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TV paga ameniza discurso e diz não ver ameaça em serviços como Netflix

On-demand é visto como complementar e aliado à TV paga - Reprodução/thurrott
On-demand é visto como complementar e aliado à TV paga Imagem: Reprodução/thurrott

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

21/06/2016 17h26

Não é só a Netflix nem a Amazon. Nos últimos anos, os serviços de TV on-demand se popularizaram e, hoje, canais como Fox, TNT e a própria Globo têm plataformas para chamar de suas. E, para executivos que fazem parte da Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA), o surgimento delas não representa uma ameaça ao setor – não só pelo fato de a maioria, ainda, estar atrelada a um pacote de TV, como também por corresponder a uma demanda dos atuais e futuros assinantes.

Apesar de não haver números oficiais, os executivos afirmam que eles são “crescentes”. “Cada vez mais você tem um número significativo de pessoas que usam o on-demand”, avaliou o presidente da ABTA, Oscar Simões, em coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira (21). “E dezenas e dezenas de canais têm [o serviço] hoje, o que há três anos quase não existia. Isso mostra a resposta da indústria. Passou a ser a demanda? Vamos ao máximo para criar o que o telespectador quer. É crescente e parece uma tendência inexorável. Evidente que nós temos uma limitação porque nem todos os lugares do Brasil têm banda larga, e, no tamanho de banda que seria o desejável, há uma limitação”.

As novas plataformas também ajudam a atrair os jovens, que serão os assinantes do futuro, na avaliação de José Francisco de Araújo Lima, vice-presidente jurídico da entidade e diretor de relações institucionais das Organizações Globo. “O importante com essa tendência é atender ao jovem, uma classe que não quer mais se vincular, ficar sentado e acompanhar em um certo horário. On-demand é uma alternativa para essa nova geração”.

Nem a Netflix – que em 2015 foi o motivo de cobranças do setor, acusada de concorrência desleal – é vista hoje como uma rival das TVs, apesar da queda na base de assinantes em 2015 e 2016. Em abril desse ano, foram registrados 18,91 milhões de assinantes, contra 19,11 de 2015. “Eu não tenho dúvida de que a perda está muito mais relacionada à condição de renda do que a um ataque de uma nova plataforma”, afirmou Simões. “Na operação digital, a empresa [Netflix] se aproxima mais de uma produtora de conteúdo. E nesse sentido ela é mais complementar do que uma competidora”.

Apesar disso, o presidente da ABTA ressaltou que é importante haver isonomia nas obrigações da TV paga e dos serviços de streaming. “Acho que o tratamento deva ser igual para que você tenha competição. Se eu tenho obrigações de cota, tributárias, uma serie de obrigações, e eu tenho um concorrente que não as tem, ele tem uma vantagem em relação ao meu negócio. Então ou você regulamenta para todos ou desregulamenta para todos. Eu até preferia essa segunda opção. Mas o Estado vai ter que analisar”.

Serviços standalone

A tendência dos serviços de streaming não vinculados a uma assinatura – como o HBO Now, lançado pela emissora nos Estados Unidos – é vista com cautela pelos executivos, mas eles não acreditam que ela se tornará a regra na indústria.

“Há um ecossistema, tem Globo, tem Fox, tem Globosat. Se começar todo mundo a vender fora o produto, não vai ter a posição privilegiada da plataforma de TV por assinatura. A HBO ainda não vende o HBO Now no Brasil, mas se ela começar a vender, nós vamos ver quais são as consequências disso no modelo de distribuição que existe”, disse Fernando Magalhães, diretor de programação da NET.

Já Araújo Lima disse não acreditar na prevalência dos serviços independentes. “Eu acho que temos que ser criativos para preservar o modelo. Nós não imaginamos um serviço sem a TV por assinatura na ponta. O que nós queremos é dar a força possível para que esse sistema não se fragilize, que é a sobrevivência da programação. Não imagino um mundo em que todo programador esteja na internet, sem haver uma organização e oferta [na TV]. A TV everywhere está prestando um serviço também às prestadoras de serviço de TV por assinatura, porque permitem que aquele assinante poderá assistir o conteúdo, mas acho que não pode ter isso sem ter a assinatura. isso é uma forma de sobrevivência”.