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Mauricio Stycer

"Democracia em Vertigem" fala de perto ao americano preocupado com Trump

Imagem de Democracia em Vertigem, documentário sobre o impeachment de Dilma Rousseff  - Reprodução/Netflix
Imagem de Democracia em Vertigem, documentário sobre o impeachment de Dilma Rousseff Imagem: Reprodução/Netflix

Colunista do UOL

13/01/2020 13h11

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Não é simples o caminho de um filme estrangeiro até ter o seu nome anunciado como um indicado ao Oscar. "Democracia em Vertigem", de Petra Costa, anunciado entre os cinco candidatos de melhor documentário nesta segunda-feira (13), chegou lá por vias convencionais, mas não muito perceptíveis ao brasileiro.

Em primeiro lugar, por ser um filme com o selo "original Netflix", ganhou distribuição global. É um impulso importante, ainda mais em um gênero, o documentário, com um volume de produção muito desproporcional ao espaço que tem nos cinemas em qualquer lugar do mundo.

"Democracia em Vertigem" apareceu na pré-lista do Oscar, entre 15 filmes, em dezembro passado. Como é praxe nesta situação, a Netflix fez ações de promoção especificamente dirigidas aos eleitores da Academia. No último sábado, a diretora até festejou a presença de um vistoso outdoor em uma área conhecida de Los Angeles, o Hollywood Blvd, divulgando o filme.

Além disso, o documentário foi muito bem recebido por críticos estrangeiros. Nos Estados Unidos, o mais importante jornal, The New York Times, publicou crítica altamente positiva e colocou o filme numa lista de melhores do ano. O texto é assinado por A.O. Scott, o principal crítico do diário americano. Na Inglaterra, o Guardian, um dos principais jornais do país, deu quatro estrelas e chamou o filme de "poderoso"

O documentário de Petra Costa descreve o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff como um golpe antidemocrático, tese que divide opiniões no Brasil.

Uma pesquisa rápida em críticas e reportagens sobre "Democracia em Vertigem" publicadas nos EUA (Variety, Slate, Deadline, Indiewire) mostra que alguns jornalistas e críticos observam ser possível fazer um paralelo com a situação americana e de outros países. Lembram em seus textos que o governo Trump é visto, por muitos, como um risco à democracia.

Na "The New Yorker", o jornalista e escritor Jon Lee Anderson registrou explicitamente: "Donald Trump nunca aparece neste documentário, mas os telespectadores americanos inevitavelmente perceberão que a perda de amarras do Brasil tem paralelos com a dos Estados Unidos e com a vitória de Trump sobre Hillary Clinton".

É possível supor que, entre os eleitores da Academia do Oscar, há quem comungue desta visão. No próximo dia 9 de fevereiro saberemos o tamanho do apoio ao filme.

Ao festejar a indicação, numa nota publicada em suas redes sociais, a diretora Petra Costa chamou a atenção justamente para este caráter mais amplo do filme. "Numa época em que a extrema direita está se espalhando como uma epidemia, esperamos que esse filme possa nos ajudar a entender como é crucial proteger nossas democracias. Está se tornando cada vez mais evidente o quanto o pessoal é político para tantos ao redor do mundo", disse ela.

No Brasil, como seria de se esperar, infelizmente, o filme reavivou um debate acalorado nas redes sociais, entre esquerda e direita.