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Para Tabet, do Porta, humor deve "bater em todo mundo" na política

Para Tabet, humor tem que ser oposição - Reprodução/Instagram
Para Tabet, humor tem que ser oposição Imagem: Reprodução/Instagram

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

01/06/2016 11h11

Tradicionalmente, a política é um dos principais alvos do humor. Mas, em tempos de crise, o humor também não escapa do fogo cruzado que domina o debate político, seja entre "petralhas" e "coxinhas", contra ou a favor do impeachment de Dilma, governo ou oposição.

O Porta dos Fundos experimentou isso com o vídeo “Delação”, que fez com que o grupo sofresse uma campanha de boicote, acusado de ser “petista” – os humoristas, porém, já haviam feito outros trabalhos criticando o governo. E, para Antonio Tabet, um dos fundadores do grupo, as críticas devem ser disparadas para todos os lados no cenário atribulado da política brasileira.

“Acho que humor é oposição”, afirmou o humorista ao UOL, antes de ponderar: “A questão é: oposição a quê? Qual é o governo hoje? A gente vive hoje tempos tão nebulosos no Brasil... O PT estava, agora não está mais, mas pode voltar. O PMDB está no poder, mas pode sair. O ministro é do PSDB e na foto do Temer estava o Aécio do lado. Para a gente que faz comédia não é mais tão claro quem faz oposição. Está todo mundo muito misturado.”

Nesse cenário, a única posição para o humor é se opor a todos, na opinião do humorista. “No fim das contas, tem que bater em todo mundo. É muito louco. A gente vive em um tempo em que o Collor, que foi o Collor, estava no palanque da Dilma, é aliado do Lindbergh [Faria] e votou a favor do impeachment. É uma zona completa. O Maluf, que votou a favor do impeachment, estava na posse do Lula, cumprimentando ele como ministro que nunca empossou. É tão cinza esse jogo que só tem um jeito de fazer humor, que é batendo em todo mundo. Não dá para você escolher um lado, porque esse lado amanhã vai te trair”.

Sobre as críticas ao vídeo, que depois foram ironizadas no vídeo “Reunião de Emergência 3”, Tabet acredita que elas vieram em um momento “bélico” e não estavam necessariamente ligadas à polarização entre direita e esquerda. “Acho que teve um problema ali que foi a crítica ao trabalho da Polícia Federal, que estava até aquele momento acima de qualquer suspeita, para quem estava acompanhando o noticiário, e teve o fato evidente de que como o Gregório [Duviver] é o cara mais à esquerda do grupo e é o cara que se posiciona mais publicamente a esse respeito, as pessoas acabam pensando que o Porta é de esquerda, o que não é verdade. Tanto é que vários vídeos nossos foram batendo na esquerda, no governo”.

Todo mundo quer um país melhor, políticos honestos. Os objetivos são os mesmos, só os caminhos que as pessoas traçam são diferentes

“Acho que as pessoas precisam de um pouco mais de calma e tolerância para entender que o que precisa ser feito não é tirar A ou B do poder, o que precisa é mudar o poder, mudar a forma como a política é feita no Brasil e como tudo acontece ao redor dela”, acrescentou, fazendo a ressalva de que manifestantes tanto à direita quanto à esquerda buscam o mesmo: “Todo mundo quer um país melhor, políticos honestos. Os objetivos são os mesmos, só os caminhos que as pessoas traçam são diferentes”.

Leis de incentivo

Durante os ataques dos haters, o Porta dos Fundos também foi atacado por ter sido autorizado a captar R$ 7,5 milhões para o filme “Contrato Vitalício”, que estreia em julho, pela Lei do Audiovisual - que funciona de forma semelhante à Lei Rouanet, com base em incentivos fiscais. Mas o grupo pouco conseguiu captar, segundo Tabet: “Eu acho que a gente não chegou nem a uma porcentagem mínima do valor que a gente poderia ter captado. O mercado não está propício para esse tipo de coisa. No nosso filme a gente acabou conseguindo alguns patrocínios, isso facilitou que a gente não precisasse usar o dinheiro da captação. Tem merchandising dentro do filme, então não precisou chegar perto.”

Mesmo assim, o humorista avalia que é importante que as pessoas se informem sobre como as leis funcionam – e sobre os empregos que o audiovisual gera. “Quantos empregos você dá para um mercado de trabalho que está tão saturado e ferrado através de um filme, de um projeto de TV, cinema, etc? Não é só pão e circo como as pessoas pensam.”

“Por que não tributa igreja?”, questionou. “Se as pessoas passassem a tributar, por exemplo, cultos evangélicos e determinadas igrejas, o ganho ia ser talve dez, cem vezes maior do que vão economizar com um ou outro projeto de incentivo à cultura. E aí, por que isso não entra  em debate? Porque não é conveniente para quem está no poder hoje em dia”.