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Mauricio Stycer

Netflix não inscreve no Emmy o especial do Porta dos Fundos com Jesus gay

Gregório Duvivier e Fábio Porchat no especial de Natal "A Primeira Tentação de Cristo", da Netflix - Reprodução / Internet
Gregório Duvivier e Fábio Porchat no especial de Natal "A Primeira Tentação de Cristo", da Netflix Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

03/09/2020 05h01Atualizada em 03/09/2020 13h55

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Um ano depois de vencer o Emmy Internacional de melhor comédia com "Se Beber, Não Ceie", o Porta dos Fundos não tem a menor chance de repetir o feito em 2020. Por um motivo inusitado: a Netflix, produtora dos dois últimos especiais de Natal do grupo, não inscreveu "A Primeira Tentação de Cristo" na competição deste ano.

O Emmy Internacional conquistado em 2019 foi o primeiro da Netflix com uma produção brasileira. Abrir mão de disputar em 2020 equivale, se fosse um time de futebol, a não participar de um campeonato um ano depois de ser vencedor do torneio.

O anúncio dos finalistas deve ocorrer este mês e a cerimônia de premiação, online, por causa da pandemia de coronavírus, está programada para 21 de novembro. Questionada pelo UOL sobre as razões de não ter inscrito o especial no Emmy Internacional, a Netflix optou por não responder. O Porta dos Fundos também não comentou.

O mais recente especial de Natal do Porta dos Fundos, aparentemente, traumatizou a Netflix.

Na véspera do Natal de 2019, algumas semanas após o lançamento de "A Primeira Tentação de Cristo", a sede do Porta dos Fundos, no Rio, foi alvo de um ataque com coquetéis molotov. Ninguém se feriu. Pelo menos quatro pessoas participaram - e uma foi identificada, o empresário Eduardo Fauzi, que viajou para a Rússia.

No início de janeiro deste ano, o desembargador Benedicto Abicair, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), determinou a suspensão da exibição de "A Primeira Tentação de Cristo". Abicair atendeu a um pedido do Centro Dom Bosco de Fé e Cultura, que alegou que "a honra e a dignidade de milhões de católicos foram gravemente vilipendiadas pelos réus".

A Netflix recorreu ao STF (Supremo Tribunal Federal) pelo direito de exibir o programa, e conseguiu. O especial está à disposição dos assinantes do serviço

A empresa também enfrentou muitas críticas nas redes sociais e, até mesmo, campanhas pelo cancelamento de assinaturas no Brasil e no exterior.

Todo este processo levou a Netflix e o Porta dos Fundos a concordarem em não produzir juntos o novo Especial de Natal em 2020.

É uma decisão compreensível. Mais difícil é entender a opção da empresa de abrir mão de inscrever o último programa no Emmy sabendo que no ano anterior venceu nesta mesma categoria com uma atração muito semelhante, e até mais iconoclasta.

A despeito da decisão da empresa americana, o grupo de humor já assegurou que produzirá um especial de Natal em 2020, mas não divulgou se haverá parceria com alguma outra empresa.

Desde 2013, o Porta produz especiais de Natal iconoclastas e debochados e os divulga no You Tube. Em 2018, com "Se Beber, Não Ceie", o grupo estabeleceu a parceria premiada com a Netflix, que foi renovada em 2019.

"A Primeira Tentação de Cristo" causou a ira de grupos religiosos e conservadores por apresentar uma visão diferente, mundana e descontraída de personagens e passagens bíblicas.

Entre as maiores polêmicas está o Jesus Cristo gay, interpretado por Gregório Duvivier, que se relaciona com o jovem Orlando (Fábio Porchat). Além disso, Deus (Antonio Tabet) vive um triângulo amoroso com José (Rafael Portugal) e Maria (Evelyn Castro).

Procurei a Netflix para comentar o assunto deste texto desde a sexta-feira (28/8). Na terça-feira (01), finalmente, a empresa pediu 24 horas para responder. Na quarta-feira (02), porém, não tive resposta ao meu pedido.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Em algumas menções neste texto, o título "A Primeira Tentação de Cristo" apareceu como "A Última Tentação de Cristo". O erro foi corrigido.