MP faz operação e apreende provas por crime contra Maju, diz Globo
O Ministério Público de São Paulo promoveu uma operação na manhã desta quinta-feira (10) para apreender provas por crime de racismo contra a jornalista Maria Júlia Coutinho. As informações foram divulgadas pela TV Globo.
Segundo a emissora, só nesta fase das investigações, a Justiça determinou 25 mandados de busca e apreensão em oito Estados --SP, MG, GO, CE, PE, AM, SC e RS.
Em São Paulo, um rapaz de 21 anos prestou depoimento durante 4 horas aos procuradores, teve o computador apreendido, mas negou envolvimento nas ofensas contra a jornalista.
"Não, o meu grupo não [fez os ataques], agora, o grupo que publicou, eu sei quem foi, e eu vou falar. Lógico, não vou segurar o 'rojão' de ninguém", disse o suspeito, identificado pela reportagem como Kaique Batista, auxiliar de produção e morador da zona Norte da capital paulista.
Outro suspeito, e que é apontado pela investigação como líder dos ataques, foi localizado em Sorocaba, no interior de São Paulo. No celular dele foram encontrados outros grupos com mensagens racistas.
Já em Rio Verde, em Goiás, a polícia identificou um adolescente de 16 anos, suspeito de ser responsável por parte das ofensas. Ele prestou depoimento, mas também negou as acusações.
Identificados, os acusados deverão responder na Justiça pelos crimes de injúria, racismo e organização criminosa.
Maria Júlia Coutinho --ou simplesmente Maju-- sofreu ofensas racistas em julho em uma publicação com a sua imagem na página oficial do "JN" no Facebook. Alguns internautas fizeram piadas e publicaram comentários pejorativos e racistas, como "Só conseguiu emprego no 'Jornal Nacional' por causa das cotas. Preta imunda" ou "Vá fazer as previsões do tempo na senzala".
Revoltados, internautas, telespectadores, famosos, colegas de Redação e profissão saíram em defesa da jornalista, publicaram comentários de repúdio e subiram a hashtag #SomosTodosMajuCoutinho.
A jornalista quebrou o silêncio pouco tempo depois durante a edição do "Jornal Nacional". "Estava todo mundo preocupado. Muita gente imaginou que eu estaria chorando pelos corredores. Mas a verdade é o seguinte, gente. Eu já lido com a questão do preconceito desde que eu me entendo por gente. Claro que eu fico muito indignada, triste com isso, mas eu não esmoreço, não perco o ânimo", disse ela. "Eu cresci em uma família muito consciente, os meus pais sempre me orientaram. Acho importante que medidas legais sejam tomadas, para evitar ataques a mim e a outras pessoas", ressaltou.
"Também quero manifestar aqui, porque fiquei muito feliz com o carinho, recebi milhares de e-mails, de mensagens. Mas o mais importante é que a militância que faço é com o meu trabalho, sempre bem feito, com muito carinho, com muita dedicação, com muita competência, que é o mais importante. Os preconceituosos ladram, mas a caravana passa", finalizou.
Formada pela Cásper Líbero e com rápida passagem pela TV Cultura, Maria Júlia iniciou a sua carreira no jornalismo da Globo como repórter de telejornais locais, em São Paulo. Se tornou pouco tempo depois a moça do tempo no "SPTV", "Bom Dia São Paulo", "Bom Dia Brasil" e também no "Hora 1". Ela é conhecida na Redação paulista com esse apelido, "Maju".
É considerada uma das repórteres mais simpáticas da emissora, e ganhou uma legião de fãs nas redes sociais depois que passou a interagir diariamente --e de forma descontraída-- com o âncora William Bonner no "Jornal Nacional". Maju é a primeira mulher negra a se tornar a moça do tempo do "JN", função que ocupa desde abril.
Racismo é crime
A pessoa acusada por injúria racial pode ser autuada pelo Art. 140 do Código Penal, com pena de reclusão de um a três anos e multa. "Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Pena - reclusão de um a três anos e multa", diz um trecho do Código Penal.
Site para denúncias
A presidente Dilma Rousseff anunciou em abril o lançamento de um site chamado "Humaniza Redes". A ideia, segundo o governo, é que o portal seja um espaço para denúncias de violação de direitos humanos na internet (como racismo, pedofilia, intolerância religiosa, etc) e utilizar a página para a promoção de conteúdos para uso seguro da rede.
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