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Pianista Richard Clayderman encanta "senhorinhas" em show em São Paulo

Richard Clayderman fez mais um show "família" ontem em SP - Decca/Londres
Richard Clayderman fez mais um show "família" ontem em SP Imagem: Decca/Londres

28/08/2016 10h37Atualizada em 28/08/2016 10h49

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São 63 anos de idade, 40 anos de carreira, quase 65 milhões de discos e CDs vendidos, com média de 170 concertos anuais. Ele já tocou em praticamente todos os países do mundo e não há um lugar que se apresente que não acabe lotado.

Foi mais uma vez assim na noite de ontem a apresentação do piansta Richard Clayderman, no Espaço das Américas. Todos os lugares dessa casa paulistana de excelente acústica, luxuosas instalações e serviço caro estavam apinhados e o público absolutamente mesmerizado.

Por todos esses fatores esperava-se muito mais dessa nova visita do lendário pianista francês ao Brasil, e não o que foi: uma apresentação morna, espantosamente calcada em playbacks e acompanhada de um sexteto de cordas (brasileiro) pouco útil.

Motivo: o volume do playback era tanto que não permitia praticamente ouvir ao sexteto (4 violinos, uma viola e um cello). Em ao menos uma música até algumas notas de piano estavam no playback também, com pouca utilidade..

Clayderman, o pianista galã dos anos 70 envelheceu, perdeu muitos de seus sedosos cabelos loiros e hoje, em aparência, lembra vagamente o empresário Eike Baptista. 

No wikipedia, sua música é definida como “easy listening”, e não é à toa que sua famosa “Balada por Adeline” e tantos outros de seus sucessos toquem até hoje em elevadores e clínicas de estética.

O show se divide entre esses velhos e consagrados sucessos, ilustrados por clipes melosos num telão, além de aqui e ali surgir uma releitura de outros clássicos da música, que incluem Elton John e Vangelis. Também  há uma rápida passagem por um bluegrass-country, no qual Clayderman mostra uma minúscula amostra de seu enorme virtuosismo.

Sim, para quem não sabe ele é um grande e premiado pianista, nascido numa família de virtuosos músicos e que, por acaso, deixou nos anos 70 uma banda de rock pauleira assim que descobriu que podia explorar e ficar milionário com o filão da “música fácil de escutar”.

Quando eu era (mais) jovem, uma de minhas professoras de piano brincava comigo dizendo que há no mundo dois tipos de pessoas: as que tocam piano e as que morrem de frustração por não tocar piano.

Ontem, no Espaço das Américas, foi possível ver como essa brincadeira tinha um fundo de verdade. Não lembro de ter assistido a um outro show ou concerto onde o público estava tão hipnotizado e silencioso: cada acorde era esperado com ansiedade e absorvido pela plateia que estava na faixa média aparente de 40 a 80 anos, 50% homens, 50% mulheres.

Suspiros e muitos aplausos permearam todo o show de cerca de 1h40 com um estudado intervalo de 15 minutos.

Clayderman não é só um showman, mas é um showman fofo, que finge cara de vergonha quando é muito aplaudido, dá partituras de presente a alguns da plateia, recebe flores e ainda lê recadinhos em português. Um show "família".

Do ponto de vista musical, embora tenha lá seu inegável pioneirismo (ainda que no “musak”), poderia ter ido muito além, dado seu inegável e reconhecido virtuosismo. Mas, provavelmente, como tantos artistas, acomodou-se e se tornou um músico encantador. Não de perigosas serpentes, mas de adoráveis senhorinhas.