"Tenho que fazer justiça a Domingos", diz autor sobre fim de "Velho Chico"
Às 4h da manhã desta sexta-feira (16), o autor Benedito Ruy Barbosa ainda não havia conseguido dormir. A morte trágica do ator Domingos Montagner, que se afogou no Rio São Francisco na última quinta, deixou consternado um país inteiro e também o escritor, que mal terá tempo de se recuperar do luto para decidir o desfecho de Santo, o protagonista de "Velho Chico".
"Além do fato de ter perdido o talento de um ator generoso, uma bela figura humana, eu perco um personagem importantíssimo da minha novela. Na qualidade de supervisor, tenho que entrar nisso e decidir como termino a novela sem ele. É muito difícil ter que trocar um ator como ele por qualquer outro, não deve ser a solução. Ao mesmo tempo, tenho que fazer justiça a ele e ao trabalho maravilhoso que ele vinha fazendo", afirma Benedito, que recebeu a notícia do diretor geral da TV Globo Carlos Henrique Schroder.
"Eu, que sou meio ateu, estava rezando. Fiquei torcendo, achando que podia acontecer como na novela e ele sairia vivo de uma encrenca dessa. Dessa vez, infelizmente a vida não copiou a arte, foi mais cruel", diz o autor, que planeja uma homenagem ao ator. "O coração da gente vai falar mais alto nessa hora", opina.
O fato de Montagner ter desaparecido nas águas do Velho Chico, tal qual o Santo da ficção, tornou a tragédia mais poética e também mais triste. "Muita gente fala isso. Não se trata de premonição, a última coisa que a gente poderia desejar. Escrevi 34 novelas e como supervisor já fiz mais de 40, já tive ator com ataque cardíaco e tive que reescrever 40 capítulos. Mas dessa vez não tivemos chance, foi inesperado. Puxa vida, eu sofri um AVC e continuei escrevendo, não tive sequela", lembra o escritor, que também enfrentou a morte do veterano Umberto Magnani, o padre Romão, nessa produção.
Índios que gravaram cenas de resgate de Santo na novela afirmaram que estão de luto e fizeram até mesmo um ritual. Na mensagem divulgada por eles, dizem que Montagner se tornou uma espécie de protetor do rio.
"Essa é a coisa mais linda que a novela vai deixar como marca, plantou um novo defensor do Rio São Francisco. Índio pensa assim, morte é vida, eles encaram assim. No fundo a gente também não sabe o que é a morte, na verdade a gente não sabe o que vem depois. Mas o Domingos deve estar sendo recebido lá no céu com uma festa daquelas porque é uma alma muito boa, não merecia outro lugar a não ser o paraíso", afirma Benedito, que planejou contar a história do São Francisco há muitos anos, quando viajou pelo Nordeste ainda como repórter.
Montagner, até então escalado para atuar em "A Lei do Amor", adiada pela Globo para outubro, acabou sendo remanejado para viver o sertanejo que luta contra os desmandos de Afrânio (Antonio Fagundes) em Grotas do São Francisco. "Quando encontrei com o Domingos na festa de lançamento da novela, ele disse que era uma alegria como ator poder trabalhar comigo. E geralmente os atores têm o mesmo pensamento, querem falar do Brasil", diz.
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