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Nova "Gilmore Girls" tem nostalgia, mais drama e deixa dúvida sobre futuro

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

25/11/2016 18h14

“Gilmore Girls” sempre teve como um de seus charmes a confortável familiaridade que seus personagens e suas situações despertavam nos espectadores. E, para alívio dos fãs, essa característica permanece firme e forte no revival da série, “Um Ano Para Recordar”, que estreou nesta sexta-feira (25) na Netflix.

Após uma última temporada mediana e um cancelamento abrupto que deixou “Gilmore Girls” nove anos fora do ar, a nova incursão pela cidade fictícia de Stars Hollow e seus habitantes tem aquele gostinho nostálgico de volta para casa. Lorelai (Lauren Graham) e Rory Gilmore (Alexis Bledel) seguem falando rápido em diálogos afiados, intercalados por conflitos emocionais que envolvem a avó, Emily (Kelly Bishop), e pelo desfile de coadjuvantes divertidos. Mas, dessa vez, ainda que o humor inteligente ainda esteja presente, a roupagem é mais sentimental. E muito disso se deve à morte de Richard, que era interpretado pelo ator Edward Herrmann, morto em 2014.

Diferentemente da série original, em que cada temporada tinha cerca de 20 episódios de 40 minutos, a nova produção tem apenas quatro de uma hora e meia, cada um representando uma estação do ano. O primeiro, “Inverno”, tem uma função clara de reestabelecer os laços com a história original: iniciado com um reencontro de mãe e filha, logo em seus primeiros minutos ele brinda os fãs com um diálogo recheado de referências pop (nem o Goop, site de Gwyneth Paltrow, escapou) e a presença de vários personagens queridos: Miss Patty, Lane (Keiko Agena), Kirk (Sean Gunn), e o cachorro Paul Anka.

A estreia também já introduz a carga dramática da nova temporada ao estabelecer a morte de Richard, ocorrida quatro meses antes, e um flashback sentimental do velório do patriarca. Ela adiciona mais drama à já conflituosa relação de Emily e Lorelai, que é calcada em ressentimento, e traz um arco interessante para a viúva que, depois de perder aquele que foi seu companheiro por 50 anos, é obrigada a questionar suas escolhas de vida e se reinventar – o que está diretamente ligado aos jeans que ela usa no trailer da série.

As três mulheres Gilmore ficam com as vidas confusas após a morte de Richard - Divulgação - Divulgação
As três mulheres Gilmore ficam com as vidas confusas após a morte de Richard
Imagem: Divulgação

Paralelamente, as outras Gilmore também se encontram em encruzilhadas próprias: Lorelai não conta mais com Sookie (Melissa McCarthy) na pousada e se vê impossibilitada de expandir seus negócios, enquanto reavalia seu relacionamento com Luke (Scott Patterson). Já Rory está sem emprego fixo, sem uma casa para chamar de sua e viaja constantemente enquanto busca por novos projetos. Sua vida pessoal também não está estável. Ela tem relacionamentos, que não vamos contar aqui para evitar spoilers (se quiser saber, porém, confira no fim do texto), mas nada que seja realmente sério.

As três protagonistas têm bons momentos em cena e ainda mantêm a química da série original. E apesar de suas personagens terem falhas e serem egoístas em vários momentos, elas continuam sendo gostáveis, tanto por conta do texto dos autores Amy Sherman-Palladino e Daniel Palladino como pelas interpretações de Graham, Bledel e Bishop.

Como já era prometido, os demais personagens também têm retornos dignos, ainda que ganhem pouco espaço. Paris (Liza Weil) tem cenas curtas, mas intensas – incluindo um surto no banheiro de Chilton, um dos grandes momentos do segundo episódio. Lane e Zack continuam tocando com a banda em casa, e Taylor (Michael Winters) segue com seus planos megalomaníacos para Stars Hollow.

O revival não é isento de defeitos. Provavelmente devido ao novo formato, a trama apresenta cenas que às vezes são longas demais e algumas inconsistências temporais que podem provocar estranhamento – Rory, por exemplo, viaja com uma facilidade inacreditável entre Londres e Stars Hollow. Parte do arco referente à trajetória profissional da caçula também soa fora de lugar, já que ela toma decisões no mínimo questionáveis para quem já está há quase uma década no mercado de trabalho.

As falhas, porém, não prejudicam a experiência geral de “Um Ano Para Recordar”. Os novos episódios são como uma xícara de café quentinha para os fãs da série – e o último, que é de longe o melhor deles, traz momentos emocionantes e um, em particular, que já era muito aguardado. As quatro últimas palavras da série, que Amy Sherman-Palladino já tinha em mente desde o começo dela, são surpreendentes, mas fazem muito sentido dentro da história – e dão a brecha para que as Gilmore voltem à telinha novamente.  

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