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Repórter com síndrome rara diz que recuperou a voz com oração e volta ao ar

O repórter Arnaldo Duran grava reportagem para o "Domingo Espetacular" da Record - Reprodução/Record
O repórter Arnaldo Duran grava reportagem para o "Domingo Espetacular" da Record Imagem: Reprodução/Record

Paulo Pacheco

Do UOL, em São Paulo

01/02/2018 04h00

Quando o UOL ligou para entrevistar Arnaldo Duran, ele atendeu dizendo: "Pensei que era a Record chamando para gravar". O trabalho voltou à rotina do experiente jornalista, que em 2015 descobriu ser portador da síndrome de Machado-Joseph, também conhecida como ataxia, doença rara e incurável que afeta os movimentos do corpo. O repórter chegou a perder o controle da fala, mas diz ter recuperado a voz após uma oração.

"Quem tem ataxia não consegue pronunciar as palavras. É muito difícil, parece bêbado. Eu não conseguia ler os textos. Poucas pessoas sabem como recuperei a voz. Falei em uma oração para Deus. Agradeci por tanto tempo que usei a voz que ele tinha me dado: 'E é sua. Pode pegar de volta, Senhor'. Falei como se estivesse conversando com ele. Uma semana depois, voltei a falar", conta o jornalista, que diz crer na fé sem religiões.

Ao perceber que conseguia falar normalmente, voltou a dar expediente na Record, onde trabalha há 12 anos. Todos os domingos, ele aparece no quadro "Mitos e Verdades", do "Domingo Espetacular". Arnaldo Duran, que chegou a pensar em aposentadoria após quase 50 anos de carreira (começou ainda adolescente) e passagens por Globo, Manchete e SBT, comemora ter voltado ao ar.

"Faço 'Mitos e Verdades' e me colocaram para narrar uns textos. Eles têm sido muito bons comigo. Sempre colocam um produtor do lado para ajudar. Mas estou indo muito bem com a síndrome de Machado-Joseph. Achei que iria me aposentar, porque não conseguia mais falar. Reaprendi e voltei", celebra.

Jornalista escondeu a doença

O retorno ao trabalho também livrou Duran de um peso na consciência. Durante mais de um ano, ele escondeu seu estado de saúde para a direção da Record, mas sofria para ler textos e sempre segurava uma mala pequena para manter o equilíbrio.

Arnaldo Duran grava texto para o "Domingo Espetacular" - Reprodução/Instagram/arnaldoduran - Reprodução/Instagram/arnaldoduran
Arnaldo Duran grava para o "Domingo Espetacular"
Imagem: Reprodução/Instagram/arnaldoduran
Logo após a morte do ator Guilherme Karan, também portador da síndrome, em julho de 2016, o jornalista decidiu revelar que havia sido diagnosticado com a doença e recebeu o apoio da alta cúpula da emissora.

"Passei daquele sufoco de tentar esconder. Dei muito trabalho para os meus editores. Demorava uma semana para gravar um texto. Não conseguia completar uma frase. Eu tinha que dar uma explicação. Avisei os meus chefes na Record, Douglas Tavolaro e Anael Souza, que em menos de uma hora eu publicaria um vídeo na internet revelando uma doença rara com que fui diagnosticado. A Record me tratou muito bem", relembra.

Tombo ajudou repórter a descobrir síndrome

Duran descobriu ser portador da ataxia em fevereiro de 2015, após levar um tombo em sua casa. No hospital, um médico plantonista desconfiou ser a síndrome rara e chamou um especialista para cuidar do repórter, que recebeu o diagnóstico após uma bateria de exames.

Como não há medicamentos para a doença, Duran se cuida fazendo exercícios de equilíbrio e fonoaudiologia: "Quem tem ataxia pode morrer engasgado com a própria saliva. É uma doença gravíssima. É aconselhável fazer essas coisas todas. Minha vontade atualmente é fazer dança, porque passei em frente a uma academia com dança e acho que pode ajudar a devolver o equilíbrio".

Prestes a completar 61 anos, ele compartilha a evolução da síndrome de Machado-Joseph em sua página no Facebook. Duran acredita ter a responsabilidade de transmitir mensagens positivas para o público que reza por sua recuperação.

"Ando na rua e as pessoas perguntam se podem me abraçar. Que significado que tem isso! Pela internet, me senti na obrigação de ajudar as pessoas. Passou aquele medo que eu tive do futuro incerto, de ficar paralisado, sem conseguir falar nem me movimentar. A doença é degenerativa, mas a ciência não sabe qual a velocidade que ela avança. Creio também na ciência. Creio que Deus vai inspirar cientistas a descobrirem o medicamento para acabar com essa doença", torce.