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"Acho que arrasei", diz Luisa Marilac sobre sua estreia como atriz

Luisa Marilac, virou ''meme'' com ''bons drink'' - Reprodução - Reprodução
Luisa virou meme com seus ''bons drink''
Imagem: Reprodução

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

13/05/2016 07h00

Houve boatos de que ela estava na pior, mas se estar ensaguentada no meio de zumbis num hospital psiquiátrico é estar na pior, Luisa Marilac quer é mais. Convidada para fazer participação em dois telefilmes da série "Filme B" para o Canal Brasil, a travesti decidiu fazer algo diferente e não descarta investir num novo ofício, embora ainda dê risada ao ouvir a expressão "carreira de atriz".

"A primeira vez fui para experimentar, só que é gostoso demais você se ver naquela caracterização, é muito legal. Gostei mesmo. Imagina que delícia fazer uma novela? Se fosse convidada, com certeza iria. E acho que me sairia bem. Se uma pessoa me desse uma direção e as dicas certinhas, acho que eu iria arrasar! Ainda não me vi mas acho que arrasei", afirma.

Luisa Marilac no filme "Entre Mortos e Vivos" - Divulgação - Divulgação
Luisa Marilac no filme "Entre Mortos e Vivos"
Imagem: Divulgação

Convocada pelo diretor Beto Ribeiro, da produtora Medialand, Luisa gravou participação mais discreta em "A Bonequinha da Mamãe", no fim do ano passado, e ganhou o papel de uma enfermeira em "Entre Mortos e Vivos" em abril. Mas sua performance foi o suficiente para garantir sua presença nos outros três filmes da série, que serão gravados até agosto e com estreias previstas para o primeiro semestre de 2017.

"Luisa surpreendeu e muito. Ela é superprofissional, chega no horário marcado, sempre de alto astral e aceita qualquer desafio. No 'Bonequinha' acabei dando um pouco de texto para o personagem e até usei o bordão dela, para ver como ela se saía. Foi perfeita, take único, não precisei repetir, a câmera gostou dela, ela gostou da câmera. Daí veio a vontade de tê-la de novo no 'Entre Mortos e Vivos'. Ela vira zumbi, dança, se joga na história. Não teve qualquer 'isso eu não faço', nem quando a enchi de sangue artificial", conta o diretor.

Segundo Beto, um papel ainda maior a aguarda nos próximos trabalhos, incluindo um personagem masculino. Nenhum problema, ela garante. "Não é para ser atriz? A gente encara. Gostei de fazer cinema, agora quero ver o teatro também. Quero começar a futucar nesse meio", diz.

O diretor Beto Ribeiro e a equipe do telefilme "Entre Mortos e Vivos" capricham no sangue cenográfico em cima de Luisa Marilac antes das filmagens - Reprodução/Facebook/Medialand - Reprodução/Facebook/Medialand
O diretor Beto Ribeiro e a equipe capricham no sangue cenográfico
Imagem: Reprodução/Facebook/Medialand

Perfeccionista, Luisa diz que morre de vergonha de se ver na tela. Mas fazer é com ela mesma - pelas suas contas, já acumula mais de 270 vídeos no YouTube. Hoje, até por cobrança de seu público, produz conteúdos mais politizados sobre temas ligados à comunidade LGBT. Mas pretende diversificar.

"Hoje em dia o que vende é falar um palavrão, brincar, satirizar. Daqui para frente eles vão ser diferentes, senão morro de fome. Trabalho muito com palestras, que dá um dinheiro legal, sou contratada pela prefeitura, vou a faculdades. Mas dinheiro grande é boate. Tem que encher a cara de cachaça, falar putaria... Então eu vou voltar, querida!", avisa.

Há cerca de um ano, Luisa foi demitida do hotel onde trabalhou como camareira, supervisora e governanta por um ano e três meses, após uma acusação de agressão a um supervisor de turno que ainda se desenrola na Justiça. De lá para cá, descobriu a costura como hobby após um período de depressão que a fez engordar 20kg, virou vegetariana - e tudo vira inspiração para novos vídeos, inclusive as furadas, como ser roubada por um cara com quem passou a noite.

Quase seis anos se passaram desde o verão ensolarado na Espanha em que resolveu fazer algo diferente e caiu nas graças das (hoje) quase 4 milhões de pessoas que assistiram aos 59 segundos desse clássico instantâneo da contemporaneidade. Desde então, a internet ganhou tanta projeção que youtuber virou profissão e sinônimo de celebridade, um status que antes só era concedido a quem fosse visto nas telas da TV ou do cinema.

"Criar celebridades a internet cria bastante. O problema é ficar. Posso não estar na televisão, na mídia, mas estou sendo sempre lembrada nas novelas, em filmes, no 'Big Brother' sempre tem um que fala. Sempre que é verão, tem cachaça e tem piscina, sou eu e os 'bons drinks'. Brasileiro gosta da putaria, não é, meu amor? Por que a Ana Paula fez tanto sucesso no 'BBB'? Porque ela é original, autêntica, bebe, cai. Imagina eu dentro de um reality? Não ia prestar", afirma ela, que já recusou convites para fazer parte do elenco de "A Fazenda", na Record, por achar o cachê insuficiente para cobrir o que ganhava com presenças vip em eventos.

Quanto ao preconceito, Luisa diz que passou a sofrer um pouco menos por conta da notoriedade que conseguiu na web. Mas ainda passa por situações constrangedoras. "Tem um vídeo que gravei indo da minha casa ao mercado em que converso com a câmera. Ali dá para ver três pessoas me xingando do nada. Esse vídeo passou na TV aqui em Guarulhos quando dei uma entrevista. Hoje, quando essas pessoas me veeem abaixam a cabeça", conta.

Aos 38 anos, Luisa diz estar trilhando um caminho diferente, que ela ainda está descobrindo. "É muito difícil uma travesti chegar a essa idade. Ou morre de tiro, de Aids ou de facada. O futuro a Deus pertence, mas quero ter o direito de ir e vir no meu país, direito a um trabalho, a essas coisas básicas que nenhuma de nós tem", afirma.