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Elogiada, Carol Duarte quase desistiu de atuar antes de "A Força do Querer"

A atriz Carol Duarte é Ivana em "A Força do Querer" - João Miguel Júnior/TV Globo
A atriz Carol Duarte é Ivana em "A Força do Querer" Imagem: João Miguel Júnior/TV Globo

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

15/05/2017 04h00

Não é só o público que fica comovido com o dilema de Ivana em "A Força do Querer". A estreante Carol Duarte, 25, garante que se emociona com as sequências, bastante difíceis, da jovem que não se reconhece no próprio corpo.

A cena da estudante, diante de um espelho, incomodada e angustiada com a aparência, e pressionada pela mãe e por todos à sua volta para ser "mais feminina", é uma das que marcaram a intérprete.

"Eu me emociono. É inevitável no nosso trabalho. Ator tem técnica, mas estou diante de um ser humano que está sofrendo, que está angustiado. É engraçado porque a gente fica muitas horas gravando e, quando vou para casa, tenho um tempo, não para desligar, mas para baixar um pouco. Porque você estimula seu corpo a viver tudo isso", explica.

Emocionados também ficam a dentista Maria Ivete, e o marceneiro Romeu, pais de Carol, ao verem o trabalho da filha, que faz teatro desde os 15, em sua estreia no horário nobre. "Eles choraram. Falam com a moça da farmácia, com todo mundo... Minha mãe compra todas as revistas", conta ela, aos risos.

Ivana (Carol Duarte) se incomoda com a própria imagem refletida no espelho em "A Força do Querer" - João Miguel Júnior/TV Globo - João Miguel Júnior/TV Globo
Ivana se incomoda com a própria imagem refletida no espelho
Imagem: João Miguel Júnior/TV Globo

A atriz diz que sempre teve o apoio da dupla para seguir na carreira, mesmo nos momentos de dúvida. Pouco antes da oportunidade de fazer o teste para viver Ivana, quem diria, ela passou por um momento de crise com a profissão. Nesse ínterim, Carol chegou a fazer curso de design de interiores para trabalhar com o pai. "Pois é, foi uma loucura", reconhece.

"Como não tem ninguém da minha família ligada à arte, tinha uma preocupação. Mas meus pais sempre me apoiaram, até no momento em que eu disse: 'Não sei se eu quero mais'. Viver de teatro é muito difícil no Brasil."

"Eu estava começando a ter necessidades práticas que o teatro não estava me dando, por mais que eu fosse apaixonada. Então eu tomei a decisão: vou fazer as peças em que eu acredito e comecei a trabalhar de garçonete, fiz outras cosias para me dar dinheiro. É uma certa frustração. Tinha trancado a escola de artes dramáticas, estava revendo coisas. A vida mistura muita coisa", lembra. 

Carol conta que não pensou se a personagem poderia causar rejeição nem teve medo de ficar estigmatizada em seu primeiro papel na TV. "Pensava em fazer o trabalho bem feito", afirma.

A resposta, no entanto, tem sido ainda melhor do que ela esperava. "As pessoas estão sendo muito carinhosas. Elas compraram a história da Ivana, estão torcendo por ela. Ela é um ser humano que está buscando se achar, independente, de padrões. Fico muito feliz de as pessoas estarem apoiando isso", conta.

A atriz conversou com várias pessoas trans e diz que "absorveu" as histórias delas e, pelo visto, a dedicação tem dado resultado. Além dos elogios da crítica e dos colegas, como Isis Valverde, sua atuação consegue tocar também gente que está passando pela mesma experiência de Ivana.

"Algumas pessoas já me mandaram mensagens dizendo que estão vivendo esse conflito, que dentro de casa está sendo difícil e que a família está assistindo à novela. Isso me deixa muito feliz porque, de alguma forma, dentro daquela casa estão falando sobre isso. Espero que a novela possa contribuir para essa pessoa tomar coragem ou entender o caminho dela e ser feliz", afirma.

Ivana (Carol Duarte) e Joyce (Maria Fernanda Cândido) em cena de "A Força do Querer" - João Miguel Júnior/TV Globo - João Miguel Júnior/TV Globo
Ivana sente que não corresponde às expectativas da mãe, Joyce
Imagem: João Miguel Júnior/TV Globo

Carol torce para que, apesar de toda a pressão e incompreensão de Joyce (Maria Fernanda Cândido), a estudante consiga se acertar com a mãe. "Essas mães existem, essa dificuldade de entender o que o filho está vivendo. Elas ainda são mãe e filha. É difícil lidar com as diferenças, às vezes, mas é possível."

"Toda relação de mãe e filho tem expectativas, projeções. Todos nós vivemos isso em algum momento da nossa vida e todos temos que romper algumas coisas para se descobrir", diz.

Assim como os telespectadores, a intérprete está na expectativa pela transição de Ivana, mas ainda não sabe quando isso acontece, detalhes sobre sua possível transformação no visual ou mesmo um possível interesse amoroso da personagem. 

"Não sei qual é o desejo dela. Acho que ela é apaixonada pelo Cláudio [Gabriel Stauffer], mas as questões dela são anteriores a ele", analisa.

A atriz tece elogios a Gloria Perez, que chama de "uma autora muito corajosa", e diz que espera que o trabalho possa contribuir para a diminuição do preconceito e da violência contra transexuais. "Fico muito honrada de estar fazendo esse papel em 2017."

"Espero que a novela possa abrir os horizontes das pessoas. A novela é mais uma faísca para a gente falar sobre isso, mas a gente tem que conquistar muitas coisas enquanto sociedade. Muitos crimes que acontecem às vezes a gente nem sabe, mas era porque o cara era trans, a mulher era trans. Torço para as pessoas se informarem e diminuírem o preconceito", afirma.