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Filho de Shaolin diz que novela o ajuda a superar morte do pai

13.abr.2016 - O ator e humorista Lucas Veloso estreia em "Velho Chico", novela da Globo - Reprodução/TV Globo
13.abr.2016 - O ator e humorista Lucas Veloso estreia em "Velho Chico", novela da Globo Imagem: Reprodução/TV Globo

Paulo Pacheco

Do UOL, em São Paulo

14/04/2016 06h00

Filho do humorista Shaolin, morto em janeiro, Lucas Veloso não esconde a ansiedade ao se ver na TV em "Velho Chico", sua primeira novela. A estreia de seu personagem, também chamado Lucas, foi ao ar nesta quarta-feira (13). Prestes a completar 20 anos, o jovem ator, que seguiu a carreira do pai e faz shows de comédia, ainda está se acostumando à rotina de gravações e às viagens entre Campina Grande (PB), onde mora com a família, e Rio de Janeiro.

"Nunca fui de decorar texto. No meu show eu crio tudo na hora, mas agora está sendo até fácil porque vou mais pela ideia, tento entender o que acontece no capítulo e as falas só explicam o que estou entendendo. O que está desgastando mais é a ponte aérea, porque avião é um pouco desconfortável. Costumo dizer que não tenho medo de avião, tenho medo do aeroporto, porque, quando um voo atrasa, ficar naquele aeroporto é chato, é muita ansiedade. Fico pensando em estudar as cenas no hotel", conta o ator ao UOL.

Lucas Veloso, Giullia Buscacio e Domingos Montagner - TV Globo/Divulgação - TV Globo/Divulgação
Lucas Veloso, Giullia Buscacio e Domingos Montagner em "Velho Chico"
Imagem: TV Globo/Divulgação
Em "Velho Chico", Lucas é um estudante de agronomia que se apaixona pela melhor amiga, Olívia (Giullia Buscacio), filha de Santo (Domingos Montagner). A relação do jovem com a amada é o que se costuma chamar na internet de "friendzone" ("zona da amizade", em tradução livre). "Essa danada da 'friendzone' para matar com a gente... ela o vê como um irmão, porque na hora que ela precisa de alguém para conversar, uma companhia, ele está perto dela para ajudar em tudo. É realmente aquele amor de escola", explica Lucas.

Além de gostar de Olívia, Lucas idolatra seu "quase sogro" Santo, considerado "herói" pelo jovem: "Foi o cara que fundou a cooperativa, teve garra no início e fez os pequenos produtores trabalharem mais, fez crescer aquela cidadezinha. A admiração pela Olívia, além da beleza e da inteligência, é pela família dela. Ele é apaixonado por aquela família".

Assim como seu personagem, Lucas já sofreu por amor. Solteiro, ele se identifica com o estudante de "Velho Chico": "Acho que todo mundo já passou por isso. Costumo dizer que a vida amorosa de um humorista é sempre uma porcaria, porque sempre que a gente gosta de uma pessoa e vai se declarar ela dá uma risada da nossa cara, acha que é brincadeira. Já aconteceu muito comigo, mas a gente acaba levando na esportiva e não se machucando muito".

Humoristas em "Velho Chico"

Lucas Veloso é mais um comediante em "Velho Chico". Batoré, ex-"A Praça É Nossa", interpretou o delegado na primeira fase da trama e chamou a atenção do público pelo papel dramático. Saulo Laranjeira, famoso pelo deputado João Plenário na "Praça", também estreou nesta quarta como o prefeito Raimundo. Apesar do tom cômico, o personagem do filho de Shaolin tem um humor diferente do que o ator faz em seus shows.

"No humor que faço na TV e no teatro, ponho a minha piada à frente do entendimento do público. No caso do Lucas, a piada está na inocência dele. O público vai rir, mas ele não sabe que está sendo engraçado. O personagem é atrapalhado, o fato de gostar da Olívia o faz mais atrapalhado ainda, então na inocência dele ele não sabe que está sendo engraçado, mas acaba sendo. Conquistar o sorriso da Olívia é o que faz ele ficar em êxtase, mas ele não sabe direito como faz isso", explica.

Ex-Record, Lucas conseguiu um papel em "Velho Chico" após enviar vídeos de seu trabalho para o diretor Luiz Fernando Carvalho, que estava à procura de atores nordestinos para a novela. O humorista comemora a valorização do Nordeste na trama da Globo e a liberdade que tem para criar em cima do personagem, algo raro na teledramaturgia.

O Bruno e a Edmara [Barbosa, autores de "Velho Chico"] me deram um presente maravilhoso, capítulos que me dão margem para brincar muito. E o Luiz Fernando deixou claro para todos nós, atores, que somos coautores da novela. Ele quer atores que criem também. Quando pego um texto e vejo que está engraçado, eles permitem que eu amplie para que eu possa colocar mais graça. Já soube que essa liberdade não é em qualquer canto da casa que a gente tem. É um privilégio, graças a Deus", elogia.

Lucas Veloso ao lado do pai, o humorista Shaolin, morto em janeiro de 2016 - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Lucas Veloso ao lado do pai, Shaolin
Imagem: Reprodução/Facebook
"Sinto Shaolin perto sempre"

Lucas Veloso conseguiu o papel em "Velho Chico" em novembro de 2015, dois meses antes da morte de Shaolin, pai e um de seus mentores no humor. Ao saber a novidade, o humorista parabenizou com orgulho o filho e deu a ele dicas de atuação, mesmo com as sequelas do acidente automobilístico em janeiro de 2011, que o deixaram imobilizado e interromperam sua carreira.

"Meu começo está sendo um pouco parecido com o dele, o primeiro contrato televisivo foi na Globo também, no 'Domingão do Faustão'. Ficou muito feliz, muito contente de saber disso e me ajudava, eu lia o texto perto e ele me dava uns toques de como eu interpretava, porque nesse quesito, alegria, ele tem doutorado. Sempre buscava o auxílio dele para poder melhorar mais, e a opinião dele e da minha mãe sempre pesaram muito", relembra.

Embora seja filho de Shaolin, Lucas ressalta que entrou em "Velho Chico" por mérito próprio, sem usar o nome do pai. A morte dele o abalou na construção de seu personagem, mas a novela tem ajudado o ator a superar a perda.

"Na época, foi difícil para mim porque eu ainda estava em processo de criação, mas acho que ele no meu lugar daria uma respirada e continuaria o trabalho, porque tem pelo menos 20 mil pessoas querendo estar no meu lugar e um Brasil inteiro esperando para receber uma dose de alegria. Procurei ficar com o que ele deixou de melhor, esquecer que dói a ida dele, mas pegar essa parcela boa de alegria e levar para a frente, usar como gás. Sinto ele perto sempre, e alma de artista não morre nunca", diz Lucas, emocionado.