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"Quero grandes personagens, transgêneros ou não", diz atriz de "Supermax"

"Sofro sim discriminação também profissional e artística para conseguir papéis", conta Maria Clara Spinelli - Reprodução/Instagram/mariaclaraspinelli/
"Sofro sim discriminação também profissional e artística para conseguir papéis", conta Maria Clara Spinelli Imagem: Reprodução/Instagram/mariaclaraspinelli/

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

30/09/2016 07h00

Os detalhes sobre o passado de Janette só serão revelados no quinto episódio de "Supermax", mas não é difícil deduzir que a trajetória da personagem de Maria Clara Spinelli guarde experiências em comum com outras mulheres transgêneros. Crucial para entender a história da participante do reality show, por meio de flashbacks, o episódio também é o que promove algumas das cenas mais fortes da personagem, incluindo a de uma agressão física.

"É bom falar da importância social disso. Não quero dar muito spoilers, mas a série tem vários méritos e um deles é esse. Janette é uma grande mulher que representa uma minoria muito estigmatizada e discriminada. Eu, Maria Clara, sofro sim discriminação também profissional e artística para conseguir papéis. E eu entendo, isso é um assunto novo. E eu não tenho nenhum problema em falar sobre isso, porque, sem nenhuma pretensão, também estou aqui para educar. Existe um estereótipo em cima das pessoas que nasceram transexuais e eu acho que se puder de alguma forma trazer luz para esse assunto é um grande prazer", afirma.

Janette e Nando em "Supermax" - Reprodução - Reprodução
Janette e Nando (Nicolas Trevijano) em "Supermax"
Imagem: Reprodução
Há poucos dias, na cerimônia de premiação do Emmy, o ator Jeffrey Tambor, ganhador na categoria ator de série dramática por seu papel na série "Transparent", afirmou em seu discurso de agradecimento que ficaria feliz de ser o último homem a interpretar uma atriz transgênero na TV. Maria Clara, que estreou na TV em "Salve Jorge", como Anita, pondera a colocação.

"Acho muito bonito da parte do Jeffrey, um ator premiado, que faz um grande trabalho, dizer isso. É enobrecedor ele, como artista, chamar atenção para atores e atrizes que têm essa característica e que, por preconceito, não têm a chance de trabalhar. Mas também vejo um outro lado. Quero fazer grandes personagens, e elas podem ser transgêneros ou não. A representatividade tem que ter também portas abertas para nós trabalharmos em qualquer papel. Assim como para atores como o Jeffrey e a Felicity Huffman, que fez brilhantemente 'Transamérica', façam também transgêneros. Se você rotula, só atores cisgêneros podem fazer personagens cisgêneros", analisa ela, que também elogia a performance de Jared Leto, vencedor do Oscar de ator coadjuvante em 2014 pelo travesti que interpretou em "Clube de Compras Dallas".

Maria Clara Spinelli em cena de "Salve Jorge" - Reprodução - Reprodução
Maria Clara Spinelli como a Anita de "Salve Jorge", seu primeiro papel na TV
Imagem: Reprodução

Segundo Maria Clara, preconceito ainda existe, mas a situação na dramaturgia brasileira está melhorando. "O Brasil ainda estava um pouquinho atrasado nesse sentido, porque nós temos Laverne Cox em 'Orange is The New Black', Jamie Clayton fazendo 'Sense8'. Acho que o mercado está ficando mais aberto para isso, a tendência é o preconceito diminuir. A tendência da sociedade é a evolução", aposta.

Atriz há 15 anos, Maria Clara (que não revela a idade) comemora sua grande oportunidade na TV e a resposta positiva que nota nas redes sociais. "Adoro esse contato que tenho com o público. Todo mundo que já viu fica enlouquecido com a Janette, tenho recebido muito carinho. Quando veem meu trabalho, todos os comentários, mesmo de quem talvez seja mais conservador, mudam de figura. Essa é a grande beleza, é a mensagem que eu quero deixar: minha arte", diz ela, que, depois das gravações da série, viveu a protagonista do filme "A Felicidade de Margô", baseada numa crônica de Drauzio Varela, com direção de Maurício Eça, previsto para 2017.