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"Virei um guru da paternidade. Tenho muito orgulho disso", diz Marcos Mion

 "O Romeo é uma inspiração desde que ele estava na barriga", diz Marcos Mion sobre primogênito que é autista - Marcela Barros/Divulgação
"O Romeo é uma inspiração desde que ele estava na barriga", diz Marcos Mion sobre primogênito que é autista Imagem: Marcela Barros/Divulgação

Marcela Ribeiro

Do UOL, no Rio

02/12/2016 14h54

Aos 37 anos, pai de Romeo, Donatella e Stefano, Marcos Mion admite que a paternidade o modificou completamente e que ele nada lembra aquele moleque de "Sandy & JR" e nem o apresentador da MTV. Desde que ele resolveu anunciar que o primogênito, de 10 anos, tem Transtorno do Espectro Autista (TEA) e expor nas redes sociais a relação afetiva que tem com os seus filhos e a esposa, Suzana Gullo, Mion acredita que virou uma referência pública para tratar de assuntos familiares.

"Virei o guru da paternidade. As pessoas só querem saber sobre o autismo, sobre minha relação com o Romeo, com a Donatella, como eu faço com o Stefano. Tenho muito orgulho disso porque eu acredito muito na instituição da família, é o plano de Deus para gente", conta ele, católico praticante.

A chegada dos filhos e as dificuldades enfrentadas ao longo da vida fizeram Mion amadurecer, aumentar a fé e encarar a vida de forma diferente.

"Quando segurei o Romeo no colo pela primeira vez, virei homem naquele exato momento. Profissionalmente, eu sempre fui dono inconsequente do que eu fazia. Não me interessava a opinião de ninguém, todos os meus trabalhos na MTV sempre foram muito autorais porque era eu sozinho, moleque, acreditava que ia mudar a TV, o mundo, e queria falar tudo o que eu pensava, mas depois que você tem filho, que você sabe que tem alguém que depende de você, não dá para falar tudo o que você quer, você tem que se encaixar", explica.

Marcos Mion e o filho Romeo - Marcela Barros/Divulgação - Marcela Barros/Divulgação
Marcos Mion e o filho Romeo
Imagem: Marcela Barros/Divulgação
 
Mion acaba de lançar o livro infantil "A Escova de Dentes Azul", pela editora Panda Books, em que conta uma história real que aconteceu com a família no Natal do ano passado, quando Romeo pediu de presente uma escova de dentes. 

Mion fala do autismo sempre de forma positiva e gratificante pelos aprendizados. Até para contar para os filhos que o irmão era especial, o pai explicou de forma lúdica e criativa. "O Stefano e a Donatella começaram a perceber as diferenças e questionar coisas como por que o Romeo pode passar a noite com o ipad na cama, e eles não podem. Na verdade, é para o Romeo se distrair e dormir porque senão a cabeça dele não para. Se ele não tem uma distração, ele não para de falar, e aí ninguém dorme. Então, o ipad ajudou muito neste quesito. Mas os irmãos questionavam e diziam que também queriam. Então chegou o dia da conversa e eu falei que o Romeo era especial, que ele tinha uma coisa que se chamava autismo e que isso dava a ele poderes especiais, coisas muito legais que só ele tem e que a gente tem que aprender com ele".

Para o apresentador, o preconceito com especiais está diminuindo, mas ainda falta muito conhecimento das pessoas para evitar julgamentos das que desconhecem as características dos transtornos.

"Moralmente melhorou porque as pessoas têm mais consciência de que preconceito é crime, de que elas têm que ser melhores cidadãos, mas existe muita falta de informação. Esse é o maior problema no Brasil e no mundo relacionado a qualquer síndrome, a qualquer transtorno", diz.

"Quando a gente está falando de preconceito, um olhar, uma cutucada, machuca tanto quanto uma coisa explícita. Isso acontece, e meu foco são as crianças para que a pessoa já cresça sem isso", completa.

Marcos Mion e Suzana Gullo em momento família ao lados dos filhos Romeo, Stefano, Donatella e da cadela Pankeka - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Marcos Mion e Suzana Gullo em momento família ao lados dos filhos Romeo, Stefano, Donatella e da cadela Pankeka
Imagem: Arquivo Pessoal


"Antes de dormir todo mundo reza"

Casado há 11 anos, Mion conta que passou a frequentar mais a igreja católica ao ver a fé e satisfação da mulher, mesmo diante de problemas enfrentados.

"A minha constante e cada vez maior relação com a igreja católica tem a ver com o que eu acredito para passar para meus filhos como pai. Tudo faz muito mais sentido no mundo que a gente vive hoje, que eu sei que eles vão ter que encarar, no momento que eu educo eles de acordo com a Bíblia e com a história de Cristo", explica o ator, que fez faculdade de Filosofia e diz que sempre foi questionador.

Pai tradicional, ele faz questão de rezar todas as noites com os filhos e de reunir toda a família à mesa durante o jantar.

"Antes de dormir todo mundo reza, ninguém levanta da mesa até todo mundo acabar de comer, sou um pai que busco essa família muito tradicional. A Suzana me inspira diariamente, ela é o grande alicerce da família, ela é a base, ela que faz essa família funcionar. Muitas vezes estou na parte de quem toma bronca também".

E foi através da fé que Suzana superou de forma positiva a luta contra um câncer da mama este ano.

"Ela está bem, curada, página virada e tenho certeza mais que absoluta que foi Nossa Senhora que passou na frente e a gente conseguiu vencer isso pela nossa fé. A gente passou por coisas muito fortes", conta.

Apesar da cumplicidade com a esposa, o apresentador admite que nem tudo são flores em um casamento, mas acredita que vale a pena superar as dificuldades em nome da família e do amor.

"Eu e a Suzana já passamos por todas as crises que qualquer casal passa, não tem segredo, não existe conto de fadas, mas sempre no final a gente conversa e eu honro o contrato que eu assinei com Cristo como testemunha, com ela, com os pais dela, com meus pais e com os nossos filhos. E isso, tem que fazer qualquer orgulho ficar de lado.  Depois que isso passa, você olha para trás e vê que valeu a pena passar por isso e poder estar junto construindo essa história", conclui.