Morte de cachorra ajudou Sérgio Marone a chorar perda do filho em novela

Durante as gravações de uma das cenas mais emocionantes da novela bíblica "Os Dez Mandamentos", Sérgio Marone buscou em uma experiência pessoal a tristeza para chorar a morte do filho primogênito do rei egípcio Ramsés: a perda de Maria, sua cachorra. 

"Eu estava muito nervoso, apreensivo com essa cena, porque nunca senti nada parecido com a dor de perder um filho. Eu tinha uma filha, uma cachorra chamada Maria, uma golden retriever. Eu estava na casa de um amigo, tinha um fio desencapado, ela mordeu esse fio e morreu. Tive uma experiência parecida com um animal, que eu considerava um filho para mim, que eu amava muito. Nessa hora, além de me concentrar muito na cena, que uma carga dramática muito forte, puxei um pouco dessa emoção de quando eu perdi minha filhota e tive que carregá-la no colo, exatamente como Ramsés fez com filho", disse ao UOL o ator, enquanto assistia à cena da morte de Amenhotep (José Victor Pires), atingido pela décima e última praga enviada por Deus, na noite desta terça-feira (3).

Embora ainda não seja pai, o ator "adotou" José Victor Pires, intérprete de Amenhotep, e vê semelhança física com seu filho na ficção. "É engraçado, a gente é muito parecido, ainda mais com a maquiagem. Eu olhava para ele em cena em alguns momentos. Fiquei com vontade de ter um filho (risos)", brinca.

Nesta semana, Marone conseguiu algo raro: assistiu à novela dois dias consecutivos. Por causa do ritmo intenso de gravações para esticar "Os Dez Mandamentos", o ator não conseguiu voltar para casa a tempo de ver a trama.

"Faz uns dias que estou praticamente 'sem vida'. De casa para a Record. No máximo saio para treinar, mas tenho ficado tão cansado que até dei uma relaxada no ritmo de treino. Neste último ano, minha vida foi o Ramsés, e agora, nesse último mês, mais do que nunca. Dormia e acordava pensando nele, lendo texto. O personagem pedia, até pelo volume de cenas", conta.

Assédio e fim de preconceito

Aos 34 anos e com dez novelas no currículo, Sérgio Marone avalia Ramsés como o principal personagem de sua carreira até agora. O ator sempre acreditou no sucesso da trama, mas confessa ter se surpreendido com a audiência (chega a bater a Globo na disputa por audiência) e o assédio de mulheres que desejam o vilão.

Acho que essa novela foi uma mudança de paradigma mesmo, em vários sentidos, até para quebrar um pouco esse preconceito. A novela é bíblica, mas além disso é uma novela ética, fala de valores humanos, independentemente da época, que estão até hoje
Sérgio Marone

"Superou as minhas expectativas, é um fenômeno. Desde crianças enlouquecidas até idosos, todas as faixas etárias, homem, mulher. Mulherada comentando que homens estão raspando a cabeça e pedem para elas chamá-los de soberanos, mulher vindo até mim pedindo para ser minha segunda esposa", afirma.

Para o ator, "Os Dez Mandamentos" ajuda a quebrar o preconceito de parte do público contra novelas da Record e produções bíblicas: "[Fui abordado por] gente que nunca viu novela, gente que nunca viu novela na Record. Acho que essa novela foi uma mudança de paradigma mesmo, em vários sentidos, até para quebrar um pouco esse preconceito. A novela é bíblica, mas além disso é uma novela ética, fala de valores humanos, independentemente da época, que estão até hoje".

A abordagem mais emocionante, entretanto, não foi de uma mulher, e sim de uma criança que chorou porque Ramsés não libertava o povo hebreu. O ator chegou a gravar um vídeo, como o vilão, avisando que vai libertá-los.

"É muito legal isso, essa coisa pueril da criança, de acreditar. Ele foi lá no RecNov com o próprio cajado, tinha uma seriedade no olhar dele quando falava. Tudo que falta hoje em dia é amor ao próximo, e ver um moleque naquela idade e já com essa generosidade, preocupado e corajoso de enfrentar aquele personagem em que ele acredita, isso não tem preço, é incrível. Gravei como Ramsés para não quebrar o lúdico dele, para continuar fazendo ele acreditar", recorda, emocionado.

Game of Thrones inspirou Ramsés

Para compor Ramsés, Sérgio Marone abriu mão da Bíblia e se inspirou em filmes como "Calígula" (1979) e na série "Game of Thrones".

"Bebi muita coisa de 'Game of Thrones'. Assisto muito à série, adoro. Por exemplo, o menino, filho da Cersei, o reizinho [Joffrey Baratheon] tinha algumas coisas do Ramsés no começo, meio mimado, prepotente, arrogante. 'Calígula' é um filme que vi várias vezes, porque tem dois ditadores romanos bem perversos e loucos. Teve um livro que o Zécarlos Machado me deu, 'Ramsés, o Filho da Luz', um romance que também foi fundamental para povoar meu lado lúdico, porque fala muito da atmosfera e o clima dos palácios e da época. O próprio Zécarlos Machado, fiquei muito atento para ter alguns trejeitos do Seti, porque é natural acabar herdando manias do pai", explica.

Contratado da Record até 2017, o ator espera não ser chamado para novelas em 2016 para descansar sua imagem e fazer o público esquecer que ele foi Ramsés, ao contrário do que outras emissoras, na opinião dele e sem citar nomes, fazem com seus atores.

"Depois de um personagem como esse, tem que ter um bom descanso de imagem. Pelo menos um ano fora do ar. Foi um personagem muito forte, que vai ficar no imaginário do público durante um bom tempo. Se eu vier com outro personagem em menos de um ano, dificilmente as pessoas vão acreditar e se envolver da maneira como se envolveram com o Ramsés, porque vai estar muito fresco na cabeça. Você vê isso direto, principalmente na televisão hoje em dia. Estão repetindo muito os atores, estão acabando uma novela e logo entrando em outra. Isso é complicado", critica.