Topo

Paródias de sucesso do "Tá no Ar" são trabalho meticuloso, diz Adnet

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

02/03/2016 07h00

Eles não tocam nas rádios nem levam Grammys para casa, mas viram hits imediatos toda semana. Basta uma olhada nas redes sociais nas manhãs de quarta-feira para descobrir versões ácidas e muito bem-humoradas de canções conhecidas nos já famosos clipes do "Tá no Ar", que não perdoam a hipocrisia cotidiana, a corrupção policial nem os telespectadores atrasados com suas séries favoritas.

"A música é uma ferramenta de comunicação muito poderosa para o riso, para a sátira. E é uma coisa universal, cativa de um jeito diferente", analisa Marcelo Adnet, que compõe as letras com Marcius Melhem, Maurício Rizzo e uma equipe de outros seis roteiristas do programa.

Ainda na MTV, Adnet lançou paródias memoráveis ao lado dos companheiros de "Comédia MTV" como "Indiretas Já", sobre o clássico "Roda Viva", de Chico Buarque, e "Gaiola das Cabeçudas", proibidão rebolativo recheado de referências intelectuais.

O processo de criação costuma ser bastante variável, conta Adnet. Uma letra pode ser feita em questão de horas, durante uma reunião, ou ser gestada verso a verso por uma semana, até ficar no ponto. "Em 'Spoilers', a gente tinha o refrão, os personagens que morreram. Mas tem que apurar, verificar quem realmente morreu em 'Game of Thrones', porque a ordem importa. E tem que casar com a rima! É um trabalho muito meticuloso", explica ele, sobre a paródia em cima do hit "Royals", da cantora neozelandesa Lorde. "A gente sabia que ia viralizar", diz.

Mas a música, uma dos que mais repercutiu na atual temporada, sofreu alterações até depois de o clipe já estar totalmente gravado. "O verso 'Kylo matou Han Solo' foi uma alteração. A gente falava do 'Chatô', mas o filme ficou pronto. A música estava pronta há mais de meio ano. Decidimos trocar, gravei a voz por cima e refiz a cena com chroma key usando a mesma caracterização. Ficou mais atual", conta.

No caso de "Spoilers", a inspiração partiu do trocadilho em cima do nome da canção. Outras produções surgem primeiro de uma ideia, como foi a paródia sobre "O Que É, O Que É", de Gonzaguinha, um dos favoritos de Adnet.

"Essa surgiu do conceito de a gente nunca olhar para o que a gente faz no dia a dia. Já o samba-enredo da segunda temporada, que talvez seja um dos nossos clipes mais famosos e é bem crítico, não é nem paródia. É uma canção original: além da letra, criamos também a melodia", explica ele.

Clipes marcantes

A produção conta com o auxílio do produtor e arranjador Marcio Lomiranda, que recria ainda as bases para os hits do quadro "Silvio's Greatest Songs", também interpretado por Adnet. Nos vídeos que exigem um talento extra - a dança -, a coreógrafa Fabiana Schunk ajuda a ensaiar a turma. Foi o caso de "É o Yoga", que misturou axé com meditação de inspiração oriental.

"Isso foi antes da minha hérnia. Tive uma inflamação na lombar que me deixou quase um mês afastado das gravações, fiquei de cama. Mas é doação. Ator se joga para fazer as coisas acontecerem. Não tenho muito talento não. Quem manda bem na ioga é a Georgiana Góes, que deu uns toques nas posições", diz.

Alguns vídeos, como o "Erra PM" (sátira à banda RPM), dão mais trabalho para serem realizados. "A gente tinha peruca comprida, meio Paulo Ricardo dos anos 80, a farda era quente, pesada... Foram muitos takes, foi bastante trabalhoso. Lembro de um muito interessante, que foi o encerramento da primeira temporada. Brincamos com a música de fim de ano da Globo ("Um Novo Tempo"), e enquanto passávamos pelo Projac, ia entrando o pessoal do elenco. Ali a gente percebeu que eles estavam se sentindo à vontade para fazer parte do programa. Foi um clipe marcante", lembra.

Filho e sobrinho de músicos, Adnet diz que deve boa parte de sua aptidão musical à herança familiar. "Não tenho nem um décimo do conhecimento deles, mas aprendi o pouco que sei com eles. Quem tem bom ouvido para música também tem bom ouvido para sotaques, imitações. Tudo está mais próximo do que a gente imagina", conta ele, que não tem interesse numa carreira "séria" na área. "Toco só um violãozinho e um pianinho básicos", diz.