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'Tiger King': o que explica o sucesso de série da Netflix durante a quarentena

Joe Exotic, astro de "Tiger King", em cena do documentário da Netflix - Divulgação/IMDb
Joe Exotic, astro de 'Tiger King', em cena do documentário da Netflix Imagem: Divulgação/IMDb

Redação - BBC News Mundo

11/04/2020 10h21

Intensa. Insana. Viciante.

Não faltam adjetivos para descrever Tiger King, a série da Netflix que se tornou em um fenômeno no atual cenário de confinamento global.

O documentário de sete episódios, cujo título completo é Tiger King: Murder, Mayhem and Madness ("Rei Tigre: assassinato, caos e loucura"), está a caminho de desbancar a série Stranger Things como o maior sucesso da plataforma.

Somente nos Estados Unidos, nos 10 primeiros dias após a estreia, havia 34,3 milhões de espectadores. No mesmo período após a estreia, Stranger Things teve 31,2 milhões, segundo dados da consultoria Nielsen.

O novo sucesso da plataforma é centrado na grande rivalidade entre o comerciante de grandes felinos Joe Exotic, também conhecido como Tiger King, e a proprietária de uma reserva para esses animais, Carole Baskin.

Mas a história vai muito além disso.

Aviso: a partir de agora, esta matéria pode revelar detalhes da trama.

Quem é Joe Exotic?

Joseph Maldonado-Passage é um criador de grandes felinos que até poucos anos atrás era o dono e responsável por dirigir um parque de animais exóticos na cidade de Wynnewood, no estado de Oklahoma, nos Estados Unidos.

Com camisas de cores chamativas, um corte de cabelo peculiar e sua propensão a provocar e se exibir, Joe Exotic se apresenta diante dos olhos dos espectadores como um excêntrico personagem, que se define como "um gay provinciano amante dos grandes felinos".

Joe Exotic flertou com a política e chegou a ser candidato independente ao governo de Oklahoma em 2018 - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
Joe Exotic flertou com a política e chegou a ser candidato independente ao governo de Oklahoma em 2018
Imagem: Divulgação/Netflix

É possível vê-lo conduzir tranquilamente sua caminhonete com um tigre enorme no assento do copiloto, entoar músicas country, participar de um reality show produzido por ele mesmo ou se casar com dois homens de uma vez em uma cerimônia cheia de convidados.

A outra protagonista da série é a eterna inimiga de Joe, Carole Baskin, proprietária do Big Cat Rescue, um santuário que resgata grandes felinos em Tampa, na Flórida. No local, também conhecemos luzes, sombras e esquisitices ao longo do documentário.

A grande disputa entre eles acaba com Joe Exotic preso, ao ser condenado a 22 anos de cadeia por crimes que incluem a intenção de contratar alguém para matar Baskin e outros delitos relacionados com riscos a espécies em perigo e conservacionismo.

Uma completa loucura

Até aqui, poderíamos pensar que a série é um simples relato do enfrentamento entre duas pessoas que atuam no mesmo negócio e, portanto, são adversárias.

Um negócio em que se destaca uma reveladora cifra: nos Estados Unidos há cerca de 7 mil tigres em em cativeiro, enquanto apenas 4 mil vivem em liberdade em todo o mundo.

Mas o sucesso do documentário está nas reviravoltas da trama, nas surpresas escondidas em cada episódio, na sucessão de entrevistados, que são estranhos e deixam o espectador com uma sensação de incredulidade e curiosidade para saber o que acontecerá depois.

Assim, se misturam espetáculos de animais com incêndios intencionais, alianças que se transformam em traições, um desaparecimento sem solução, parques semelhantes a seitas, relacionamentos polígamos, transações ilegais de felinos e animais exóticos e investigações secretas do governo federal dos Estados Unidos.

Não há descanso nesta série. Ela combina o estranho com o cômico e, em alguns momentos, produz vergonha e desconforto, ao mesmo tempo em que deixa um pouco de tristeza pelo destino de seus verdadeiros protagonistas: os grandes felinos.

Decepção com o resultado

Várias pessoas que participaram da série protestaram pelo resultado final que aparece nas telas.

É o caso de Mahamayavi Bhagavan "Doc" Antle, dono de um safári de grandes felinos em Myrtle Beach, na Carolina do Sul, que afirma que quando concordou em colaborar com a série, acreditava que seria um documentário sobre seu trabalho em defesa desses animais.

Ele diz que não imaginava que os detalhes mais íntimos de seu estilo de vida apareceriam. No documentário, é possível vê-lo com várias mulheres, que ele parece controlar como se fosse o líder de uma seita.

Mas sem dúvidas, a situação mais complicada para os produtores da Netflix é relacionada à própria Carole Baskin. Ela participa voluntariamente de entrevistas individuais e com o atual marido, Howard Baskin.

'Sem respeito à verdade'

O problema é que o documentário chama a atenção para o caso do marido anterior de Baskin, Don Lewis, que desapareceu misteriosamente em agosto de 1997.

Algumas das pessoas que aparecem na série apontam que a mulher o assassinou. Inclusive, algumas dizem que Baskin deu os restos do cadáver aos felinos ou o dissolveu em um ácido. Ela se defende das acusações, diz que as considera absurdas e argumenta que nunca foi acusada formalmente.

Em uma longa publicação compartilhada nas redes sociais, Baskin escreveu que a série "tem uma intenção de sugerir, com mentiras e insinuações que não são confiáveis, que ela teve participação no desaparecimento do esposo Don há 21 anos".

"A série apresenta isso sem nenhum respeito à verdade ou, na maioria dos casos, sem me dar a oportunidade de rebater as acusações absurdas antes de divulgá-las", acrescenta.

"As mentiras depreciativas funcionam melhor para conseguir audiência", finaliza.

A Netflix afirmou à BBC que não tem nada a dizer sobre o assunto neste momento.

Baskin nunca foi formalmente acusada pelo desaparecimento de Don Lewis.

No entanto, com o sucesso da série da Netflix, a delegacia que esteve à frente das investigações anunciou que está aberta a novas informações.

Do outro lado, o nome de Joe Exotic chegou a uma coletiva de imprensa diária que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, dá sobre o coronavírus.

Um repórter perguntou se Trump consideraria conceder um perdão presencial ao rei dos tigres. O presidente respondeu, em tom de brincadeira: "Vou estudar o caso".