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Felipe Araújo diz que perdoa Zeca Camargo: 'Não estou aqui para julgar'

Colunista do UOL

28/04/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Jornalista fez um texto questionando a comoção do público com a morte de Cristiano Araújo, irmão do cantor
  • Em entrevista exclusiva, Felipe Araújo ainda revelou que sente a presença do irmão
  • "Na maioria das vezes em que penso no Cristiano é sobre como ele agiria na situação que estou vivendo"
  • O cantor também falou de seus relacionamentos e se disse um cara tranquilo

No início de sua carreira solo, as comparações com seu irmão, Cristiano Araújo, que morreu em 2015 vítima de um acidente de carro, eram inúmeras. Hoje, aos 24 anos, Felipe Araújo já provou ser um dos grandes nomes da nova geração da música sertaneja.

Sua música "Atrasadinha", parceria com o pagodeiro Ferrugem, ficou por oito meses entre as três mais tocadas no Brasil. Em entrevista ao jornalista Leo Dias, o cantor falou sobre ter sua imagem veiculada ao irmão: "O Cristiano sempre foi o meu principal mentor na música, ele que me ensinou as coisas que sei".

Felipe lembrou também de quando jornalista Zeca Camargo, após a morte do irmão, escreveu um texto que questionava a comoção do público. A crônica foi lida durante o "Jornal das Dez", da GloboNews, quatro dias após o acidente com o músico, e o jornalista se referia a Cristiano como "quase desconhecido".

"Eu deleto o que o Zeca Camargo fez. Aquele texto, que de certa forma foi desrespeitoso, era uma opinião dele. Eu o perdoo, porque acho que foi um momento de infelicidade. Todo o mundo está propenso a cometer erros, e ele cometeu um erro que foi grave, mas foi um erro. Não estou aqui para julgar ninguém. Não estou aqui para apontar o dedo na cara de ninguém nem falar que a pessoa está errada. Também erro bastante."

Confira, abaixo, trechos da entrevista.

Felipe Araújo - Divulgação - Divulgação
O cantor Felipe Araújo
Imagem: Divulgação
Leo Dias - Vamos falar desse momento de pandemia. Você estava em uma crescente em tudo e, de repente, foi pego de surpresa. É diferente de quem já está há muitos anos na carreira, concorda?

Felipe Araújo - Então, vou analisar voltando um pouquinho. O ano de 2019 foi incrível para mim. Pude concorrer e ganhar vários prêmios. Foi muito abençoado por Deus. Levo esse ano como um dos principais da minha vida, falando em carreira. E, logo em 2020, vem esse baque. Mas é um baque que não pegou só o Felipe Araújo de surpresa, pegou todos os artistas do Brasil, todas as pessoas do mundo, né? É uma situação muito complicada, é o momento de todos os artistas se reinventarem, de fazerem coisas novas. Sempre tento pegar o lado bom de todas as coisas, acredito que as pessoas vão voltar de tudo isso com mais humildade, valorizando as coisas importantes. Valorizando muito mais aquele abraço do fã, aquelas horas na estrada que muitas vezes são cansativas... Estou morrendo de saudade de dormir em aeroporto, para você ter noção [risos].

O que você mudou? Você mudou algum planejamento, obviamente...

Ah, com certeza. Porque neste mês de abril, se não me engano, foram cancelados 18 shows. No mês de março foram cancelados muitos shows também.

"Atrasadinha" é um marco na sua carreira. Quando eu vi que era uma parceria com o Ferrugem, falei: "Como assim? Sertanejo e samba?". E quando ouvi o resultado eu falei: "Gente, é a cara do Brasil!"

Acho que é o grande lance dessa música. Essa mistura desses dois ritmos que são a paixão nacional. E, quando recebi a música "Atrasadinha", era naquele momento em que o Ferrugem estava em ascensão.

E você também. Vocês estavam no mesmo momento.

Sim, e eu não tinha o contato do Ferrugem, não tinha conversado com ele ainda. Só que sempre ouvi nos bastidores que ele era uma pessoa muito gentil, um cara tranquilo, legal. E aí peguei o contato dele e fiz o convite. Ele aceitou, gostou demais da música. Naquele momento fiquei muito feliz. Eu já imaginava que "Atrasadinha" ia ser um grande sucesso.

Você já imaginava por causa da letra?

Não só por causa da letra, acho que é muito por causa do ritmo também, da melodia. Mas acho que por causa dessa inovação. Imaginava que ia ser incrível essa mistura, essa salada do sertanejo com o pagode.

Aliás, uma consideração em relação ao mundo sertanejo: acho que é a música menos preconceituosa que tem, né?

Com certeza. Isso aí seria a máxima maior, porque o sertanejo pega elementos de outros estilos e não tem preconceito.

Mas sabe por que acho isso? Vocês passaram por muito preconceito, foram considerados durante muitos anos bregas, sem qualidade, piegas. Só porque é algo popular e só porque é vindo do interior do Brasil.

De frente para o mar, de costas para o Brasil.

Fala do seu novo DVD?

O DVD já foi lançado, saiu em duas partes. A primeira no final de 2019, com a música "Mentira", que está entre as mais tocadas do Brasil nas rádios e muito bem nos aplicativos de música, graças a Deus. E agora em fevereiro a gente lançou a segunda etapa desse DVD, que tem muita música legal, muita música bacana.

Em que ponto da sua carreira que você falou: "Já consegui provar o meu valor! Não estou mais aqui por ser o irmão do Cristiano"? Houve esse momento de você se questionar sobre isso?

Nunca me questionei sobre isso. Sempre trabalhei sabendo que, se fizesse de forma bem-feita e com muita perseverança, muita dedicação, lançando música boa, isso ia acontecer naturalmente. Acho que depois que lancei "Amor da Sua Cama", que foi o meu terceiro single que estourou, as pessoas começaram a identificar o Felipe Araújo como o Felipe Araújo, e não o Felipe Araújo irmão do Cristiano. Mas nunca pensei dessa forma.

Vamos falar da vida amorosa de Felipe Araújo, que é conturbada, né, querido? Você se lembra daquele e-mail louco que recebi?

Lembro, cara. Que loucura!

Recebi, através do meu empresário, uma carta enorme de uma moça dizendo que tinha como provar, que tinha registro no cartório, que ela havia se casado com o Felipe Araújo. Que eles haviam se separado e não tinham assinado o divórcio, e que ele escondia ela do mundo. Você passa por loucuras como essa?

Isso aí acontece direto. Estou namorando a Estella, e essa pessoa passou a mandar mensagens ameaçando a Estella. A mesma pessoa que falou com você.

E ela fala com uma certeza, que você começa a pensar que é verdade, né?

Pois é, loucura demais! Nunca nem ouvi falar dessa pessoa, não sei nem quem é. Mas isso acontece muito, Leo. Dias atrás estava em um show, uma mulher entrou no camarim e fiquei com medo, porque ela começou a falar: "Você me largou!". Nunca tinha visto aquela mulher. E ela: "Você me deixou! Você vai pagar por tudo isso que você está fazendo comigo!". Cada loucura que a gente passa.

Você é muito namorador, né?

Nada, sou quieto!

Felipe Araújo - Divulgação - Divulgação
O cantor diz sente a presença do irmão, o cantor Cristiano Araújo, que morreu em um acidente de carro em 2015
Imagem: Divulgação

Você é um cara que aproveita a vida. Sempre aproveitou muito a vida.

Sim, agora estou na fase quieto da minha vida, estou namorando, estou bem tranquilo.

Você já traiu, Felipe?

Já e foi uma coisa da qual me arrependi. Foi no meu primeiro relacionamento, quando era bem novo, tinha 17 para 18 anos. Ela descobriu, era a minha primeira namorada, e isso me fez sentir muito mal. Levei para a minha vida esse exemplo. Fico muito tempo sem namorar, às vezes me relaciono com algumas pessoas e tal, mas quando estou namorando sou quieto. Disso você pode ter certeza.

Você se compara ao Cristiano em algum momento? Você sente ele presente?

Sim, sinto ele presente. Falando de carreira, não me comparo, mas sinto ele presente em todos os momentos. Nos momentos complicados, por exemplo... Em um momento igual a esse, fico imaginando o que ele faria, numa situação como essa de coronavírus.

Quando você passa por uma adversidade e consegue superar, você fala: "Putz, acho que tem o dedo dele"?

Ah sim, talvez. Às vezes penso nisso. Por exemplo, às vezes, quando chega uma música, penso: "Essa aqui... O Cristiano pode ter me mandado". E em alguns momentos muito bons também, quando estou cantando. No ano passado, realizei um grande sonho da minha vida que foi participar do Rodeio de Barretos, no palco principal, e senti que a todo momento ele estava presente, ele estava se orgulhando, ele estava vendo tudo acontecer. Foi muito bacana. Mas na maioria das vezes que penso no Cristiano é como ele agiria na situação que estou vivendo.

Aí você procura repetir esse comportamento?

Sim, porque o Cristiano sempre foi o meu principal mentor na música. Ele que me ensinou basicamente as coisas que sei e sempre vi o Cristiano como um cara muito sábio para lidar com as situações. Ele lidava com tudo com muita leveza, muita sabedoria e levo isso como exemplo para mim.

A morte dele talvez tenha aberto os olhos de muita gente que não sabia o tamanho nem a força da música sertaneja, né?

Sim, com certeza. Não costumo falar sobre isso, porque foi uma coisa que passou, uma coisa que eu deixei para trás e tento nem pensar nisso? Eu deleto o que o Zeca Camargo fez, aquele texto que de certa forma foi desrespeitoso, mas era uma opinião dele.

Quando as pessoas acham que as capitais representam o Brasil, as pessoas se enganam. O Zeca tem uma carreira brilhante como jornalista especializado em música, fez grandes entrevistas, só que ele viveu um momento em que não se olhava para o interior. Porque não existia internet, que fez com que a música sertaneja tivesse realmente a sua voz, você concorda?

Concordo e não sei se pode ser coincidência, mas acredito que, depois que tudo isso aconteceu, o sertanejo começou a entrar no Rio de Janeiro, começou a entrar no Nordeste, que era um lugar muito fechado, só com as músicas regionais. O sertanejo começou a invadir tudo.

A pergunta que faço —e nem sei se cabe essa palavra— é você perdoa o Zeca Camargo?

Perdoo, porque acho que foi um momento de infelicidade. Todo o mundo está propenso a cometer erros. Ele cometeu um erro que foi grave, mas não estou aqui para julgar ninguém. Não estou aqui para apontar o dedo na cara de ninguém nem falar que a pessoa está errada. Também erro bastante, ou seja, perdoo ele. Vou te falar uma coisa: o meu personal stylist é irmão dele, o Li Camargo.

O mundo é muito pequeno.

Não conheço o Zeca, nunca encontrei com ele. O Li é um baita de um profissional, é um dos maiores do Brasil, trabalhou muitos anos com o Luan Santana. Eu ia gravar o DVD de "Atrasadinha", estava procurando um figurinista e o Rafael Vanucci indicou o Li. Fiquei quase dois anos trabalhando com ele sem saber que era irmão do Zeca Camargo. Ele não falou, ficou com vergonha e com medo de eu achar ruimassim. Mas falei: "Cara não tem nada a ver".

Você já foi convidado para o "É de Casa"?

Já fui convidado. Agora, nesta quarentena, a gente ia fazer uma live. Foi bem no comecinho.

No "É de Casa"?

É, foi bem no comecinho da pandemia, e estava todo o mundo perdido, sem saber o que fazer. Eu ia fazer aqui da minha casa com eles, só que acho que foi desmarcado por conta do problema mesmo, do coronavírus.

Blog do Leo Dias