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Com jornalismo "descolado", série "Vice" atrai jovens e busca temas globais

O combate à poliomielite é um temas da quarta temporada da "Vice" - Reprodução/Vice
O combate à poliomielite é um temas da quarta temporada da "Vice" Imagem: Reprodução/Vice

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

06/05/2016 10h35

Conhecido por seu estilo irreverente, o grupo de mídia “Vice” já tem, há quatro temporadas, uma série documental homônima na HBO. E em uma época na qual o jornalismo televisivo tem se transformado e a informalidade se estabeleceu até no “Jornal Nacional”, é justamente na falta de burocracia que tanto a revista que deu origem ao grupo quanto o programa têm seu principal trunfo – pelo menos na opinião de um dos fundadores da empresa, Suroosh Alvi.

“Nós sempre abordamos as coisas de um jeito diferente, talvez porque não cursamos a faculdade de jornalismo - então não sabíamos que havia toda essas regras às quais devíamos obedecer”, disse o jornalista em entrevista ao UOL, via teleconferência. “Nós queremos chegar tão perto da fonte quanto possível, e queremos que o conteúdo seja tão real e cru quanto possível. Acho que há muita honestidade lá e isso se conecta com o nosso público, por isso que dá certo”.

A estratégia tem funcionado principalmente entre o público mais jovem, que se identifica mais com o jornalismo “descolado” praticado pelo grupo, na avaliação de Alvi. “Por um bom tempo, a faixa mais jovem, de 18 a 34 anos, pelo menos aqui [EUA], não estava confiando nas companhias de mídia maiores e mais antigas. Não é que eles não se importassem com as notícias, eles não as recebiam de uma forma com a qual pudessem se relacionar, se identificar. Quando você recebe as notícias de uma pessoa parecida com você, é mais fácil se identificar”.

Suroosh Alvi é um dos fundadores da "Vice" - Divulgação - Divulgação
Suroosh Alvi é um dos fundadores da "Vice"
Imagem: Divulgação

Apesar de se distanciar das grandes corporações de mídia, a Vice assinou um acordo milionário com o grupo Time Warner, dona da HBO, em 2015 – dois anos depois de vender 5% de suas ações para a 20 Century Fox, do empresário Rupert Murdoch, por US$ 70 milhões. Mas Alvi ressaltou que, em todos os acordos, a Vice faz questão de garantir sua independência – um aprendizado que veio após venderem 25% da revista nos anos 1990.

“Nós tivemos uma grande oportunidade de ter uma segunda chance e reconstruir a empresa. Desde então, nós sempre mantivemos o controle, sempre detivemos a maior parte da empresa. Não importa qual acordo, nós nos certificamos de que ficaremos no controle, porque o perdemos uma vez e foi terrível.”

Global

Com temas que vão de inovações tecnológicas a eleições e conflitos armados, a série “Vice” também chama a atenção por investir em histórias variadas ao redor do mundo - e faz disso um de seus atrativos. “Nós não acreditamos que os Estados Unidos são o centro do mundo. As três principais emissoras dos EUA sempre vão atrás das mesmas histórias, e deixam o resto do mundo para nós”, afirmou Alvi.

Questionado se há planos de fazer um episódio sobre a atual crise enfrentada na política brasileira, o jornalista desconversou, mas ressaltou que a empresa tem acompanhado a situação. “Acho que seria muito interessante e importante para o nosso público, não só na América Latina, mas também aqui nos Estados Unidos, saber o que está acontecendo no Brasil. É por isso que nós estabelecemos uma redação aí e também estamos tentando expandir nosso time aí”. A empresa, que existe desde 1994, opera no Brasil desde 2014.

A série ainda não foi oficialmente renovada para uma quinta temporada para a HBO, mas Alvi já sabe o que eles pretendem mostrar nos novos episódios: “Nos últimos dez anos, nós cobrimos muitos problemas no mundo, e isso fica um pouco sombrio às vezes. Nós queremos mostrar o outro lado, que há soluções também, e vamos ver muito disso na quinta temporada”.

"Vice" vai ao ar na HBO, às 21h das segundas-feiras