Topo

Whindersson 2.0: a vida e projetos depois da depressão

Marcela Ribeiro

Do UOL, no Rio

26/11/2019 04h00

Ele tem apenas 24 anos e três vezes mais do que a população inteira de Portugal em seguidores apenas no Instagram, 36,7 milhões, sem contar os milhões no Youtube e Twitter. Por conta de uma vida agitada e repleta de compromissos, Whindersson precisou dar uma pausa de quatro meses na carreira esse ano para tratar uma depressão. Voltou aos palcos há dois meses e se apresentou para mais de 10 mil pessoas no último domingo (24) no Rio de Janeiro. A volta, no entanto, segue acelerada, como era sua vida antes, com agenda cheia de shows e turnê fechada para os Estados Unidos em fevereiro e março de 2020 com 20 apresentações.

"Tirei umas férias grandes, peguei um atestadão de quatro meses, fiquei sem fazer nada, ficava o dia todinho assistindo televisão e caminhando dentro de casa feito besta. Foi muito bom ter esse tempo, aproveitar o meu dia e olhar dentro da minha própria casa", contou ele sobre o período recluso para tratar o problema emocional - acentuado por uma vida estressada, com direito a muitas postagens nas redes sociais e viagens pelo Brasil e mundo para fazer shows, além de gravações de filmes e série para TV.

A volta do que não foi

Whindersson Nunes  - Mariana Pekin/UOL) - Mariana Pekin/UOL)
Whindersson Nunes segue com a agenda lotada após depressão
Imagem: Mariana Pekin/UOL)

O show A Volta do que Não Foi durou pouco mais de uma hora e entre os assuntos abordados pelo comediante estão: a própria depressão, o "problema no c*", segundo ele causado por estresse, no qual ele precisou passar por uma cirurgia, com pós operatório dolorido: "As pessoas acham que foi hemorroida, mas não, foi um abcesso causado por estresse, pensei que meu c. fosse explodir", diz, arrancando gargalhadas do público. Algumas experiências de viagens pelo mundo com a mulher, a cantora Luísa Sonza e a vida no interior também são citadas. No imenso palco, com bermuda, blusa de malha e o cabelo preso, o comediante se vira sozinho, fala acelerado, imita sons, arranca gargalhadas com seus gestos e formas de caminhar ao falar do comportamento do "velho do interior" ou narrar sua experiência em um safári na África.

Horas antes, o piauiense recebeu o UOL no hotel em que estava hospedado e falou sobre seu problema emocional, agenda cheia e casamento. Há um ano e nove meses, Whindersson e Luísa Sonza disseram sim em uma cerimônia repleta de famosos em Alagoas. A cantora de 21 anos chegou a desabafar no Twitter que após a depressão do marido, recebeu inúmeras mensagens de fãs pedindo para que ela "presenteasse" o marido com um filho. O comediante falou o que pensa sobre a pressão da sociedade para que eles, mesmo tão jovens, tenham logo herdeiros e não está preocupado com isso.

Luísa Sonza e Whindersson Nunes no Caribe - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Luísa Sonza e Whindersson Nunes no Caribe
Imagem: Reprodução/Instagram

"A gente é muito bem resolvido com a gente mesmo. O pessoal pode falar o tanto que for: 'ela disse que não quer ter filho'. Nunca disse isso. Ela falou que que é muito nova, pra que vai ter agora? Eu sempre tive vontade de ter filho, mas imagina ter um filho agora?", pondera.

O Youtuber quer ter mais tempo para curtir a vida a dois, antes de pensar em aumentar sua filha. "Imagina eu viajando para os Estados Unidos e a mulher fica aí? Tem que cuidar, estar junto. Não é cumplicidade? A gente conversou que é muito melhor a gente dar tempo, fazer nosso trabalho, juntar pé de meia, curtir muito", explica.

O casal já tem três filhos de quatro patas: Amora, Regina e Gisele e já encontra dificuldade de se separar dos bichos quando viaja: "A gente já fica morrendo com cachorros. Como vamos levar os cachorros para a Tailândia? Imagina nove horas embebedado [dopado] dentro do avião, é judiação. Aí a areia para ele lá é a mesma para o Piauí. A gente já fica com o coração apertado, imagina tendo um filho?", analisa.

Milionário em mundo desigual

Whindersson Nunes - Mariana Pekin/UOL - Mariana Pekin/UOL
Whindersson Nunes
Imagem: Mariana Pekin/UOL

Há pouco tempo, Whindersson comentou no Twitter como era bom ser milionário. Mas, quando precisou se afastar para tratar a depressão, preferiu se recolher, voltar para sua raízes e passar um período com os pés no chão e mais simples em Bom Jesus, no interior do Piauí.

Apesar do dinheiro ser bem visto por ele, foi justamente a proximidade da desigualdade social que desencadeou a depressão no comediante. Durante uma viagem para Moçambique, pouco tempo depois do país ser atingido pelo ciclone Idai, que deixou centenas de mortos e desabrigados, ele admite que ficou abalado com o que viu.

"Essa foi uma das coisas que fez eu ficar mal no momento da depressão que foi justamente quando voltei da cidade de Beira, lá em Moçambique. Fiz até um show em Maputo e não consegui nem trazer esse dinheiro, eu pensava tanto que eu falava: 'não tem condição de levar isso do povo, pelas coisas que vi'. Fiquei pensando nisso. Vi muito extremo", lembra.

"No Brasil tem miséria, muita gente pergunta por que vai fazer isso lá fora se no Brasil também tem? Vejo que aqui ainda tem uma comida, de lá é aterrorizante. Não quero dar só o que me resta, quero ser uma pessoa que faz alguma coisa", completa.

O desejo de criar projetos que ajudem crianças ainda é uma ideia que ele pretende tirar em breve do papel.

"Estou trabalhando pra ver essa questão de fundar algo que de fato mude a realidade de uma galera de uma vez só. Não digo nem um instituto. Nem sei como falar porque hoje em dia você não pode falar o nome de nada porque tudo dizem que ganha dinheiro e desvia. Mas tenho vontade de criar um projeto que prepare crianças a serem adultos melhores", explica.

Financiar pesquisas científicas também está em seus planos. "Gosto que as pessoas entendam que tudo o que a gente tem hoje, muita gente luta para fazer uma pesquisa, para que de fato a gente saiba, por exemplo, a cura do câncer".

2020 acelerado

Whindersson começa o próximo ano como estava antes da pausa: acelerado. Em janeiro grava a terceira temporada do humorístico Os Roni, exibido no canal Multishow e fará sua turnê em fevereiro e março pelos Estados Unidos, onde passará por Los Angeles, San Diego, Chicaco, Orlando, Atlanta, dentre outros.

Mas ele pretende diminuir o ritmo no segundo semestre. "No próximo ano estou afim de me aquietar um pouquinho. Quero trabalhar muito no início, mas no final dele queria parar um pouco com show porque é o que mais toma tempo. Todo tempo estou voando, chegando ou saindo de algum lugar", explica ele, já tentando adiar uma possível pausa para daqui a dois anos.

"2020 vai ser acelerado. 2021 vai ser mais devagar, aí vai ser mais internet mesmo, rede social, vou continuar trabalhando, só que mais perto de casa porque viajando o tempo todo é difícil", completou.