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Mauricio Stycer

Ter se divertido com Prior no BBB antes das denúncias não te torna cúmplice

Após ser eliminado do BBB 20, o arquiteto Felipe Prior foi acusado de violência sexual contra três mulheres; ele se diz inocente  - Reprodução / Internet
Após ser eliminado do BBB 20, o arquiteto Felipe Prior foi acusado de violência sexual contra três mulheres; ele se diz inocente Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

07/04/2020 05h01

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As graves acusações contra Felipe Prior, reveladas pela repórter Natacha Cortez no site da "Marie Claire" na sexta-feira (03), colocaram fogo nas redes sociais. A revista trouxe depoimentos de três mulheres - duas afirmam ter sido estupradas pelo arquiteto e uma diz que foi vítima de uma tentativa de estupro em diferentes momentos entre 2014 e 2018.

Além da indignação com Prior, muitas críticas estão sendo dirigidas também a espectadores que apreciaram e elogiaram o desempenho do arquiteto no "BBB 20". Em diferentes tons, li comentários tratando os fãs do participante, que votaram para mantê-lo no programa, quase como cúmplices. A cantora Anitta foi alvo deste tipo de cobrança injusta. "E eu tenho bola de cristal pra saber do passado dos outros?", respondeu ela aos que a criticaram.

Não se pode perder de vista que estas gravíssimas acusações só vieram à tona três dias após a eliminação de Prior do "BBB 20". Houve, é verdade, comentários anteriores com teor semelhante, mas nenhuma informação elaborada e contundente como a reportagem da "Marie Claire" foi divulgada durante o programa.

Não torço e não voto em ninguém, mas registrei no Twitter e em alguns textos que o arquiteto produziu boa diversão para quem estava acompanhando o programa. Por este motivo, também ouvi acusações de "passar pano" para grosserias, "normalizar machismo" e ignorar denúncias anteriores, entre outras.

No clima incandescente do "BBB", os espectadores que odiavam Prior não conseguiam aceitar que outros apreciassem a participação do arquiteto num contexto de entretenimento - tal como muita gente se diverte com vilões de novela. E agora estão "cobrando a conta". Guardem as pedras, por favor.

Mais de uma vez registrei que Prior foi grosseiro em muitas situações e integrou com gosto o grupo que ficou marcado pelas atitudes machistas nas primeiras semanas. Mas entendi que ele conseguiu superar este mau início estabelecendo uma parceria com Babu, agindo com espírito de jogador ao confrontar Pyong e Daniel em diferentes ocasiões e gerando momentos engraçados por causa de seu jeito atrapalhado e raciocínio torto.

O "BBB" é um reality show. Um jogo brutal com prêmio de R$ 1,5 milhão. Esperar que os participantes, independentemente de gênero, tenham um comportamento exemplar o tempo todo no confinamento é sonhar com o impossível, é falso moralismo. Quem julga o "BBB" com a régua da moralidade, no fundo, não gosta do programa.

Dentro do "BBB 20", Prior não foi o único alvo de críticas por seu comportamento com as mulheres. Aliás, no programa da Globo, ele não fez nada parecido com o que Petrix e Pyong fizeram. Não agarrou ninguém, não sentou na cabeça de ninguém, não tentou forçar ninguém a beijá-lo. Dirigiu palavrões a mulheres, sim, o que é sinal de machismo. E possivelmente foi eliminado, com 870 milhões de votos, de um total de 1,5 bilhão, por causa disso. Fim do jogo para Prior.

Os espectadores que se divertiram e admiraram a participação de Prior no "BBB" não tem responsabilidade alguma pelo que ele é acusado de ter feito anos antes de entrar no reality show e que ninguém tinha conhecimento - nem mesmo a Globo, que o selecionou, sabia. Foram fãs de um participante que se revelou um excelente personagem na narrativa do jogo. Só isso. Gostar de ver um tipo assim no reality não torna o espectador avalista do seu comportamento.

Os relatos publicados na "Marie Claire" são pesados, terríveis, de virar o estômago. Não precisaria dizer, mas deixo claro que repudio com todas as minhas forças qualquer tipo de violência. E espero que as acusações contra Prior sejam investigadas com todo o rigor possível.

O lado B do BBB