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Youtubers resgatam sucessos dos anos 90 e não assistem a TV hoje

Paulo Pacheco

Do UOL, em São Paulo

12/06/2016 07h00

Os anos 90 estão na moda na internet. Páginas, perfis nas redes sociais e canais de vídeos se popularizam matando a saudade e resgatando sucessos de 20 anos atrás na TV, de “Castelo Rá-Tim-Bum” a Banheira do Gugu, passando por filmes e artistas famosos na última década do século 20.

No YouTube, o canal mais popular é o Nostalgia, com vídeos que ultrapassam 8 milhões de visualizações. Na mesma linha nostálgica, nasceu o Canal 90, com mais de 200 mil seguidores e criado por Danilo Nogy, que cresceu na década de 1990 (tem 27 anos) e traz de volta o que de melhor (e pior) aconteceu na cultura pop de sua geração, dos games às “vergonhas alheias” da TV.

Para Nogy, que trabalha como comprador em uma empresa de automóveis, os anos 90 estão em alta porque grande parte do público da internet viveu o período ou é mais novo e quer conhecer. Além disso, a década de 1980 saiu de moda.

"Os anos 80 estão saturados. Estamos falando disso há uns 10 anos. Adoro, mas falou-se demais, e os anos 1990 estão 'bombando' porque é a década de quem começou na internet. Chegou o momento de quem viveu os anos 90 falar da sua época", analisa.

Fábio Ribeiro homenageia "Toy Story" em seu canal no YouTube, Anos Incríveis - Reprodução/YouTube - Reprodução/YouTube
Fábio Ribeiro homenageia "Toy Story" em seu canal no YouTube, Anos Incríveis
Imagem: Reprodução/YouTube
Embora trabalhem com conteúdo antigo, canais como Nostalgia e 90 investem em produções próprias. Os youtubers não apenas relembram, mas também pesquisam e aparecem nos vídeos explicando a TV do passado, indo além de quem apenas publica gravações antigas de videocassete, primeiro “boom” nostálgico do YouTube.

Quem também investe em conteúdo próprio é o canal Anos Incríveis (mesmo nome da série que fez sucesso na TV Cultura nos anos 90), de Fábio Ribeiro, com quase 100 mil inscritos. O músico e desenhista de 35 anos improvisou um estúdio em sua casa onde produz versões de trilhas de desenhos, animes e filmes da Disney como “O Rei Leão” e “Toy Story”. Seus vídeos mais vistos, como a ida ao México para conhecer o elenco de "Chaves", ultrapassam 1 milhão de acessos.

As produções caseiras, que para Fábio são um hobby, já renderam a ele trabalho sério até no exterior: "O que traz mais resultado é o que vem depois. As empresas veem e pensam: 'Esse cara pode fazer um vídeo institucional'. Acaba virando meu portfólio. Um pessoal da Argentina me procurou para fazer um vídeo".

Danilo Nogy, criador do Canal 90, dedicado à decada de 1990 - Reprodução/Twitter/Canal_90 - Reprodução/Twitter/Canal_90
Danilo Nogy, criador do Canal 90
Imagem: Reprodução/Twitter/Canal_90
TV de hoje? Nem pensar

Fãs da TV do passado, os youtubers nostálgicos não veem televisão atualmente. "TV hoje em dia não acompanho. Vejo na internet muito conteúdo dos anos 90, até programas inteiros e tenho uma ideia. Vendo o 'Topa Tudo por Dinheiro', quis fazer a lista de momentos épicos. Também vejo meus arquivos em VHS", diz Nogy.

"Não assisto TV. 'The Walking Dead' eu sempre acompanho, mas 'Game of Thrones' não, vejo na internet o que estão falando. Sou totalmente alheio à televisão, ligo para assistir a um filme do meu arquivo ou para jogar. Não sei o que passa na Globo, no SBT. Agora nós fazemos o nosso conteúdo", afirma Fábio.

Na opinião do dono do canal Anos Incríveis, falta à TV atual a qualidade da década de 1990 para manter a relevância. "Tinha uma programação infantil, quem era criança na época adorava. Hoje não se vê mais essa preocupação, tanto que o pessoal brinca: 'Cadê a TV Globinho?'. Acho que os anos 90 a televisão era mais cuidadosa, tinha um pouco mais qualidade".

"Os anos 90 eram mais nonsense, não tinha muito politicamente correto, Banheira do Gugu com meninas de fio dental às 13h. Vendo hoje, na brincadeira, era melhor nesse sentido. Com relação ao conteúdo, também era melhor na parte infantil. Hoje, a TV é um buraco. Só assiste TV hoje quem já nasceu com a TV. Quem nasceu com a internet não procura TV", analisa Nogy.