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Fora da TV, ex-repórter Maria Manso investe em dublagem e estreia no teatro

Paulo Pacheco

Do UOL, em São Paulo

15/06/2016 07h00

Com 25 anos de carreira na TV, 12 deles na Globo, a experiente jornalista Maria Manso decidiu recomeçar. Presente em coberturas jornalísticas importantes como o impeachment do presidente Fernando Collor e programas como "Globo Repórter" e "Jornal Nacional", a repórter deixou a televisão por vontade própria, virou empresária e decidiu ir atrás do registro de atriz. Em julho, vai estrelar sua primeira peça em um teatro para 800 pessoas.

Em entrevista ao UOL, Maria Manso não esconde a ansiedade para sua estreia como atriz. "Você já viu o tamanho daquela plateia?", questiona sobre o teatro Brigadeiro, no centro de São Paulo. O local receberá a única apresentação de "Os Miseráveis", clássico do escritor francês Victor Hugo (1802-1885), com a jornalista entre os protagonistas.

"Na televisão, minha preocupação era sempre 'ter que dizer'. No teatro, ainda estou descobrindo o que tenho para dizer. Fantine corta o cabelo, vende e se prostitui para alimentar a filha", descreve sua personagem, que no cinema rendeu a Anne Hathaway o Oscar de melhor atriz em 2013.

Apesar da nova profissão, Manso não abandonou o jornalismo e deseja usar a dramaturgia em seus novos trabalhos como sócia de uma produtora em São Paulo. A repórter também não pretende seguir a carreira de atriz de TV nem voltar à telinha em alguma novela.

Em 2015, interessou-se por dublagem e matriculou-se em um curso ministrado por Wendel Bezerra, voz de Bob Esponja e Buddy Valastro, o Cake Boss. Formada, Manso descobriu que precisa do registro profissional de atriz para atuar como dubladora, e desde janeiro estuda teatro com o ator Nill de Pádua. "Os Miseráveis" é uma das provas para obter o registro.

"Maria é muito empenhada, quando pega algo para fazer ela vai fundo, acho que isso é coisa de jornalista. É muito aplicada, me surpreendo muito, por isso passei a Fantine para ela, está em boas mãos", elogia Nill de Pádua, que conheceu a jornalista no mesmo curso de dublagem.

A jornalista Maria Manso em 2009, na Globo (à esquerda), e em 2016 - Montagem/UOL - Montagem/UOL
A jornalista Maria Manso em 2009, na Globo (à esquerda), e em 2016
Imagem: Montagem/UOL

De repórter a empresária

A busca por dublagem também não veio por acaso. No início do ano passado, tornou-se sócia da produtora Locs & Prods, ao lado da amiga locutora Helena Santos. Pela empresa, a jornalista é contratada para ensinar médicos, empresários e políticos (sob sigilo) a lidar com a câmera e discursar em palestras.

Para a jornalista, a dramaturgia vai ajudá-la em novas oportunidades e representa um recomeço após o telejornalismo. Seu último trabalho na TV foi na Record, como editora (sem aparecer na câmera). Antes, foi repórter na RedeTV!, no SBT e na Globo, onde trabalhou durante 12 anos e saiu em 2009.

"Pedi para sair da Record, assim como pedi para sair da Globo. Na época, minha mãe precisava de atenção, foi por motivo pessoal. Coincidentemente, uma amiga me indicou a uma pediatra para ajudá-la a escrever um livro. Nunca tinha pensado em fazer isso e estamos no terceiro livro", comemora.

1997 - Maria Manso cobre crimes envolvendo a Polícia Militar em Diadema (SP) - Maria Manso/Arquivo pessoal - Maria Manso/Arquivo pessoal
1997 - Maria Manso cobre o Caso Favela Naval em Diadema (SP)
Imagem: Maria Manso/Arquivo pessoal
Manso conta que estava insatisfeita com a rotina desgastante e decidiu trocar tudo por uma vida melhor: "Senti que que estava virando uma pessoa que eu não gostava de ser em função de tudo que me era exigido. Hoje sei que preciso ser uma pessoa saudável, completa e feliz para também ser uma profissional eficiente".

Na TV, a jornalista começou na Aratu, em Salvador, que retransmitia a Manchete. Em seguida, foi transferida para São Paulo. Acumula duas passagens pelo SBT, em 1996 e 2009. Na Cultura, onde trabalhou em 1993, teve sua passagem mais emocionante como jornalista --e não foi em nenhuma cobertura especial.

"Pediram para eu fazer um link para doação de sangue. Enquanto recolhiam o equipamento, fui doar. Enquanto pegava o lanche, chegou um rapaz: 'Você está aqui ainda? Eu estava em casa e você falou que estavam precisando'. Consegui fazer aquele garoto sair de casa para fazer uma doação", recorda, com a voz embargada.

O tempo longe do telejornalismo ajudou Maria Manso a enfrentar a dor da perda de entes queridos (seu pai e seu irmão tiveram câncer) e aproveitar melhor a vida ao lado de seu companheiro, o cãozinho Branco. A repórter não descarta retornar à TV: "Voltaria sempre a fazer qualquer coisa que já fiz, porque sei que não seria igual. Sou outra pessoa".