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Filmes para TV: HBO aposta em parcerias locais em mercados fora dos EUA

Documentário sobre Dorina Nowill é o mais recente filme da HBO no Brasil - Divulgação
Documentário sobre Dorina Nowill é o mais recente filme da HBO no Brasil Imagem: Divulgação

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

13/07/2016 07h00

A HBO pode até ser mais lembrada por suas séries originais de sucesso, como "Game of Thrones", "Família Soprano" e "Sex and the City", mas há anos vem investindo em filmes originais - inclusive em outros mercados que não o americano. E neste ano, além dos comentados "Até o Fim", com Bryan Cranston, e "Confirmação", com Kerry Washington, a emissora lançou duas produções originais latinas: os documentários "Guerras Alheias" e "Dorina - Olhar para o Mundo", que foi feito no Brasil. 

Os dois longas foram frutos de uma parceria entre a HBO e produtoras locais, uma estratégia que a empresa tem adotado para seus filmes originais fora do mercado norte-americano. Em entrevista exclusiva para o UOL, Len Amato, presidente da HBO Films, afirmou que a empresa prioriza os trabalhos de produtores dos próprios países para lançar seus filmes internacionais.

“Nós estamos sempre lutando para diversificar os tipos de filmes que fazemos na HBO, e o mercado internacional, claro, é fundamental para o sucesso e a expansão do canal. Acho que no curto prazo o que descobrimos é que os profissionais criando para seus próprios países, que irão entender o cenário social e a cultura local, são as melhores pessoas para criar esse conteúdo. Isso não significa que não há cooperação e que não pode envolver outras coisas, mas agora, muito desse conteúdo está sendo criado localmente, com produtores locais, e isso me parece correto”.

Em comum, os filmes lançados neste ano pela HBO têm um forte apelo político - assim como um dos próximos projetos da empresa, um filme sobre a abolicionista Harriet Tubman, a ser estrelado por Viola Davis. E apesar dos temas complexos, segundo o executivo a intenção do canal é contar boas histórias sem apelar ao didatismo.

Até o fim, HBO - Divulgação/HBO - Divulgação/HBO
"Até o Fim", com Bryan Cranston, foi um dos lançamentos da HBO neste ano
Imagem: Divulgação/HBO

“A meta é encontrar grandes histórias e ótimos contadores de histórias. E não contá-las como uma lição de história, ou como alguma coisa que é ‘boa para você’ ou uma lição de casa, mas de uma forma interessante, como algo que você veria no cinema. E eu acho que o fato de apoiarmos nossos cineastas – e quando falo cineastas não me refiro só aos roteiristas e diretores, mas também aos atores, produtores e todas as pessoas que se juntam para fazer um filme... Nós tentamos dar apoio e criar um ambiente onde todos caminhamos para o mesmo objetivo, que é fazer um filme ótimo e interessante”.

Questionado se o canal tem a intenção de aumentar o número de filmes originais, Amato afirmou que a programação deve passar por grandes transformações.

“O cenário competitivo do negócio de entretenimento da TV paga e dos digitais, do streaming, está mudando quase que numa base diária. E com a chegada de novas instituições que estão fazendo coisas no cinema, acho que provavelmente veremos uma evolução contínua na HBO, porque a HBO sempre evoluiu, não apenas como parte do cenário dos criadores de conteúdo, mas também como um dos inovadores originais de muito disso. Eu não posso dizer exatamente para onde a programação irá, mas tenho certeza que a programação irá mudar, não só nos filmes, mas nas series e nas minisséries também, de forma que eu nem posso prever agora”.

Entre as inovações possíveis, o executivo não descarta a possibilidade de a emissora se inspirar na Netflix e tentar lançar um de seus originais também simultaneamente na TV e no cinema, como o serviço de streaming fez com “Beasts of No Nation” em 2015 – mas ressaltou que esse não é o foco da HBO.

“No momento, a base de assinantes da HBO e nosso público são muito importantes para nós, então nunca iríamos criar uma situação em que, de alguma forma, passássemos a impressão de que preferimos lançar no cinema do que na HBO, porque isso de certa forma seria um prêmio. Não é assim que encaramos", explicou. "Queremos estrear conteúdos na HBO, porque sentimos que, como plataforma, ela é muito boa em alcance e qualidade, em relação às outras plataformas que existem. No momento, essa é a minha percepção, mas o cenário está mudando, com a Netflix e a Amazon. Há diferentes modelos sendo lançados.”

E apesar de os filmes para TV serem frequentemente esquecidos ao se falar da "era de ouro da TV", Amato acredita que eles também entrem nesse rótulo – a HBO, que de certa forma deu início a essa era com produções como “Família Soprano”, conquistou quatro Emmys seguidos na categoria de melhor filme para TV, com “Game Change” (2012), “Behind the Candelabra” (2013), “The Normal Heart” (2014) e “Bessie” (2015).

“Eu tento não categorizar as coisas em caixas diferentes. É uma era de ouro para conteúdo televisionado e parte desses conteúdos são documentários, series, minisséries e alguns deles são filmes. Filmes são histórias que você pode ver em só uma sentada, é uma ferramenta muito poderosa para contar histórias e nós sabemos disso. Foi a forma de arte que deu início a muito disso. Eu realmente acredito que é uma era de outo para filmes na TV também, e acredito que, na verdade, os filmes que fazemos na HBO não são diferentes dos filmes do cinema. Eles só são vistos na HBO”.