma prática que tem sido comum nas lives dos sertanejos são os acordos diretos com as marcas de cerveja. Elas pagam todo o custo da transmissão e tem a sua marca exposta. Mas esse acordo só vale para os sertanejos. Por quê? Justamente pelo profissionalismo dos empresários sertanejos.

A verdade é que essa pandemia trouxe um novo (e enorme) fôlego para a música sertanejo, que vivia uma calmaria desde que passou o fenômeno da entrada com força das mulheres no segmento. Desde então, esperava-se uma renovação, que não veio. E mais: os grandes festivais (Villa Mix e Festeja cresceram mais) o que acabou afetando as pequenas feiras agropecuárias, que viram seu público diminuir significativamente.

Com menos dinheiro, o fã de sertanejo prefere comprar o convite do festival, que além de durar mais tempo, tem mais atrações e está "mais na moda". Mas, quem diria, foi justamente na época de maior dificuldade, em que o sertanejo ressurgiu. E não foi por acaso. É que na "brincadeira" de fazer música, eles levam tudo bem mais a sério.

Blog do Leo Dias