Topo

Com humor e mistério, Porta dos Fundos estreia série "O Grande Gonzalez"

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

02/11/2015 07h00

Um assassinato, oito suspeitos e a investigação do crime durante dez episódios. Essa poderia ser a sinopse de uma série policial qualquer se não acontecesse numa festa infantil, se a vítima não fosse um mágico e se a atração não tivesse a assinatura dos humoristas do Porta dos Fundos, que estreiam "O Grande Gonzalez", sua primeira produção inédita na TV nesta segunda-feira (2), às 22h, na Fox. O mistério das tramas de Agatha Christie pode até ser uma referência, mas é a comédia que continua dando o tom da história.

"Vamos manter o humor irreverente do Porta. A equipe tem um tamanho três vezes maior, a gente não está acostumado, mas acho que estamos conseguindo continuar irresponsáveis", diz Gregorio Duvivier, que interpreta o vaidoso mágico Gerardi, rival de Gonzalez (Luis Lobianco) e um dos suspeitos do crime. "É uma brincadeira em cima da história policial. Tem bem a nossa cara de pegar um gênero e desvirtuar. Tem um pouco de Agatha Christie, uma pegada de terror meio Tim Burton, meio Stephen King. É um pouco de terror cômico", adianta.

Em julho, o UOL acompanhou um dia de gravações da série numa casa de festas no Alto da Boa Vista, no Rio, que serviu de cenário para as sequências do aniversário. Os improvisos de Duvivier nos movimentos em câmera lenta com seus cabelos esvoaçantes ajudavam a descontrair a equipe, em ação das 6h às 18h. O trabalho exigia atenção redobrada da assistente de direção Rebeca Diniz por envolver muitos figurantes: 60, sendo 30 delas crianças.

Em cena, a atriz mirim Mirella Vitória, 9, recebia instruções do diretor Ian SBF na cena em que se oferecia como voluntária para um truque de Girardi e acabava presa numa caixa. "Fala bem mais irritada", pedia o diretor, sendo atendido em seguida. "Os atores me ajudam falando o nome da minha personagem, que eu esqueço", confessa a menina, acrescentando que quer ser atriz "pra sempre".

Em seguida, Duvivier e Fábio Porchat, que interpreta o palhaço trambiqueiro Rômulo, trocavam ameaças sob uma cortina de fumaça, sequência que precisou ser refeita algumas vezes até a equipe de efeitos acertar a quantidade exata para a cena. Depois do almoço, Porchat era quem precisava de mais retoques na maquiagem.

"É um inferno. Você não consegue coçar o rosto, não sai nunca, fica eternamente. Chego 40 minutos mais cedo todos os dias. E hoje fui almoçar de palhaço. É até bom porque assim ninguém me reconhece no restaurante", brinca o ator, que se inspirou no protagonista mal-humorado do filme "Papai Noel às Avessas".

Vários pontos de vista
Enquanto isso, Lobianco e Thati Lopes, que vive sua assistente (e amante) Vanessa, aproveitavam os momentos de folga para um descanso. "Hoje, por acaso, consegui dormir aqui. Mas à noite tenho espetáculo. No dia da sequência mais importante, a morte dele no tanque de água, vim virado e gravei o dia inteiro na água. Depois, dormi por 14 horas seguidas", diz o ator, que fez treinamento para o papel com os mágicos Bueno e Alessandra Brantes, que acompanham de perto o trabalho no set.

Roteirista final e diretor da série, SBF diz que foi um desafio contar uma história tão longa, que vai apresentar diferentes versões do evento contadas por cada suspeito – além dos já citados, entram na lista Rebeca (Clarice Falcão), madrasta do aniversariante, Camilo (Camilo Borges), pai da criança, Antônio (Flávio Pardal), o dono do local, o vendedor de cachorro-quente Jurandir (Gabriel Totoro) e o cameraman João (Rafael Infante). Antonio Tabet e João Vicente de Castro vivem os policiais que conduzem a investigação.

"O mais complicado é juntar todos esses pontos de vista. Não é só uma piada, é um quebra-cabeça. Depois de 40 dias filmando, posso dizer que não quero nunca mais fazer uma série na minha vida", brinca o diretor Ian SBF, referindo-se à rotina de gravações de seis dias por semana.

Para quem estranha a investida do coletivo na televisão, eles lembram que o fundamental é a produção de conteúdo, não importa o veículo: tanto que já planejam seu primeiro longa-metragem, investem em novos canais na internet (Porta Afora) e produzem peças de teatro ("Portátil"). Mas é curioso lembrar que, antes de o Porta dos Fundos virar sinônimo de uma bem-sucedida empreitada no YouTube, o grupo apresentou o projeto para a própria Fox.

"A gente nunca foi contra a televisão. Levamos aquele primeiro vídeo para eles, e disseram não. Anos depois pegaram de volta, o mesmo canal. Na época, outros projetos estavam consumindo muito dinheiro, eles não poderiam abraçar mais um", diz Ian, acrescentando que a exibição dos esquetes na TV, no ano passado, ampliou o público do grupo.

Exibida de segunda a sexta na Fox, "O Grande Gonzalez" também tem estreia prevista na plataforma sob demanda Fox Play a partir do dia 1º de novembro e depois vai para o canal do grupo na internet. A TV aberta, no entanto, continua sendo vista com restrição por eles. "O Porta, do jeito que é, eu seria contra, não acho que seja o perfil. Temos 10 milhões de inscritos no nosso canal, uma média de 3 milhões de visualizações, mas quando você fala para o Brasil inteiro, tem que pensar que está falando para 200 milhões de pessoas têm que abrir concessões", opina o diretor e um dos sócios do coletivo.