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Papel abre discussão sobre machismo e racismo, diz ator de "Além do Tempo"

Zécarlos Machado é Queiroz na novela "Além do Tempo" - Divulgação/TV Globo
Zécarlos Machado é Queiroz na novela "Além do Tempo" Imagem: Divulgação/TV Globo

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

27/11/2015 12h40

Machista, intolerante, racista, retrógrado, preconceituoso. Os adjetivos são insuficientes para descrever as atitudes de Queiroz, de "Além do Tempo", que faz questão de ofender Gema (Louise Cardoso), Chico (João Gabriel D'Aleluia) e Raul (Val Perré). Além de constantemente diminuir a mulher, mantém distância do menino, que não considera da família por ser "afrodescente", e humilha o fotógrafo, a quem só se refere como "aquele sujeito" e "aquele crioulo".

Mas o intérprete Zécarlos Machado comemora que o personagem tenha tantos defeitos de caráter. Na visão do ator, são justamente essas características que provocam um debate.

"Ele tem uma certa função, que é o resgate entre Gema e Raul, tinha que vir meio torto. E espero que isso acabe provocando discussão. Infelizmente a gente ainda tem que discutir essas questões, que estão muito presentes na nossa vida, na nossa sociedade. A novela tem muita receptividade, então tem algumas responsabilidades, como trazer alguma coisa que nos faça refletir sobre esse comportamento, que está muito mais presente do que a gente imagina. Chega a ser assustador. Sabe esses atentados que aconteceram na França agora? Estamos num grau de barbárie muito grande, acho que tudo começa dentro de cada um", analisa.

Segundo o ator, que entrou apenas na segunda fase da trama de Elizabeth Jhin, não demorou muito para que se sentisse em casa. Além de ingressar numa história que já estava pela metade, a chegada significou ainda uma troca de emissora, já que meses antes estava no ar na Record como o faraó Seti em "Os Dez Mandamentos". "Botar o corpo à disposição daquele pensamento, daquele figurino, daquela maquiagem, daqueles rituais é um exercício fascinante para o ator. Foi um trabalho exigente, foi bastante trabalhoso, mas muito mágico", afirma.

A oportunidade de fazer um trabalho que exigisse um estudo profundo sobre um universo tão rico foi o que encantou na trama de Vivian de Oliveira. "Meus olhos brilharam quando o Alexandre Avancini (diretor geral da novela) começou a me mostrar o projeto. Qualquer ator se encanta com a possibilidade de fazer um faraó aqui no Brasil. Eu conhecia a cultura egípcia, que dominou o planeta por mais de cinco mil anos, do colégio. Depois que eu tive que me aprofundar, entender os ritos, toda aquela coisa dos deuses", lembra ele, que não considera a história apenas bíblica.

"É uma história política, comportamental de organização social. A gente consegue muito bem encontrar sintonia no mundo de hoje e ver de alguma maneira alguns valores que a gente tem que resgatar. Então eu vejo até alguma associação nas duas novelas e fico muito feliz de ter esse ano estar participando das duas", conta.

Machado explica que seu contrato com a Record terminaria em junho. Depois de "Os Dez Mandamentos", seus projetos eram dois longas-metragens: "Elis", de Hugo Prata, e "A Espera de Liz", de Bruno Torres. Depois disso, estava disponível quando o convite para a novela da Globo surgiu. E uma coincidência o fez ter certeza de que estava no caminho certo.

"Rodamos esse segundo filme em Gramado, uma região linda. E, coincidentemente, essa novela fala do Sul. Foi um imbróglio que aconteceu esse ano muito estimulante, fico falando que isso não é por acaso. Tem alguma sintonia, a gente tem que acreditar um pouco no nosso instinto. As duas casas me acolheram muito bem e me deram espaço de criação. Aproveitei para fazer teatro também, as coisas vão se encaixando. Se a gente tiver generosidade e fé naquilo que a gente faz, o universo conspira a favor", diz.