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"Cine Holliúdy é diversão em momento de Brasil triste", diz Nachtergaele

Matheus Nachtergaele é o prefeito Olegário na série "Cine Holliúdy" - Estevam Avellar/Globo
Matheus Nachtergaele é o prefeito Olegário na série "Cine Holliúdy" Imagem: Estevam Avellar/Globo

Carolina Farias

Do UOL, no Rio

30/04/2019 04h00

"Macho cheio de pompa que manda e desmanda na cidade com uma prepotência diretamente proporcional ao tanto que é frouxo". É assim que o prefeito Olegário é descrito na sinopse da série "Cine Holliúdy", que estreia no dia 7 de maio. Quem interpreta o tipo é Matheus Nachtergaele, que conversou com o UOL no lançamento da produção na manhã de ontem.

"É uma série divertidíssima das duas coisas lindas que temos no Brasil: o que une o cinema mais alternativo que acontece no Nordeste e a televisão mais bonita do mundo, que é a brasileira quando é boa", disse o ator sobre a série de Marcio Wilson e Claudio Paiva, baseada nos dois longa-metragens homônimos escritos e dirigidos por Halder Golmes.

Matheus explica que seu personagem é um político corrupto caricato, uma crítica à cena política nacional.

"É um homem com todos os cacoetes divertidos e terríveis que há muitos anos criticamos na política brasileira. Ele é corrupto, mentiroso, interesseiro, violento, cafona, ignorante, machista, mas é completamente apaixonado pela mulher, que é a parte encantadora dele. É uma série de diversão em um momento de um Brasil triste", desabafou o ator e uma crítica à situação da cultura no país.

Além da extinção do Ministério da Cultura, no último dia 22 o governo federal anunciou novas regras para a Lei de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet. A principal delas é a diminuição do valor do teto - de R$ 60 milhões para R$ 1 milhão - de projetos incentivados.

Para o ator, o setor artístico sofre perseguição porque porque as artes estimulam o pensamento. "A sensação é de ré, uma vingança contra as liberdades que o ser humano conquistou, não só o brasileiro. Uma coisa morta que tenta dar o último suspiro, é o que está acontecendo agora sob a égide desse governo. Obviamente as artes como fazem refletir, libertam e fazem sonhar acabam perseguidas. Então diminui-se possibilidade de captação."

No dia 15 a Petrobras decidiu não renovar o patrocínio de 13 eventos culturais deste ano, incluindo festivais de cinema internacionais como a Mostra de São Paulo, o Festival do Rio e o Anima Mundi.

Em fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) já havia anunciado no Twitter sua intenção de reduzir drasticamente todos os aportes a eventos culturais no país, levando temor de desmonte a grupos artísticos. Segundo ele, o objetivo é focar os recursos em educação infantil e na manutenção do empregado à Orquestra Petrobras.

"O cinema provavelmente vai passar, infelizmente, por período de recessão. Teatro vai ter que ser feito com menos grana, mas a gente sempre sobreviveu a isso. Mas não podemos entristecer", diz Nachtergaele.

De volta às novelas

Prefeito Olegário (Matheus Nachtergaele) de "Cine Holliúdy" - Marcos Rosa/Globo - Marcos Rosa/Globo
Prefeito Olegário (Matheus Nachtergaele) de "Cine Holliúdy"
Imagem: Marcos Rosa/Globo
Sem fazer uma novela na Globo desde 2013, quando interpretou Seu Encolheu no remake de "Saramandaia", Matheus aceitou um convite para fazer uma nova das 18h, mas não revelou detalhes.

"Evito novelas, não por preconceito contra o gênero, mas é que faço muito teatro e cinema. Novela ocupa tempo muito grande, às vezes não consigo aceitar. A novidade é que topei uma. Vai começar a pré [preparação] no fim do ano e estreia ano que vem, não vou dar detalhes porque é cedo, mas já está topado".

Paulistano, o ator, que está com 51 anos, tem uma lista de personagens nordestinos em seus mais de 20 anos de carreira na TV e no cinema.

"Os nordestinos estão na minha vida de uma maneira bonita. Eu, um burguês, paulistano, filho de belga, brinco que o Nordeste me tirou dessa posição, me colocou no coração dos brasileiros e os brasileiros no meu coração. Através do Nordeste, entendi mais ou menos quem nós somos fora daquele meu mundo que era São Paulo, do teatro. Viajando pelo Nordeste para gravar, filmar e também fazer teatro entendi mais quem nós somos".